As dores abdominais que levaram o presidente Jair Bolsonaro a ser internado nesta quarta-feira (14) no Hospital das Forças Armadas, em Brasília, e posteriormente encaminhado para São Paulo são resultado de uma obstrução intestinal. O problema é potencialmente grave, mas evolui bem, na maioria das vezes, se houver tratamento adequado.
A obstrução intestinal ocorre quando há uma interrupção da passagem de ar, líquido ou fezes no intestino. Com esse bloqueio, o paciente não consegue evacuar ou eliminar gases. A equipe médica de Bolsonaro informou que o problema é decorrente da facada que ele levou no abdômen em 2018.
De lá para cá, o presidente já foi submetido a seis cirurgias, e uma sétima pode ser necessária para tratar a obstrução intestinal. Segundo o médico Fernando Wolff, chefe do Serviço de Gastroenterologia e Cirurgia do Aparelho Digestivo do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, são justamente os procedimentos cirúrgicos os responsáveis pela formação de aderências no intestino, quando uma parte do órgão fica grudada na outra ou mesmo na parede do abdômen, causando a obstrução.
— Com isso, se forma um ângulo muito agudo em que o intestino se dobra. Em vez de ficar solto, o intestino acaba se torcendo ou fazendo angulação que impede a passagem do conteúdo, como uma mangueira dobrada — explica o especialista.
O tratamento mais comum é a introdução de uma sonda no estômago para tirar o excesso de ar e líquido. O paciente entra em jejum, com hidratação intravenosa, e deve ficar em observação por até 48 horas. É o tempo necessário para ver se o trânsito no intestino é retomado. Caso isso não ocorra ou se houver evidências de sofrimento do intestino, a pessoa é submetida à cirurgia — o que pode levar a uma repetição do problema.
— Quanto mais cirurgias se faz, mais riscos há. Digamos que o paciente faça uma cirurgia para desfazer essas aderências. A tendência é que se formem mais aderências. Uma pessoa que já teve outras obstruções segue em risco de voltar a tê-las. Por isso, tenta-se não operar logo. Quanto mais se mexe, mais aderências se formam. A cirurgia, quando necessária, consiste em desfazer aderências, liberando o intestino. Em alguns casos, se houver sofrimento de alguma parte do intestino, ela pode precisar ser retirada. Mas tenta-se operar antes que algum segmento do intestino esteja comprometida — detalha Wolff.
Em boa parte dos casos, no entanto, a obstrução intestinal é tratada sem necessidade de cirurgia.
— A grande maioria dos pacientes resolve bem e sem precisar de cirurgia. Alguns precisam de cirurgias. Quem é operado a tempo, costuma se sair bem — diz o médico.
Em nota, o Palácio do Planalto informou que, em São Paulo, o presidente será submetido a exames para definir se há ou não necessidade de uma cirurgia de emergência.