Criado às pressas pelo governo do Rio Grande do Sul para viabilizar a volta das aulas presenciais, o sistema 3As de gestão da pandemia completa nesta quarta-feira (16) um mês de aplicação colhendo, por um lado, maior agilidade na análise dos indicadores e, por outro, dificuldades regionais para reverter cenários de crise. Das 21 regiões do Estado, 14 estão em alerta (nível máximo de risco), e oito delas sofrem cobranças do Palácio Piratini para que adotem restrições mais efetivas.
Desde a última sexta-feira (11), o Palácio Piratini passou a cobrar diretamente dos prefeitos medidas mais duras nessas regiões em alerta e que não estão tendo sucesso na reversão da crise sanitária.
— Tivemos, de fato, planos de ação em nível local que não satisfizeram, sob o olhar técnico, diante da gravidade do que a gente observa nas regiões. Por isso, determinei que as nossas equipes se reunissem com os grupos de prefeitos dessas regiões mais críticas. Até aqui, estou satisfeito com o modelo — avaliou o governador Eduardo Leite sobre o primeiro mês do novo sistema.
Já receberam o “puxão de orelha” do Palácio Piratini os gestores das regiões de Cachoeira do Sul, Cruz Alta, Erechim, Palmeira das Missões, Passo Fundo, Santa Rosa e Ijuí. Na sexta-feira (18), será a vez dos prefeitos da região de Caxias do Sul.
No sistema 3As, o governo do Estado foca a sua energia na análise diária dos indicadores, emitindo dois comunicados de risco: os avisos para as regiões com leve piora e os alertas para as zonas de crise sanitária. Diferentemente do modelo anterior, agora a decisão sobre quais medidas adotar para frear o coronavírus cabe aos prefeitos, e não mais ao governador do Estado.
Caso o governo do Estado entenda que alguma das regiões não está dando conta de reverter a crise local, pode aplicar a chamada “intervenção” e retomar o controle sanitário da região. Por ora, o governo do Estado evita trabalhar com esse cenário, que geraria conflito junto aos prefeitos.
— Não trabalhamos com intervenção até que esteja esgotada a possibilidade de entendimento (com prefeitos). Espero que não seja o caso de o Estado intervir — disse Leite.
Ocupação das UTIs acima de 90%
O primeiro mês do sistema 3As se completa com 11 das 21 regiões do Estado com ocupação de unidades de terapia intensiva (UTIs) acima de 90%. Estão no nível crítico as zonas de Cachoeira do Sul, Palmeira das Missões, Passo Fundo, Caxias do Sul, Santo Ângelo, Uruguaiana, Lajeado, Santa Cruz do Sul, Erechim, Santa Rosa e Guaíba. O boletim emitido na tarde desta quarta-feira pelo governo também mostra 19 das 21 regiões com agravamento no indicador semanal de novos casos.
Enquanto o antigo modelo de bandeiras atualizava o mapa de risco uma vez por semana, o atual sistema 3As revisa os indicadores diariamente. Lucia Pellanda, epidemiologista da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), comemora esse avanço na avaliação dos indicadores, mas aponta que o novo sistema não está dando conta de reverter os cenários críticos.
— A qualidade da informação melhorou bastante. Mas isso não está chegando na ponta, na ação. Só a informação, sem ação, não é suficiente para melhorar a realidade. Comparando o sistema 3As a um paciente, é como se fizéssemos um bom diagnóstico mas não fizéssemos nada para tratar o paciente. Em termos de resultados, não estamos vendo uma mudança importante nas regiões com alerta — avalia a epidemiologista.
Lucia também diz que o novo sistema falha na comunicação dos níveis de risco:
— Minha maior preocupação, de novo, é na comunicação. As pessoas não estão se dando conta da gravidade da situação. Praticamente todas as regiões estão no que antigamente seria a bandeira preta. E agora, sem a comunicação por bandeiras, as pessoas pensam que o risco passou. Temos que ver redução de novos casos e de internações.
O infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre Alexandre Zavascki alerta que, após um mês de novo sistema, os indicadores seguem em patamar elevadíssimo no Estado. Para ele, um modelo eficiente precisaria ter metas claras de redução de casos.
— O sucesso, entre aspas, do novo sistema foi normalizar os casos e mortes por covid-19 na vida das pessoas. Se pegar qualquer indicador, a gente vai ver que está pior do que os piores momentos de 2020. Lamento esta estabilização em níveis tão ruins. Temos níveis de casos, de hospitalizações e de mortes muito altos. O modelo precisa estabelecer metas, onde quer chegar. E, aparentemente, esse modelo caminha sem uma direção. A única direção é não piorar muito, aparentemente. Vai se mantendo em nível estável e vai se tocando a vida. Parece que estão apostando todas as fichas na vacinação — afirma Zavascki.
Em termos de indicadores estaduais, são mais de 2,5 mil pacientes com covid-19 internados em leitos clínicos. Esse número subiu cerca de 50% desde a metade de maio e, na última semana, dá sinais de recuo.
Outro indicador estadual que também está em patamar elevado é o de casos confirmados. A incidência acumulada de novas contaminações atingiu, na última semana, o maior valor desde o início de abril.
Veja as regiões que estão em alerta no sistema 3As.
- Região de Cachoeira do Sul — em alerta desde 18/5/2021
- Região de Passo Fundo — em alerta desde 18/5/2021
- Região de Santo Ângelo — em alerta desde 18/5/2021
- Região de Cruz Alta — em alerta desde 18/5/2021
- Região de Ijuí — em alerta desde 18/5/2021
- Região de Uruguaiana — em alerta desde 20/5/2021
- Região de Santa Rosa — em alerta desde 20/5/2021
- Região de Palmeira das Missões — em alerta desde 20/5/2021
- Região de Erechim — em alerta desde 26/5/2021
- Região de Santa Maria — em alerta desde 26/5/2021
- Região de Pelotas — em alerta desde 26/5/2021
- Região de Caxias do Sul — em alerta desde 26/5/2021
- Região de Santa Cruz do Sul — em alerta desde 2/6/2021
- Região de Bagé — em alerta desde 9/6/2021