Não caiu nada bem entre prefeitos gaúchos a iniciativa do governo do Estado de premiar os municípios que avançarem mais rapidamente na vacinação contra a covid-19. Anunciada como uma benesse pelo governador Eduardo Leite, associações de prefeitos entendem que a premiação passa a ideia para a população de que a vacinação está lenta por incompetência dos municípios e que o pagamento de prêmios pode destravar a aplicação de doses.
Maneco Hassen, presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), relata que os 27 prefeitos que representam as regionais da entidade foram unânimes em criticar a iniciativa de Leite.
— Em que pese a boa intenção do governador, a premiação passa para a sociedade uma imagem absolutamente errada de que o atraso na vacinação é culpa dos municípios. E é o contrário. O Rio Grande do Sul está ponteando o ranking nacional entre os Estados exatamente por causa dos municípios gaúchos, que são ágeis na vacinação. Precisamos mesmo é de mais vacina. E falta ao governador cobrar mais o governo federal nesse sentido — disse Hassen.
Para marcar posição contra a iniciativa, a Famurs prepara uma nota conjunta criticando a premiação do governo do Estado. O documento deve ser emitido ainda nesta quinta.
— Tenho certeza de que a intenção do governador com o prêmio foi a melhor possível. Mas, ao incentivar a competição, o governador está dizendo à população que o município precisa de um prêmio em dinheiro para fazer o seu trabalho. O nosso problema é falta de vacina — ressalta Hassen.
O prefeito de Boa Vista do Buricá, João Sehnem, que representa a Associação dos Municípios da Fronteira Noroeste, diz que em um momento de falta de vacinas, a postura do governo do Estado só acirra os ânimos nos municípios.
— Não é o momento para isso. Até entendo que o governador tem boa intenção, porém nossa preocupação é receber vacinas. Até o dia 30, segundo o cronograma do governo, temos de vacinar a faixa etária até 50 anos, mas não temos doses. Eu venho recebendo muita crítica da área da saúde, que quer vacinar, mas às vezes passamos dois dias sem nenhuma vacina. É praticamente jogar a responsabilidade para cima dos prefeitos — diz Sehnem.
O governador Eduardo Leite anunciou duas rodadas de premiações em dinheiro para os municípios que aplicarem mais rapidamente as doses que receberam. A medida prevê a distribuição, em duas rodadas: R$ 625 mil no dia 20 de julho e outros R$ 625 mil em 20 de agosto. O ranking, segundo a Secretaria Estadual da Saúde, vai considerar o percentual de doses aplicadas sobre doses disponibilizadas.
Confira a nota da Famurs:
"A Famurs, em assembleia na tarde desta quinta-feira (24), exalta a intenção do governador do Estado de fazer o que chamou de 'corrida do bem', uma iniciativa de premiar com quantias em dinheiro os municípios que atingirem os maiores índices de vacinação. Ocorre que, desde o início do processo de vacinação, nosso estado tem sido o que mais vacina no Brasil, mérito dos municípios e, especialmente, das equipes de saúde das cidades gaúchas.
A ideia do prêmio na prática é tentar mostrar que o governo do Estado precisa intervir para impulsionar a vacinação. No entanto, os municípios têm sido muito ágeis neste tema. Ao incentivar uma 'corrida do bem' o governador passa para a sociedade, mais uma vez, que o atraso na vacinação é culpa dos municípios. E não é.
Temos que deixar claro que a demora em vacinar não é culpa das administrações municipais, mas sim da falta de doses suficientes para imunizar toda a população gaúcha. As prefeituras estão fazendo, desde o início da pandemia, a sua parte. Sem vacilação. Com iniciativa e altivez. E com início da vacinação, ainda mais!
Portanto, além de incentivar a velocidade na vacinação, o Governo do Estado deveria, como já solicitamos em outra oportunidade, exigir mais vacinas. Para acelerar a vacinação, como deseja o Estado e as 497 prefeituras do Rio Grande do Sul, é preciso ter mais vacinas".