A campanha de vacinação contra a covid-19 reduziu em mais da metade a proporção de mortes entre pessoas de 80 anos ou mais no Brasil, aponta estudo liderado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Em janeiro de 2021, o grupo etário analisado respondia por 28% dos óbitos — em 2020, manteve-se em patamares entre 25% e 30% do total de vítimas fatais. Após o início das imunizações, em janeiro, a taxa passou a sofrer queda progressiva, recuando para 13% no final de abril, o menor percentual já registrado para a faixa etária desde o início da pandemia.
Mesmo em período de circulação da variante P.1, mais contagiante e letal, os imunizantes aplicados no país — CoronaVac e Oxford/AstraZeneca — estão se mostrando eficazes para a população idosa, a mais vulnerável ao coronavírus, aponta a pesquisa.
O estudo da UFPel, produzido em parceria com a Universidade de Harvard, estima que a vacinação já evitou 13.824 mortes de pessoas com 80 anos ou mais. Para chegar nesse número, os pesquisadores calcularam quantos óbitos teriam ocorrido caso os indicadores de letalidade tivessem se mantido nos mesmos patamares de antes da campanha de vacinação.
— A grande pergunta do momento é se as vacinas que temos no Brasil são eficazes contra a variante P.1. É a que mais está circulando no país. O importante é que os resultados do estudo sugerem a eficácia das vacinas contra a P.1 — assegura o epidemiologista Cesar Victora, líder do estudo da UFPel.
O pesquisador destaca que, em um cenário nacional de dificuldade para implementação de medidas básicas de distanciamento social e prevenção, como o uso de máscara, a vacina emerge como o caminho mais viável para controlar a pandemia.
— O ideal seria fazermos o distanciamento, mas isso não está acontecendo. A vacina é a salvação. Vale salientar que a queda de óbitos já foi observada desde a primeira dose. A redução observada a partir de fevereiro foi em pessoas que só tinham recebido a primeira dose — diz Victora.
Apesar dos indicativos de sucesso, ele destaca que não há imunizante capaz de impedir absolutamente todos os óbitos. Após o início da aplicação dos antídotos, tornaram-se corriqueiros os questionamentos sobre mortes de pessoas depois de terem feito a vacinação completa ou uma das doses previstas. Em alguns casos, os episódios alimentaram especulações de descrença.
— Nenhuma vacina no mundo é 100% eficaz, sempre foi assim. A da Pfizer tem 95% de eficácia, mas existem os outros 5% — explica o pesquisador da UFPel.
Outro achado do levantamento foi que, antes da campanha de imunização, idosos de 80 anos ou mais tinham taxa de mortalidade 20 vezes maior do que os grupos etários anteriores. Em abril, a letalidade por covid-19 nesse público foi sete vezes maior do que nos demais.
— Ainda morre mais gente (entre idosos), mas diminuiu consideravelmente. Atribuímos isso à vacinação — diz Victora.
Para chegar às conclusões do estudo, os pesquisadores contaram com dados sobre a cobertura vacinal e um banco de dados fornecido pelo Ministério da Saúde em que constam detalhes de 377 mil mortes registradas no Brasil desde o início da pandemia até 22 de abril deste ano, como sexo, idade e região de residência. A análise indicou que, depois de iniciada a campanha de imunização, houve queda de óbitos dentre os idosos em todas as regiões do país.