Que fumar faz mal para a saúde todo mundo sabe, mas, diante de uma pandemia causada por um vírus que desencadeia problemas respiratórios e já matou mais de 3,5 milhões de pessoas em todo o mundo, romper com o tabagismo se torna ainda mais necessário. Nesta segunda-feira (31), Dia Mundial Sem Tabaco, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que fumantes têm 40% a 50% mais chance de desenvolver uma doença grave ou morrer por covid-19.
Conforme o médico pneumologista Luiz Carlos Corrêa da Silva, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, é previsível que casos mais graves sejam registrados entre tabagistas:
— De modo geral, as viroses, quando acometem os fumantes, têm um impacto maior. No caso da covid-19, eles também têm maior predisposição a contrai-la, já que precisam tirar a máscara para fumar e levam mais vezes a mão ao rosto — relata.
Além do maior risco por esses momentos sem máscara e levando a mão à boca, os tabagistas também têm em seu organismo uma maior quantidade de enzimas que facilitam a adesão do coronavírus à célula epitelial humana. Estudo do Laboratório Cold Spring Harbor, nos Estados Unidos, mostrou que a fumaça do cigarro estimula os pulmões a produzirem mais enzimas ACE-2, utilizadas pelo vírus para “se agarrar” às células humanas. A boa notícia é que a produção dessas enzimas cai de forma drástica, após alguns dias sem que a pessoa fume.
Na contramão da tendência de adotar hábitos mais saudáveis para melhorar a imunidade e enfrentar o vírus, uma pesquisa feita em maio de 2020 pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) demonstrou que 34,3% dos fumantes aumentaram o consumo de cigarros – 22,8% em 10 unidades, 6,4% em até cinco e 5,1% em 20 ou mais.
— Vínhamos observando no mundo todo uma queda anual no tabagismo, mas, atualmente, tem sido relatado um aumento no número de cigarros, devido a questões como o isolamento e a ansiedade. O fumante acha que, fumando, vai se acalmar e enfrentar melhor seu dia a dia, mas isso é ilusório: a nicotina tem efeitos químicos, mas não é necessária para um ajustamento da ansiedade ou da depressão — afirma Corrêa da Silva, destacando, ainda, que as pessoas confundem questões psicológicas com químicas.
O pneumologista convida os fumantes e usarem o Dia Mundial Sem Tabaco como um Dia D, que marque o início do combate ao vício pelo cigarro:
— As pessoas têm de tomar uma decisão de vida. Está mais do que provado que fumantes perdem de 12 a 15 anos de vida e têm uma qualidade de vida pior. A dependência do cigarro não causa sofrimento só ao tabagista, mas a todos que o amam.
Outra preocupação entre os médicos, atualmente, é a baixa procura das pessoas por serviços de saúde, que prejudicam os cuidados com doenças crônicas e retardam o diagnóstico de câncer, gerando casos mais graves. Corrêa da Silva diz que, para além de seguir os protocolos sanitários, cuidar de outros aspectos da saúde também é cuidar da vida.
Tratamento ao tabagismo pelo SUS
O Sistema Único de Saúde (SUS) conta com serviços que apoiam no tratamento ao tabagismo. O atendimento ocorre nas unidades básicas de saúde (UBS) dos municípios. Para ter acesso, o usuário deve procurar o posto mais próximo e buscar orientação e encaminhamento para os serviços existentes. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail tabagismo@saude.rs.gov.br.
Devido à pandemia, contudo, nem todos os serviços estão funcionando. Em Porto Alegre, desde 2017, todas as unidades de saúde eram capacitadas para oferecer tratamento contra o fumo. Entretanto, desde o começo da pandemia, o serviço foi interrompido. Não há previsão de retomada para eles.
Riscos do cigarro
O fumo é causador direto de mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica (bronquite e enfisema), por diversos tipos de câncer (pulmão, boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga, colo de útero, estômago e fígado), por doença coronariana (angina e infarto), cerebrovasculares (acidente vascular cerebral). Também aumenta o risco para desenvolver outras doenças, como tuberculose, infecções respiratórias, úlcera gastrintestinal, impotência sexual, infertilidade em mulheres e homens, osteoporose, catarata, entre outras.