Os principais hospitais de Porto Alegre começam a preparar a retomada gradual da realização das cirurgias eletivas. Desde o início da pandemia do coronavírus, as instituições de saúde da Capital contabilizam queda superior a 50% nesse tipo de procedimento.
A piora nos índices de ocupação hospitalar provocada pelo agravamento da pandemia a partir de fevereiro fez com que o Centro de Operação de Emergência (COE) do Estado sugerisse o cancelamento ou suspensão dessas operações. O objetivo é garantir equipamentos e leitos aos pacientes com a covid-19.
As cirurgias eletivas estão divididas entre essenciais ou não-essenciais. Conforme o professor Brasil Silva Neto, adjunto cirúrgico da diretoria médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, as essenciais continuaram ocorrendo em menor número. Os procedimentos precisam ser realizados em até oito semanas e envolvem cirurgias oncológicas, cardiovasculares e fraturas, por exemplo. Já as não-essenciais, que podem esperar além de dois meses, tiveram a suspensão mais significativa desde o início da pandemia.
— O principal motivo é que nunca houve um arrefecimento consistente da taxa de ocupação dos leitos críticos utilizados por pacientes com covid-19. A ocupação apresentou oscilações, mas sempre dentro de um patamar alto — explica o professor.
No Clínicas, considerado referência no tratamento a pacientes com covid-19, a redução no número de cirurgias eletivas é de 51,8% no primeiro trimestre de 2021 em relação ao mesmo período do ano passado. No Hospital Nossa Senhora da Conceição, que também integra as instituições de referência contra a pandemia, a queda foi de 45% no mesmo período.
— A retomada plena da cirurgias eletivas está diretamente ligada à quantidade de leitos de tratamento intensivo que temos disponíveis na instituição. No entanto, estamos com nossas UTIs quase com a sua totalidade com pacientes covid — explica o diretor-presidente do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Cláudio Oliveira.
Oliveira relembra que, em agosto do ano passado, foi possível retomar grande parte dos procedimentos eletivos:
— O bloco cirúrgico estava operando a pleno até o final de novembro. Mas isso foi o problema, pois tínhamos muitos pacientes não covid nas UTIs e os casos da doença aumentando muito no começo de dezembro.
Outro fator que coloca em xeque a realização desses procedimentos é a falta de insumos. Além da dificuldade para encontrar medicamentos essenciais para sedar e entubar pacientes, os hospitais apontam o aumento no valor dos fármacos por conta da pandemia.
O Hospital São Lucas da PUCRS informou uma queda 61% nos procedimentos eletivos em março deste ano na comparação com o mesmo mês de 2020. A instituição disse ainda que reduziu os procedimentos, principalmente durante os períodos de maior agravamento da pandemia, quando houve suspensão total dessa modalidade, mantendo somente as cirurgias de urgência e emergência
"Neste momento em que ainda há riscos e escassez de vários recursos que dão suporte ao retorno da normalidade, mantemos uma conduta cautelosa de avaliação caso a caso quanto à necessidade de realização da cirurgia, levando em consideração fatores como gravidade e criticidade de cada paciente, preservando a saúde e a vida", disse por meio de nota.
Já o Hospital Moinhos de Vento informou que a redução das operações no centro cirúrgico chegou a 54% no mês de março deste ano.
— Praticamente paramos as cirurgias eletivas desde o início da pandemia e realizamos apenas aquelas de urgência que chegavam pela emergência ou de pacientes internados. Seguimos ainda com as cirurgias que chamamos de tempo-dependentes, como pacientes com câncer, por exemplo — informou o médico Artur Pacheco Seabra, chefe do Serviço de Cirurgia Geral da instituição.