Em 2 de abril, a assessoria de imprensa do ator e comediante Paulo Gustavo, 42 anos, informou que ele havia apresentado piora da função pulmonar devido à covid-19, sendo submetido a terapia por ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorpórea), que é utilizada por alguns hospitais para o tratamento de pacientes em estado grave e com grande comprometimento respiratório em decorrência da doença. Em entrevista à Rádio Gaúcha nesta sexta-feira (9), o cirurgião torácico gaúcho Marcelo Cypel, que mora e trabalha no Canadá, explicou como funciona essa tecnologia e em quais situações pode e deve ser usada.
De acordo com o médico, a ECMO funciona como uma diálise — técnica utilizada em pessoas com insuficiência renal para substituir a função dos rins —, atuando em substituição à atividade pulmonar. No entanto, trata-se de um procedimento bem mais complexo do que a diálise:
— Você tem que colocar alguns desses tubos até o coração, através de veias grandes no pescoço e na virilha. Esses tubos retiram sangue e o enviam à membrana, que oxigena e manda de volta para o paciente.
A terapia é usada basicamente em pacientes em estado grave, quando a ventilação, mesmo enviando o máximo de oxigênio, já não está dando conta. Segundo Cypel, essa tecnologia é limitada devido ao custo, ao número de máquinas e dispositivos disponíveis e também ao número de profissionais que sabem utilizá-la adequadamente. Além disso, o tratamento também exige a participação de uma equipe grande para cada paciente que a usa.
— Tem que ser selecionado o paciente que, na visão dos médicos, vai se beneficiar mais dessa tecnologia. É uma terapia que aumenta os riscos de complicações se os profissionais não sabem utilizar da forma adequada — salientou.
Perfil dos pacientes
O médico ressaltou que os pacientes com covid-19 selecionados para esse tratamento têm, normalmente, menos de 65 anos e não apresentam muitas comorbidades. De acordo com ele, também é muito importante que a terapia seja utilizada nos primeiros 10 dias em que o paciente está em ventilação:
— Não adianta você pegar um paciente que está há um mês no ventilador e colocar esse tipo de dispositivo, pois não dará benefício a ele. Aquele pulmão que já está há quatro semanas no ventilador tem chances bem mais baixas de se recuperar, então, por isso, o uso no início tem um resultado bem melhor.
Cypel afirmou ainda que, em geral, em torno de 55% dos pacientes com covid-19 que utilizam a ECMO em centros grandes conseguem receber alta do hospital. Os outros 45% representam pacientes que costumam morrer por complicações em outros órgãos afetados pela doença. Existe também um subgrupo pequeno de pacientes que permanecem estável com o equipamento, mas os pulmões não se recuperam.
— Existe o paciente que está há dois ou três meses em ECMO e que o pulmão está completamente destruído, mas ele está acordado e bem. Nessa situação, nós consideramos o transplante pulmonar — explicou.
Há em torno de cinco ou seis programas no mundo que, atualmente, estão fazendo transplante de pulmão para casos de covid-19, salientou o médico, ao contar que o último paciente transplantado da instituição onde trabalha estava há três meses na unidade de terapia intensiva (UTI) devido à doença e, 20 dias após a operação, recebeu alta:
— É uma terapia que salva vidas, mas enfatizo que, ao redor do mundo, até hoje, fizeram somente cerca de 45 transplantes de pulmão para casos de covid. É um grupo muito pequeno de pacientes específicos, mas não tem um impacto de saúde pública grande, por isso que a prevenção continua sendo a melhor estratégia.
Pandemia no Canadá
Durante a entrevista, Cypel também falou sobre a situação da pandemia no Canadá. Segundo ele, atualmente o país está entrando na terceira onda e, na quinta-feira (8), Toronto entrou novamente em lockdown, por três semanas, pois a monitoração do governo apontou que o número de variantes do coronavírus está aumentando na região.
— A situação dos hospitais ainda está relativamente tranquila, nós temos em torno de oito a 10 óbitos por dia na Província de Ontário, onde há 15 milhões de habitantes — afirmou.
Em relação à vacinação, o médico disse que aproximadamente 21% da população da província está imunizada, sendo que o Canadá utilizou uma estratégia de utilizar dose única, aplicando a segunda somente quando todos estiverem vacinados — o que deve ocorrer na metade de junho.