Em manifestação pública nas redes sociais, o Instituto Gamaleya, responsável pela elaboração da vacina Sputnik V contra a covid-19, afirmou que a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tomada no final da noite desta segunda-feira (26) foi "política". A agência reprovou, por unanimidade, a importação do imunizante russo, uma aposta de diversos Estados e municípios para ampliar a vacinação contra o coronavírus.
"Os atrasos da Anvisa na aprovação do Sputnik V são, infelizmente, de natureza política e não têm nada a ver com acesso à informação ou ciência. O Departamento de Saúde dos Estados Unidos, em seu relatório anual de 2020 há vários meses declarou publicamente que o adido de saúde dos Estados Unidos 'persuadiu o Brasil a rejeitar a vacina russa COVID-19'. O povo brasileiro aguarda a decisão do Supremo Tribunal Federal", afirmou o instituto em seu perfil no Twitter.
O instituto cita um relatório de 2020, ainda na gestão do presidente Donald Trump, em que o Departamento de Saúde americano afirma que teria ajudado o Brasil a rejeitar o imunizante russo, como parte do "fortalecimento da cooperação de saúde e da liderança humanitária norte-americana".
Em um encontro por videoconferência que durou pouco mais de cinco horas, diretoria e equipe técnica da Anvisa citaram falhas em diferentes níveis, da condução dos estudos clínicos à inspeção e fiscalização nas fábricas que produzem a vacina, passando, inclusive, pela qualidade do produto. Também foi mencionada a falta de clareza do Instituto Gamaleya, produtor da vacina na Rússia, ao divulgar os dados do imunizante.
O encontro iniciou com três representantes de áreas técnicas da Anvisa fazendo considerações e duras críticas referentes à segurança, à eficácia e à qualidade da Sputnik V: a área de Medicamentos e Produtos Biológicos, a de Inspeção e Fiscalização Sanitária e a de Produtos Sujeitos à Vigilância em Saúde. Os três desaconselharam que os cinco diretores da Anvisa aprovassem a importação e aplicação do imunizante nesse momento.
Um ponto importante levantado pelos técnicos foi o uso do adenovírus na tecnologia capaz de gerar a imunidade no organismo. Um pedaço do Sars-Cov-2 é colocado no adenovírus, que, introduzido no organismo, gera a reação imune. No entanto, foi constatada, em todos os lotes avaliados da Sputnik V, a existência de adenovírus replicantes. Segundo os especialistas, isso não deve ocorrer em vacinas de vetor viral, já que gera riscos à saúde da população.