Os gêmeos John e Liam Cargnelutti Alves, hoje com sete meses, são só sorrisos quando estão no colo da mãe, a fotógrafa Tatiane Aline Cargnelutti, 33 anos. Nem parece que ao virem ao mundo, os dois precisaram ficar 13 dias longe dela por conta da covid-19. A história da família ilustra o aumento de casos de internações de gestantes por esta doença.
Moradora da Nova Zelândia, Tatiane, o marido, o gerente de projetos Wilian Alves, 32, e o filho Theo, três anos, tinham vindo ao Brasil em março do ano passado para 30 dias de férias com os familiares no Rio Grande do Sul. Porém, a Nova Zelândia decretou lockdown, impedindo a família de retornar antes que a fotógrafa completasse 30 semanas de gestação — limite máximo para o voo. Os três, então, ficaram na casa de parentes, em Campo Bom.
Em julho, Tatiane e as amigas resolveram fazer um chá de fraldas para comemorar. Todas usavam máscara e mantiveram distância. Uma das sete convidadas havia testado e negativado para covid-19. E foi justamente ela que Tatiane abraçou no único minuto em que tirou a máscara. A fotógrafa acredita ter contraído a doença naquele momento. Quatro dias depois, veio a mensagem que lhe assustou: a amiga havia feito um segundo exame e testado positivo, não estava se sentindo bem. Na data, Tatiane já estava com tosse.
Uma semana depois, com dificuldades para respirar e contrações, apesar de estar com apenas 31 semanas de gestação, foi internada no Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre, para receber oxigênio. Diagnosticada com pré-eclâmpsia, Tatiane passou por cesariana de emergência.
— Fui encaminhada para a cirurgia protegendo os meus olhos, porque eu não estava enxergando, e rezando em voz alta porque não conseguia me ouvir. Eu estava com muita dor na minha cabeça, no meu corpo, não respirava bem e estava com muito medo. Só sabia rezar a Deus e pedir para me cuidar e cuidar dos meus filhos e que fosse o melhor pra gente — conta, em lágrimas.
John e Liam Cargnelutti Alves vieram ao mundo com 32 semanas, sem sintomas de covid-19 e faltando 300 gramas para os dois quilos, peso necessário para deixarem o hospital. Logo após a cirurgia, a saturação de Tatiane caiu ainda mais e ela precisou ser encaminhada para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde ficou apenas um dia.
Para Tatiane, a maior dificuldade foi ficar sozinha durante quase 20 dias de internação, sem receber visitas nem ver os filhos. A fotógrafa recebeu alta seis dias depois de dar à luz e foi para casa sem os bebês. Ela só pôde abraçar os filhos quando refez o teste para covid-19 e o resultado veio negativo. Os meninos ficaram, ao todo, 17 dias internados.
— Chegar perto daqueles seres tão lindos, mas tão frágeis e tão fortes, ao mesmo tempo, foi muito emocionante — recorda a fotógrafa.
Recuperada, Tatiane voltou com a família para a Nova Zelândia em dezembro do ano passado. Mas segue em acompanhamento médico. De sequelas, afirma ainda ter crises de ansiedade e de pânico por temer outra situação parecida:
— A doença te destrói mentalmente, pois tu ficas muito tempo sozinha dentro do hospital. Mas sou muito grata por toda a saúde que eu tenho, que meus filhos têm e como estou conseguindo lidar psicologicamente comigo mesma, dizendo: "Não é nada, você está bem".