A proximidade do feriadão de Páscoa provoca preocupação para especialistas da área da saúde no Rio Grande do Sul. Se nas festas de fim de ano e Carnaval houve relaxamento nas restrições e até descaso por parte da população com os cuidados relacionados ao coronavírus, provocando um aumento exponencial no número de infectados, o período entre 2 e 4 de abril é considerado crucial para manter o distanciamento a fim de controlar a curva de contágios.
O que pode ser desafiador para uma das principais celebrações do calendário cristão, que remete à união e aos encontros familiares.
— Feriado de Páscoa é uma chance única de os gaúchos mostrarem que ainda podemos nos orgulhar de nossas façanhas. Chance de não repetir os erros desse verão — apela Eduardo Sprinz, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Completando um ano de pandemia, o Rio Grande do Sul entrou em março batendo recordes de mortes e de contágios, sobrecarregando a capacidade da rede hospitalar.
— A mobilidade começou a aumentar em setembro (de 2020), então, começamos a emendar feriados. Como se tivesse uma fogueira e a gente fosse colocando gasolina, querosene, álcool. Agora, estamos em uma fogueira enorme e esse feriado de Páscoa vem como mais uma chance de colocar gasolina. É muito perigoso — reforça o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise Covid-19, que estuda estatísticas da doença no Rio Grande do Sul e no mundo.
Se, no Natal, a gente dizia que o ideal era não fazer festa, mas, se fizesse, ficasse a dois metros de distância e tirasse a máscara somente para comer, hoje a recomendação é não encontrar com ninguém com quem você não convive diariamente.
SUZI CAMEY, PROFESSORA DE EPIDEMIOLOGIA DA UFRGS
Encontro com a família por videochamada
Passado um mês da bandeira preta no modelo de distanciamento controlado do Estado, alguns indicadores mostraram sinais de melhora, como a redução na fila de espera por Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) em Porto Alegre — conquista que pode ficar comprometida se a população promover aglomerações, mesmo em família, e afrouxar o distanciamento.
Professora de Epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante do Comitê Científico do Piratini, Suzi Camey lembra que o coronavírus tem como único vetor as pessoas, que podem bloquear um ciclo de contágio se decidirem ficar em casa em vez de visitarem os familiares para o tradicional almoço de domingo.
— Se agora as pessoas ignorarem o momento em que a gente está e decidirem se reunir, vai ser uma catástrofe. Temos uma grande subnotificação, ou seja, só metade das pessoas é diagnosticada. São pessoas que estão infectadas, estão assintomáticas e vão visitar familiares e transmitir o vírus — alerta.
A receita é a mesma repetida à exaustão durante toda a pandemia:
— Se, no Natal, a gente dizia que o ideal era não fazer festa, mas, se fizesse, ficasse a dois metros de distância e tirasse a máscara somente para comer, hoje a recomendação é não encontrar com ninguém com quem você não convive diariamente. Hoje, tem muito mais infectados do que tínhamos na véspera do Natal.
Para ilustrar como está a curva de contágios no Rio Grande do Sul, Schrarstzhaupt faz uma comparação com o lançamento de um foguete no espaço:
— Pensa num foguete que subiu lá na estratosfera. Ele parou de subir, mas ainda precisar cair, voltar para a Terra. A gente precisa continuar reduzindo contágio para voltar. Ficar em casa na Páscoa, falando com a mãe por chamada de vídeo, ajudaria a baixar a curva.