Diretora da área de Medicamentos da Anvisa, Meiruze Freitas disse nesta sexta-feira (12) esperar pelo veto ao prazo de cinco dias imposto pelo Congresso para que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprove o uso emergencial de vacinas contra a covid-19. Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, ela avaliou o período como "temerário" para garantir a segurança dos imunizantes:
— Um prazo de cinco dias não é um prazo capaz de avaliar os dados que precisam ser avaliados para que a gente ateste a segurança desta vacina. Entretanto, faremos todas as medidas para buscar essa avaliação de forma a minimizar os riscos, mas esperamos o veto, porque essa medida não dá liberdade à Anvisa de negar, ela determina concessão e, ao determinar concessão, mais fatores de risco são incluídos nesta decisão — afirmou a diretora da agência.
Na última quarta-feira (10), o presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, reuniu-se com Bolsonaro para pedir que o mandatário vete o dispositivo por considerar que o prazo "extingue a capacidade da Anvisa de se manifestar em termo de análise". O prazo foi incluído pela Câmara em uma medida provisória (MP) editada pelo governo. O presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), já disse não acreditar no veto.
Ainda durante a semana, o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR), ameaçou "enquadrar" a Anvisa e disse que os diretores da agência estão "fora da casinha" e "nem aí" para a pandemia de covid-19.
Indagada sobre a pressão política sobre a Anvisa, Meiruze afirmou que as declarações causam preocupação quanto à independência do órgão regulador brasileiro.
— A questão relacionada a prazo a gente persegue também, desde que consiga avaliar dentro do parâmetro que garanta segurança para ser utilizado no braço de um senhor, de um jovem, de um trabalhador, por todos — disse.
— Isso (esse enquadramento) trouxe para os servidores, em especial aos meus colegas, uma preocupação muito grande, inclusive de que a competência da agência fosse superada. O pior desse processo não foi o enquadramento, foi falar que a gente estaria inerte à pandemia. Estamos buscando respostas desde o início da pandemia, trabalhando em várias ações para minimizar a pandemia — completou.
A Anvisa analisa pedido de registro definitivo da vacina da Pfizer e a da Oxford, produzida pela Astrazeneca. O imunizante da Astrazeneca já tem autorização de uso emergencial concedido pela agência por meio da Fiocruz, que vai produzir a vacina no Brasil.