A vacinação em massa contra o coronavírus começou em alguns países nos últimos dias. Contudo, muitas dúvidas sobre o imunizante pairam no ar. Pessoas que já foram infectadas precisam tomar vacina? Está liberado não usar mais a máscara após a vacinação? GZH conversou com especialistas no tema para responder estes e outros questionamentos.
1. Quem se vacinar fica imune à contaminação ou apenas não desenvolve forma grave da doença?
Essa é uma resposta que a ciência ainda não tem. Os estudos clínicos priorizaram investigar se as pessoas vacinadas apresentam a doença ou não. O que sabemos destas vacinas, que estão sendo estudadas, é sua eficácia para bloquear o desenvolvimento da covid-19 no corpo humano, não temos informações sobre o quanto ela é capaz de interromper a transmissão do coronavírus. O bom é que mesmo no caso da vacina da Astrazeneca/Oxford, que tem eficácia de 70%, as outras pessoas não apresentaram quadro grave da doença, segundo relatórios do laboratório.
Daniel Mansur professor de Imunologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e membro do comitê de ética da Sociedade Brasileiro da Infectologia (SBI)
2. Quem já teve covid-19 vai precisar tomar vacina?
Pelo que aponta a literatura atual sobre o assunto, não há necessidade de ser vacinado, mas é preciso ficar atento aos protocolos de higiene e fazer uso de máscara. Os que já foram infectados pelo vírus têm uma certa imunização contra a doença. A questão é que ela é temporária, não sabemos quanto tempo dura essa proteção natural do corpo. Uma alternativa para se ter um pouco mais de segurança é fazer o teste sorológico para a covid-19 para que o indivíduo saiba se tem anticorpo ativo contra o coronavírus no organismo. Denise Machado, professora da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
Já os professores Marcelo Bitelo, infectologista e Professor Escola de Saúde Unisinos, e Daniel Mansur, da UFSC, apontam que, mesmo os que que foram infectados, devem tomar a vacina para "reforçar" a imunidade.
3. Uma vacina funcionará para todo mundo?
Não. O sistema imune de idosos e das crianças é diferente dos de jovens adultos sem comorbidades. Em função disso, a resposta que o nosso corpo dá aos imunizantes varia. Daniel Mansur, professor de Imunologia da UFSC e membro do comitê de ética da Sociedade Brasileiro da Infectologia (SBI)
4. A vacina protege contra todas as cepas já conhecidas?
Apesar das mutações do coronavírus, está claro que o alvo dos pesquisadores é a proteína S (responsável pela ligação do vírus com a célula humana). Além disso, até o momento, essa proteína não parece mutar de modo tão significativo que ela não seja atingida pelas vacinas que estão sendo produzidas. Há outro cenário possível no qual o vírus evolua e mude. Neste caso, teríamos que incorporar novas vacinas, mas como já temos um leque das que apresentam boa eficácia, o tempo de desenvolvimento seria mais curto. Por fim, há um terceiro panorama, que é o mais caótico. Em uma eventual baixa cobertura vacinal — que pode vir de uma campanha não global, ineficiência dos países em vacinar ou, até mesmo, das pessoas se recusando a tomar o imunizante —, pode ser que o vírus evolua em função dessa espécie de pressão que foi feita por quem já está imunizado. Com isso, o coronavírus sai em busca de hospedeiros livres. Por este motivo, é importante entender a vacinação como forma coletiva de defesa da saúde, e não como uma decisão individual.
Daniel Mansur, professor de Imunologia da UFSC e membro do comitê de ética da SBI
5. Faz mal tomar misturar doses de vacinas diferentes?
Como teremos vacinas produzidas por diversos laboratórios, com metodologias diferentes, que serão aplicadas em duas doses (em sua maioria), deverão receber nessa primeira etapa as doses do mesmo laboratório.
Marcelo Bitelo, infectologista e Professor Escola de Saúde Unisinos
6. Qual a rapidez de uma vacina para parar a pandemia?
O vírus pode circular entre as pessoas sem causar a doença. Não sabemos se as imunizações têm o poder de interromper o ciclo de transmissão. O ponto de partida da imunização foi o bloqueio da doença. Caso a vacina bloqueie a transmissão, a pandemia cessa. Contudo, isso acontecerá se todo mundo tomar o imunizante. Se isso não ocorrer, o vírus será reintroduzido na população.
Daniel Mansur, professor de Imunologia da UFSC e membro do comitê de ética da SBI
7. Como ter certeza de que uma vacina é segura?
Não é possível afirmar que uma vacina é 100% segura. A vacina é considerada segura após ter cumprido todas as etapas no processo de desenvolvimento e após serem aprovadas pelos órgãos reguladores — no nosso país, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é responsável por isso.
De forma resumida, essas são as fases de teste de uma vacina
- Fase I: é o primeiro estudo a ser realizado em seres humanos e tem por objetivo principal demonstrar a segurança da vacina.
- Fase II: visa estabelecer a sua imunogenicidade.
- Fase III: é a última fase de estudo antes da obtenção do registro sanitário e tem por objetivo demonstrar a sua eficácia.
8. Quanto tempo a vacina vai durar? Vai ser preciso tomar todo ano?
Ainda não temos certeza sobre o tempo que vai durar a imunidade conferida pela vacina e, por enquanto, estima-se que será necessário vacinação anualmente, como no caso da influenza (gripe).
Marcelo Bitelo, infectologista e Professor Escola de Saúde Unisinos
9. Posso parar de usar a máscara e álcool gel assim que for vacinado?
Não, não pode. A gente só poderá dizer que a pandemia acabou e que as pessoas poderão voltar ao seu ritmo normal de vida, sem precisar fazer uso de máscara, quando o número de pessoas contaminadas pelo coronavírus for similar aos contaminados pela influenza, por exemplo.
Denise Machado, professora da escola de medicina da PUCRS
10. Qual é a taxa de eficácia que uma vacina deve ter?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estipulou que uma vacina para o coronavírus deve ter pelo menos 50% de eficácia. Essa porcentagem mínima foi adotada também pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Food and Drug Administration (FDA, órgão regulatório dos Estados Unidos)
Daniel Mansur professor de Imunologia da UFSC e membro do comitê de ética da SBI