Um estudo indica que o Rio Grande do Sul pode ter passado pelo momento mais crítico de novos casos de covid-19 no começo de setembro e, segundo projeções, estar ingressando em um período de declínio da pandemia.
As estimativas calculadas pelo doutor em matemática e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Álvaro Krüger Ramos sugerem que esse recuo deverá ser lento e se estender ao longo de vários meses. Mudanças no comportamento da população, porém, podem mudar a taxa de transmissão da doença e alterar essas expectativas para pior ou melhor.
O trabalho estimou a capacidade de contágio em três cenários: um otimista, outro intermediário e um pessimista. Segundo Álvaro Ramos, o panorama moderado é o que conta com maior probabilidade de se confirmar. Por esse critério, o período com maior nível de contaminação do coronavírus teria se concentrado na semana anterior a 13 de setembro, com média diária superior a 2,9 mil registros — os números oficiais da Secretaria Estadual da Saúde (SES) foram corrigidos pelo modelo criado pelo matemático a fim de reduzir distorções provocadas pelo represamento de notificações (tempo até a confirmação oficial).
Geralmente, ao longo de duas semanas, o número real de casos costuma ser 8% maior do que o inicialmente divulgado em razão desse represamento. Ao corrigir números anteriores de notificações e estimar a taxa de progressão do vírus para projetar os meses seguintes, Ramos acredita ser "muito provável" que o ápice no registro de novos doentes tenha sido ultrapassado.
— O estudo aponta que a possibilidade mais plausível é que o auge no número de casos tenha ocorrido entre 7 e 13 de setembro. Porém, para que de fato isso seja observado a longo prazo, certas condições devem se manter, como os cuidados pessoais da população, que se refletem na taxa de contaminação, e os índices de isolamento social. Por exemplo: não sabemos se a volta às aulas terá um impacto nesses valores, o que poderia modificar as projeções — avalia o matemático, que vem monitorando e fazendo análises sobre a covid-19 desde o começo da pandemia.
O epidemiologista e consultor do Hospital de Clínicas Jair Ferreira concorda que, "aparentemente", o Estado pode estar ingressando em uma curva descendente após conviver por muitas semanas com o que o governo estadual classifica como um "platô" da doença:
— Tivemos picos de internações em UTI no meio de agosto e no começo de setembro. Então, é possível estarmos em um momento de leve queda.
Mas Ferreira lembra que esse declínio pode ser bastante vagaroso, já que a subida da curva também demorou. O estudo de Ramos reforça essa hipótese ao prever que a média diária de novos casos deverá se manter acima de mil até o início de 2021.
O número de mortes registradas por semana epidemiológica (padrão para monitoramento de doenças, com início sempre em um domingo e término no sábado seguinte) também indica uma menor gravidade da doença no Estado. Segundo dados da SES, o pico de óbitos por data da morte teria ocorrido entre 26 de julho e 1º de agosto — quando houve 408 vítimas. Os números da semana recém-encerrada podem estar subestimados em razão de eventual demora para notificação do óbito, mas essa tendência tem se mantido desde o começo do mês passado.
Jair Ferreira observa que um aumento no nível de testagem pode levar a um crescimento no número de casos — sem que isso corresponda a um agravamento real da pandemia na mesma medida. Por isso, é importante prestar atenção em outros indicadores como o registro de mortes ou internações.