Um tratamento inédito desenvolvido a partir de uma pesquisa brasileira feita na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) conseguiu eliminar o HIV de um homem que vivia com o vírus havia sete anos. Há 17 meses, não se encontra mais sinal do micro-organismo no paciente. O anúncio foi feito no domingo (5), mas os detalhes do estudo serão divulgados na Conferência Internacional de Aids, nesta terça-feira (7).
Transplante com medula óssea
O que se sabe, até o momento, é que o tratamento não envolve transplante de medula óssea, como nos outros dois casos – até agora, apenas dois outros pacientes se livraram do vírus da aids no mundo. Ambos receberam um transplante de medula em que uma espécie de “defeito genético” associado ao procedimento bloqueou a reprodução do HIV. Esse tipo de procedimento, no entanto, envolve muitos efeitos colaterais.
Conhecido pelo codinome "paciente de Berlim", o norte-americano Timothy Ray Brown foi a primeira pessoa do mundo a eliminar o HIV. Mais de uma década depois, um outro indivíduo, chamado apenas de "paciente de Londres", também conseguiu se livrar do vírus. Relembre os casos:
Paciente de Berlim
Brown foi considerado livre do HIV após passar por um transplante de medula óssea para tratar uma leucemia diagnosticada em 2006. Em um artigo escrito por ele e publicado no AIDS Research and Human Retroviruses, em 2015, o "paciente de Berlim" diz que parou de tomar os medicamentos do tratamento contra o HIV no dia do transplante, em 2007. "Três meses depois, o vírus não foi mais encontrado no meu sangue", relatou, acrescentando que retomou a vida normal, trabalhando e praticando exercícios físicos.
No ano seguinte, em 2008, Brown precisou ser submetido a um novo transplante, em razão de uma recidiva da leucemia. Foram usadas células-tronco da medula do mesmo doador, no entanto, a recuperação não foi boa. O homem conta que teve delírios, quase ficou cego e quase perdeu os movimentos. A recuperação completa só foi percebida seis anos depois. No fim de 2010, Brown decidiu tornar sua identidade pública.
Paciente de Londres
Em março de 2019, o periódico Nature anunciou o segundo caso de paciente livre do HIV. Ele também eliminou o vírus após transplante de medula, no qual recebeu células-tronco de doadores portadores de uma mutação genética rara que impede o HIV de se estabelecer, o CCR5. Embora tenha sido considerada uma boa notícia, os pesquisadores alertaram que "era muito cedo para dizer que eles foram curados".
Assim como Brown, esse paciente tinha uma forma de câncer de sangue que não respondeu à quimioterapia. Além de conseguirem um doador compatível, a equipe da University of Cambridge, no Reino Unido, selecionou uma pessoa com a mutação CCR5, que é resistente à infecção pelo HIV.
O vírus desapareceu do sangue assim que o transplante foi feito, entretanto, o tratamento com antirretrovirais seguiu por mais 16 meses. Em acompanhamento feito com o paciente, 18 meses após o fim do uso do tratamento, não foi encontrado vírus no paciente.
Ravindra Gupta, que liderou este estudo, destacou à época que ainda não era possível dizer se o paciente foi curado, pois, para isso acontecer, o sangue precisa estar livre do vírus por mais tempo. Em março de 2020, no entanto, resultados publicados na revista The Lancet HIV revelaram que o "paciente de Londres" não apresentava sinais do vírus há 30 meses.