O Ministério da Saúde encaminhou, até a semana passada, 806 mil unidades de medicamentos para entubação de pacientes a 18 Estados que apresentavam estoques críticos. O Rio Grande do Sul, apesar de passar por situação semelhante, acabou ficando entre os nove Estados que não receberam nenhuma remessa.
Enquanto busca ações emergenciais, o Palácio Piratini aguarda o resultado de um processo de pregão eletrônico, lançado pelo governo federal, para as aquisições. A chegada dos produtos, porém, só deve ocorrer a partir do final de julho.
Questionado pela reportagem, o ministério não respondeu sobre os critérios utilizados para a distribuição dos medicamentos, que foram obtidos através de requisição administrativa, em parceria com a indústria farmacêutica. A pasta relata, apenas, que tem realizado levantamentos diários com Estados e municípios. Ao todo, foram requisitados 21 produtos, mas apenas oito já chegaram aos destinos.
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) também foi procurada, mas não respondeu se cobrou explicações do ministério para ainda não ter sido contemplada. Também não disse se aguarda alguma remessa emergencial da pasta para os próximos dias.
Nas últimas semanas, diversos hospitais têm relatado baixas expressivas nos estoques e dificuldade de reposição, seja pelo prazo dilatado ou o preço, que chega a subir mais de 1.600% em alguns casos. A responsabilidade de aquisição é das instituições. No entanto, o governo federal é quem regula o mercado e interfere em situações críticas, como a que ocorre no momento.
Como medida emergencial, o Ministério da Saúde promoveu um pregão eletrônico, aberto a Estados e capitais, para facilitar compras conjuntas. O Rio Grande do Sul integra a medida, que encerrou as adesões nesta segunda-feira (13). A projeção federal é de que o processo seja concluído em 15 dias, mas não há previsão para a chegada das substâncias aos estados.
O ministério ainda abriu uma cotação para compra internacional com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), com início em 18 de junho, mas ainda sem prazos.
Acordo com veterinárias
Na última semana, a SES anunciou uma parceria com o Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) para buscar medicamentos em clínicas e hospitais veterinários. Apenas substâncias com uso humano e animal autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) integram a ação. A lista conta com propofol, midazolam, diazepam, fentanilas, lidocaína e opióides, como metadona e morfina.
Segundo a secretaria, a parceria prevê que "medicamentos em estoques de clínicas e hospitais veterinários que não fizerem falta imediatamente para o atendimento de pets possam ser repassados para hospitais que estão necessitando". Após o uso, os hospitais deverão repor os estoques.
Hospitais
Desde segunda-feira (13), o Hospital Getúlio Vargas, em Sapucaia do Sul, está com as novas internações suspensas. O local estava sem o medicamento noradrenalina, utilizado em manobras de ressuscitação cardiopulmonar e em outros procedimentos. Para garantir o uso nesta terça-feira (14), foram compradas emergencialmente mil unidades, ao preço de R$ 29, valor cerca de 1.600% mais caro que o normal. Uma remessa adquirida no início do mês, a R$ 9,50, é esperada pra esta quarta-feira (15). Antes da pandemia, cada ampola custava R$ 1,69.
No local, todos os 17 leitos, sendo sete exclusivos para covid-19, estão ocupados. Há, ainda, seis pacientes na emergência recebendo ventilação mecânica (entubados). Eles aguardam a transferência para UTIs de outros hospitais.
A administração também é responsável pelo Hospital de Tramandaí, no Litoral Norte, que também está com o ingresso de novos pacientes graves suspenso. O local conta com 16 leitos de UTI, sendo seis para covid-19, além de ter dois pacientes na emergência com ventilação mecânica, também aguardando vagas em outras instituições.
Se a entrega de noradrenalina for confirmada nesta quarta-feira (15), a tendência é que a suspensão de internações seja encerrada.