Pelo menos duas aldeias indígenas de regiões diferentes do Rio Grande do Sul já registram casos de coronavírus. As confirmações foram feitas desde a última semana em aldeias caingangues de Benjamin Constant do Sul, no Norte, e de Montenegro, no Vale do Caí.
Na cidade do norte gaúcho, a aldeia tem cerca de 1,2 mil moradores. Por enquanto, foram confirmados cinco casos, número considerado baixo. O que chama a atenção, no entanto, é que três estão ligados à unidade de saúde localizada na área: os dois técnicos de enfermagem e o motorista, que além de trabalharem no posto também moram na aldeia. Um outro médico que trabalha no local, mas mora em outra região da cidade, também foi contaminado pelo coronavírus.
— Tivemos 17 casos na cidade (pelo balanço estadual, são seis), sendo que 10 são profissionais de saúde. Na semana passada, estávamos sem médicos, e eles tiveram de atender por vídeo. Mas uma pessoa voltou a atender nesta semana. Nosso ponto positivo é que não tivemos casos graves — diz a secretária municipal de Saúde, Nataliê Nazari.
O fato de o coronavírus ter chegado à principal aldeia causa preocupação ao município:
— A saúde deles é mais vulnerável, e a gente toma muito cuidado. Eles também têm mais dificuldade em ficar em isolamento, embora façam isso dentro da realidade deles. As medidas internas estão sendo definidas pela liderança local.
Após recomendação do Ministério Público (MP), a prefeitura adotou, no dia 21, restrições nos mesmos parâmetros dos indicados pela classificação de bandeira preta, conforme decreto de distanciamento controlado. As medidas, que valem por 15 dias, incluem funcionamento apenas do comércio e de serviços essenciais, além de restrições no atendimento presencial nas repartições públicas.
Confirmações em Montenegro
Nesta terça-feira (27), o prefeito de Montenegro, Carlos Eduardo Müller, e a secretária municipal de Saúde, Cristina Reinheimer, fizeram uma transmissão ao vivo no Facebook para tratar dos casos confirmados na única aldeia da cidade, com cerca de 50 moradores. O prefeito informou que os números são “controláveis” devido à condição de isolamento dos indígenas.
Segundo a prefeitura, foram feitos 45 testes no local — os outros não estavam na aldeia no momento da testagem. A secretária diz que há casos confirmados, mas explicou, em conversa com GaúchaZH, que não pode divulgar quantos são:
— A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) é que responde pelo local e, por isso, os dados serão divulgados por eles. Mas nenhum é grave. Fizemos o contato com o cacique, com todos os indígenas do local, e os orientamos. Fornecemos máscaras, alimentação, leite para as crianças e medicação para quem precisa, evitando os deslocamentos.
Nota informativa da Secretaria Estadual de Saúde (SES) aponta que a população indígena está incluída no grupo indicado para testes laboratoriais em caso de síndrome gripal. A SES está elaborando um protocolo mais detalhado sobre infecções por coronavírus nesta população.
Como a Sesai está vinculada ao Ministério da Saúde, a reportagem de GaúchaZH fez contato com a pasta e aguarda retorno.