O ministro da Saúde Nelson Teich fez um balanço das ações na pasta no combate à pandemia de coronavírus. Em audiência pública através de vídeoconferência com o Senado, na tarde desta quarta-feira (29), o ministro foi cobrado pelos senadores que pedem mais informação e atitudes do governo federal.
Teich pediu para que os parâmetros de distanciamento social sejam debatidos a partir da análise dos fatos. Ele diz que não decidirá estratégias de contenção da pandemia analisando preferências política, mas sim técnicas:
— Minha única preocupação são as pessoas. Não vou sentar e discutir este tipo de abordagem politicamente. Vou discutir o que é o melhor para a sociedade — declarou, justificando:
— Quando eu digo que foco na pessoa e no bem estar é porque conforme o tempo vai evoluindo você tem que tentar enxergar o que é o melhor. Você não sabe se vai ter violência social com o confinamento, você não sabe o que pode acontecer com as outras doenças.
O ministro disse que precisa tomar decisões que contemplem as, segundo ele, outras 1,3 milhões de mortes anuais no Brasil, sem deixar de focar nas ações da covid-19:
— Eu olho para isso tentando enxergar o equilíbrio ideal para a sociedade. Realmente seria muito bom se a gente tentasse trabalhar as discussões e trabalhos em cima de uma coisa mais técnica, mais voltada para a sociedade, e não tentando piorar em cima de polarização.
Em mais de quatro horas de sabatina com os senadores, o ministro defendeu a regionalização das ações de combate à pandemia de coronavírus e mencionou mais uma vez a possibilidade de flexibilização do distanciamento social de acordo com critérios específicos.
— A gente não sabe qual o percentual da sociedade que está comprometido, porque temos os assintomáticos. Os testes que a gente faz não permitem saber essa realidade. Sem este conhecimento você está literalmente navegando às cegas — ponderou, projetando:
— Ficar em casa vai ser a solução para algumas pessoas e para outras não.
O ministro manifestou sua preocupação com o abastecimento de EPIs e respiradores nas regiões com maior incidência e mortos. Sua outra prioridade é levantar dados nacionais suficientes para planejar as ações “não lineares”. Mesmo com a mudança no foco, ele diz que o trabalho do ministro Mandetta, seu antecessor na Saúde, não deve ser desconsiderado.
Crise inédita
Teich iniciou sua fala com os senadores definindo o momento como histórico, a ser superado com união. Para ele o país nunca enfrentou um momento com tantos grandes problemas simultâneos, e que não se restringem ao ministério comandado por ele. A pandemia, disse o ministro, deixará um legado para o sistema de saúde para desafios futuros.
— A capacidade de se ajustar rápido não é fácil quando se tem uma doença que acomete tantas pessoas num limite tão pequeno de tempo, em um sistema que já trabalha sempre no limite da eficiência — comentou.
Declarações do presidente Bolsonaro
Questionado sobre seu alinhamento com o presidente Bolsonaro, enaltecido no anúncio do médico como novo ministro da Saúde, Teich explicou que a preocupação de ambos é com as pessoas. Além disso, ambos enxergam vidas e economia como fatores interdependentes, e não opostos.
— Não vou discutir aqui o comportamento (do presidente), mas posso dizer que ele está preocupado com as pessoas e a sociedade. O alinhamento é nesse sentido. Quando eu fui chamado, trazido e aceitei, eu aceitei porque existe um foco total em ajudar a sociedade e as pessoas. E tenho certeza que é a preocupação central do presidente — argumentou.
Cobranças do norte do país
Os senadores mais contundentes em suas cobranças foram os do Estado do Amazonas. A senadora Eliziane Gama (Cidadania-AM) defendeu o distanciamento, atacou a postura do presidente da República, e disse que a demissão de Mandetta foi causada pela defesa do isolamento social. O senador Eduardo Braga (MDB-AM) pediu ajuda para a região de Manaus. A maioria dos 380 óbitos do Estado no mês de abril aconteceram na capital.
— Cada dia, cada minuto, cada hora é imprescindível. Nos 10 dias que o sr. está no ministério, o Amazonas já perdeu dezenas de vida, e daqui a 10 dias, outras dezenas. Portanto, ações precisam ser tomadas urgentemente e de forma objetiva.