Na sexta-feira (13), a Secretaria Municipal da Saúde confirmou mais dois novos casos de contaminação por coronavírus em Porto Alegre — uma mulher de 59 anos, que havia viajado para os Emirados Árabes, e um homem de 38 anos, com passagem pela Europa, totalizando quatro pacientes diagnosticados até então na Capital.
Ele é o ex-vereador da Capital e diretor-executivo do Instituto Cidade Segura, Alberto Kopittke. Após uma viagem pelo continente europeu, o especialista em segurança pública apresentou sintomas e foi testado para a covid-19. Ainda em recuperação, completamente isolado da mulher e da filha de cinco meses (os testes de todo os familiares deram negativo), concedeu uma entrevista a GaúchaZH em dois telefonemas na tarde deste sábado (14). Leia abaixo um resumo das conversas:
Quando o senhor soube que está com o coronavírus?
Eu estive na Europa para eventos profissionais. Quando voltei, no início da semana, comecei a ter sintomas e fiz o exame. Ontem (sexta-feira, 13) saiu o resultado.
Onde o senhor acredita ter se contaminado e que sintomas teve até o momento?
Eu estive na Dinamarca na semana passada. Quando eu fui para lá, o país tinha tido um caso. Essa semana, está com mais de mil. Acredito que tenha sido lá que eu peguei e, no início da semana, comecei a ter sintomas. É uma sensação de gripe bem desagradável, dor no corpo, sensação de febre. Não tive febre, mas sentia ter.
O termômetro não indicava?
O termômetro, não. É uma sensação bem diferente, bem desagradável, e que traz muito cansaço também. A partir de um determinado momento, passei a sentir enjoo, me atacou o estômago, tive fraqueza. Não tive espirro nem tosse, isso que se imagina e se fala de gripe. Não tive nada disso, o que até me preocupa, porque é silencioso. As pessoas vão ter, mas não vai parecer que estão com a doença. E é uma onda muito rápida. Em questão de uma semana, o país onde eu estive foi tomado, fechado, com situações de emergência. Então me preocupa muito esse início. É preciso que as pessoas se deem conta do que está chegando ao nosso país.
Ainda não estão levando a sério?
Primeiro, eu fui de máscara para o hospital, e pessoas debocharam de mim, na rua. Um deu um espirro, brincando. Houve deboches, olhares. Me parece que a sociedade brasileira ainda não se deu conta do que está chegando.
É muito mais pesado do que uma gripe comum?
É bem mais forte. O vírus testa todos os órgãos do corpo. Não falo isso para as pessoas terem medo, a grande maioria vai ter esse tipo de sintoma, já estou me sentindo melhor, lá pelo quinto, sexto dia (começa a melhorar), mas ela é longa, mais longa do que o normal. E essa questão dos grupos de risco, fico imaginando, se eu senti isso, imagino pessoas de mais idade, que têm outras fragilidades. Então, realmente, não é hora de pânico, mas as pessoas precisam se dar conta de que é preciso ter uma mudança completa antes da situação ficar fora de controle.
Ao mesmo tempo em que vamos ter de nos isolar, precisaremos demonstrar muita solidariedade
Mudança em que sentido?
As pessoas têm de se dar conta (da importância) do isolamento, de trabalhar de casa e, principalmente, proteger os idosos. Mas vejo que a nossa sociedade ainda não está preparada em questões de supermercados, farmácias. Ainda tem muito preconceito. Eu tive muita dificuldade, as pessoas, quando souberam... eu entendo o medo, temos de nos cuidar. Mas, infelizmente, muitos prédios vão ter doentes, muitas famílias vão ter doentes, e ao mesmo tempo em que vamos ter de nos isolar, precisaremos demonstrar muita solidariedade. Alcançar uma fruta, um remédio na porta de uma pessoa doente vai fazer toda a diferença nesse momento. Nossa sociedade nunca passou pelo que vai passar. Felizmente, temos profissionais de saúde, um grande sistema de saúde, senão seria ainda pior. Mas vai exigir muito de todos nós. Preconceito, nesse momento, e desinformação são as piores coisas. Precisaremos ter solidariedade e muita informação correta para superar isso.
O senhor se mantém isolado?
Estou isolado, ninguém da minha família teve contato, as pessoas com quem tive contato antes de saber estão sendo acompanhadas pela epidemiologia da prefeitura. Espero que elas não tenham (o vírus). Essa é outra sensação terrível, o medo de ter passado (a doença). Realmente espero que eu tenha tomado todos os cuidados necessários e que todos tomem. A gente não precisa esperar a cidade ter um número grande de casos. Aí já é tarde. A gente tem de se antecipar a isso e todo mundo fazer a sua parte, proteger as suas famílias. Ainda estamos levando um pouco na brincadeira. Já chegou a hora de todo mundo se preparar e se cuidar ao máximo.
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