O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) corre contra o tempo para tentar se tornar referência no atendimento de coronavírus na Região Metropolitana antes da chegada do frio. Hoje com uma participação secundária, a instituição deverá se tornar protagonista no acolhimento de pacientes com o novo vírus. Dependendo do ajuste, o hospital poderá ser referência para todo o Estado.
Em entrevista ao Timeline nesta sexta-feira (28), o secretario-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo dos Reis, confirmou que a ideia é que o Hospital Nossa Senhora da Conceição e o Hospital Universitário de Canoas deixem de ser referência na Região Metropolitana para dar lugar ao Clínicas. A justificativa envolve a capacidade de atendimento:
— Utilizaríamos o Hospital de Clínicas para ser referência a todos os pacientes. Esses hospitais (o Conceição e o Universitário de Canoas) já estão no seu limite. No Clínicas, nós não vamos substituir leitos, poderemos ampliar de fato. É a alternativa mais lógica e racional, e é o que vamos buscar. O mais rápido possível. Queremos ter essa área funcionando em 30, 60 dias, ou quando o inverno estiver chegando.
O Clínicas possui dois anexos novos com sua construção concluída. As áreas, porém, estão vazias. Por isso, o Ministério da Saúde disponibilizaria verba para equipar o espaço e muni-lo de pessoal.
O anexo B foi planejado inicialmente como uma área de terapia intensiva. Assim, em um primeiro momento, receberia pacientes mais críticos. No entanto, com o novo objetivo do Ministério da Saúde, será necessário adequar também leitos clínicos. Já a área C provavelmente não poderá ser utilizada, já que foi pensada para serviços ambulatoriais e de ensino e pesquisa, com salas de aula.
— Precisamos entender que demanda de leitos clínicos a gente teria que ofertar pra atender esta parte que é além da terapia intensiva. Nós teríamos que acomodar dentro da estrutura atual do prédio, talvez desocupando algumas alas. Talvez a gente tenha que fechar alguns leitos, não sabemos ainda se na emergência velha ou na área nova — explica a diretora-presidente da instituição, Nadine Clausell.
A avaliação é de que, usando uma área anexa do Clínicas, menos pacientes não infectados seriam colocados em risco. Gabbardo fará uma visita ao hospital no sábado (29), quando mais detalhes devem ser definidos.
Salas vazias
Na manhã desta sexta-feira, autoridades ligadas à área da saúde fizeram uma visita às novas áreas do Hospital de Clínicas, que ficaram prontas em outubro do ano passado, após cinco anos de trabalho. Entre elas, estavam o governador Eduardo Leite, a secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann, o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior, o secretário municipal de Saúde, Pablo Stürmer, e o secretário de Atenção Primária do Ministério da Saúde, Erno Harzheim.
Os anexos B e C estão prontos, do ponto de vista de engenharia, mas estão completamente vazios. Na área B, é possível ver as áreas que serão usadas para a unidade de terapia intensiva (UTI), mas não há nenhum equipamento — daí a necessidade de aporte financeiro do governo federal para que a preparação do local saia do papel.
— Não temos condições de fazer tudo sozinhos em dois meses, precisamos de ajuda. Temos que correr contra o tempo. Na hora em que as coisas estiverem funcionando, teremos altíssimo padrão — declarou a diretora-presidente da instituição.
A construção dos novos anexos ampliou a área construída do Clínicas em quase 70%. Quando os espaços estiverem funcionando dentro do plano inicial — após a situação emergencial envolvendo o coronavírus —, haverá aumento na capacidade de atendimento de diversas especialidades.
Somente no bloco cirúrgico, o número de salas vai passar de 22 para 40. Na área de terapia intensiva, o total subirá de 53 para 105 leitos.
— Precisamos de hospitais de alta complexidade para fazer este tipo de atendimento. Temos que nos esforçar para viabilizar a abertura do espaço — disse Harzheim.
— Nós nunca tivemos a ilusão de que o coronavírus não chegaria. Mas precisamos trabalhar para dar uma resposta eficiente — concluiu Leite.
Mapa do coronavírus
Acompanhe a evolução dos casos por meio da ferramenta criada pela Universidade Johns Hopkins: