Diante da confirmação de dois novos casos de sarampo no Rio Grande do Sul, totalizando 15 diagnósticos da doença no Estado em 2019, a Secretaria Estadual da Saúde reforça o chamado à população para fazer a vacina contra a doença. Uma campanha nacional de atualização das vacinas para crianças de seis meses até cinco anos segue até o dia 25 de outubro, tendo o Dia D de vacinação contra o sarampo no sábado da próxima semana (19), com a abertura extraordinária dos postos de saúde.
Os dois novos casos foram registrados em Ijuí, no noroeste do Estado, e em Gravataí, na Região Metropolitana. Segundo informações do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), o morador de Ijuí havia viajado ao Paraguai e a mulher de Gravataí é mãe de um bebê que já havia tido a doença diagnosticada na semana passada. A maioria dos casos confirmados no RS se concentra em Porto Alegre, com oito diagnósticos, mas houve registros também em Cachoeirinha e Dois Irmãos.
— Estamos verificando que há novos casos de contaminação em pessoas sem histórico de viagens para outras regiões, o que indica que o vírus está em circulação dentro do Estado, por isso, é importante reforçar a vacinação — diz Juliana Patzer, técnica da equipe de vigilância epidemiológica da Secretaria Estadual da Saúde.
A queda da cobertura vacinal nos últimos anos é a principal razão para o retorno da doença, segundo o infectologista Luciano Goldani, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. O Brasil tem ficado abaixo da meta de 95% de imunização nos últimos anos.
— Para uma proteção efetiva, é preciso receber as duas doses da vacina, o que nem sempre acontece. Outro fator relevante é a mobilidade e a globalização. Antes a pessoa não se vacinava, mas a doença não chegava até ela, agora chega, porque há mais viagens — observa o médico.
O calendário nacional de vacinação orienta a aplicar a primeira dose da vacina aos 12 meses de vida e a segunda, aos 15 meses. Agora, o Ministério da Saúde criou a dose zero, a ser aplicada em crianças com seis meses de vida, pois quatro das seis vítimas da doença no país neste ano eram menores de um ano. Atualmente, há 32 casos suspeitos de contaminação por sarampo sendo investigados no Rio Grande do Sul. Em todo o Brasil, já são 6,6 mil casos, 96% no Estado de São Paulo, conforme o último boletim epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde.
Tire suas dúvidas
Fiz a vacina quando era criança, estou protegido contra o sarampo?
Sim. Se você tem duas doses da vacina contra o sarampo registradas na caderneta de vacinação, não é necessário fazer reforço da vacina. Pelo calendário nacional de vacinação, a primeira dose é aplicada quando a criança completa 12 meses de vida e a segunda, aos 15 meses. Devido ao aumento de casos de sarampo, foi incluída no calendário a dose zero, aplicada em crianças de seis meses a um ano.
Quais as vacinas que protegem contra o sarampo?
As vacinas mudam de acordo com a idade ou situação epidemiológica. A vacina dupla viral, que protege do vírus do sarampo e da rubéola, pode ser utilizada para o bloqueio vacinal em situação de surto. Há ainda a vacina tríplice viral, que protege de sarampo, caxumba e rubéola, e a vacina tetra viral, contra sarampo, caxumba, rubéola e varicela (catapora).
Perdi a caderneta de vacinação e não tenho certeza se fui vacinado, o que devo fazer?
Se você não tem o registro da vacina, pode procurar um serviço de saúde para receber a dose, porém a vacinação na rede pública só é disponibilizada para pessoas de até 49 anos. A partir dos 50, a vacina pode ser feita na rede privada. Adultos com até 29 anos que tenham recebido apenas uma dose da vacina devem tomar a segunda. Para pessoas entre 30 e 49 anos, apenas uma dose é suficiente.
Grávidas podem tomar a vacina contra o sarampo?
A vacina é contraindicada para gestantes porque o sistema imunológico da mulher fica mais vulnerável nesse período e a vacina é produzida com o vírus do sarampo vivo, apesar de atenuado. Caso a mulher esteja planejando engravidar, o recomendado é tomar todas as doses da vacina antes, para proteger a si e ao bebê.
Viajo com frequência a São Paulo ou tenho uma viagem marcada para fora do Estado, devo me vacinar?
É recomendável fazer a vacina com pelo menos 15 dias de antecedência da viagem. As recomendações sobre doses anteriores e idade devem ser consideradas.
Posso fazer a vacina em qualquer posto de saúde ou a campanha nacional de vacinação contra o sarampo é só para crianças?
A campanha nacional lançada nesta semana tem como prioridade imunizar crianças de seis meses até cinco anos até o dia 25 de outubro. No dia 19, sábado da semana que vem, será o Dia D de vacinação contra o sarampo para esta faixa etária. Na sequência, uma nova campanha irá priorizar jovens de 20 a 29 anos, entre os dias 18 e 30 de novembro. Esses são os grupos etários em que foi verificada maior incidência da doença em São Paulo. Mas é possível fazer a vacina, mesmo não pertencendo a esses grupos.
Já tive sarampo quando criança, corro o risco de ter a doença novamente?
Via de regra, não. Mas o infectologista Luciano Goldani salienta que há muitas doenças similares ao sarampo, como é o caso da rubéola, e nem sempre há a confirmação laboratorial sobre qual vírus infectou o paciente. O mais seguro é fazer a vacina.
Como o sarampo é transmitido?
O sarampo é uma doença causada por vírus e é altamente contagiosa. Não é preciso ter contato íntimo com uma pessoa infectada, o sarampo pode ser transmitido quando o doente tosse, fala, espirra ou respira próximo de outras pessoas. Por isso, ao ser confirmado o diagnóstico, uma das medidas recomendadas é imunizar pessoas próximas, como familiares e colegas de trabalho.
Quais são os sintomas do sarampo?
Os principais sintomas são febre e manchas no corpo acompanhadas de tosse, coriza ou conjuntivite.
O que devo fazer se suspeitar da contaminação?
Se houver combinação dos sintomas citados acima, a orientação é informar imediatamente a Secretaria de Saúde do seu município ou acionar o Disque Vigilância, pelo telefone 150. O serviço telefônico funciona inclusive aos finais de semana.
Que complicações o sarampo pode trazer?
O sarampo pode deixar sequelas por toda a vida e até levar à morte. Pneumonia é a complicação mais comum, tanto em crianças quanto em adultos. Em crianças pequenas, também podem ocorrer infecções de ouvido, perda auditiva e encefalite aguda. Mulheres em idade fértil não vacinadas antes da gravidez podem apresentar parto prematuro e o bebê pode nascer com baixo peso.
O sarampo não estava erradicado?
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil não registrava casos autóctones de sarampo desde o ano 2000. Entre 2013 e 2015, ocorreram dois surtos da doença a partir de casos importados, nos Estados de Ceará e Pernambuco, com 1,3 mil casos. Os surtos foram controlados com medidas de bloqueio vacinal e, em 2016, o país recebeu o Certificado de Eliminação do Sarampo, emitido pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Porém, em fevereiro deste ano, o Brasil perdeu esse certificado. A principal causa para isso é a queda da vacinação, que tem ficado abaixo da meta de imunizar 95% das crianças.
Fontes: Ministério da Saúde; Juliana Patzer, técnica do Centro Estadual de Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual da Saúde; Luciano Goldani, infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.