As temperaturas amenas dos últimos dias tem representado um alívio temporário para o auxiliar de escritório Eduardo Canto da Costa, 29 anos, do bairro Santa Isabel, em Viamão. O pai dele, Renato Bezerra, 57 anos, está internado há mais de 40 dias no Hospital Conceição, na Capital, para tratar de um câncer. No sábado passado, quando os termômetros chegaram a marcar 38ºC na cidade, Eduardo levou um ventilador para o hospital, a pedido do pai, que está em um quarto onde não há ar-condicionado. Mas, para sua surpresa, na recepção, foi informado de que o equipamento passou a ser proibido.
— Meu pai me ligou dizendo que estava com náuseas e passando mal por causa da temperatura e pediu um ventilador. Quando eu trouxe, me falaram na portaria que não podia entrar, em função de novas regras do hospital. Subi, falei com a enfermeira responsável, com todo mundo, mas não teve jeito — conta Eduardo.
A “solução” para amenizar o calor de Renato foi abaná-lo com revistas e usar compressas de água fria.
— A gente fica sem saída. Vi meu pai ali, suando muito, sem poder resolver. Eu fiz o que pude, mas, com calor intenso, não foi suficiente. E sei que tem mais gente na mesma situação. Já fico com medo da próxima vez que fizer calor. Ele está aqui para melhorar, mas pode piorar — desabafa o filho.
Regra é recente
No último ano, Renato já ficou internado várias vezes em função do tratamento. No verão passado, em dias de calor intenso, fez o mesmo pedido ao filho, e foi atendido sem problemas.
— Falam que tem regras novas, mas o hospital não é objetivo para explicar. É a fiação? Ninguém sabe exatamente os motivos — diz Eduardo.
A decisão, segundo uma enfermeira da instituição que preferiu não se identificar, passou a valer em setembro, mas vem sendo sentida com mais intensidade nas últimas semanas em função das temperaturas, que ficaram um pouco mais altas.
Gerente de Internação do Hospital Conceição, o médico Rafael Ribeiro explica que uma resolução do Ministério da Saúde publicada em 2002, que normatiza projetos em ambientes de saúde, proíbe os ventiladores nestes locais em função do risco de transmissão de infecções e também de acidentes e incêndios.
— Como o prédio é muito antigo, até o ano passado, não tinha como colocar ar-condicionado em todo o hospital, em função da rede elétrica. Em 2018, foi instalada uma subestação especifica para o hospital. A partir disso, estamos modernizando a climatização — afirma o gerente.
Segundo a administração do hospital, já estão em andamento obras para climatização (com ar central) do segundo e do terceiro andar do bloco I. A previsão de finalização é para o mês de novembro.
Obras prontas em dezembro
Já no terceiro e quarto andares do bloco G, onde ficam as enfermarias, serão instalados, a partir do dia 21 de outubro, aparelhos de ar-condicionado compactos, com o objetivo de amenizar o calor até que as obras estruturais cheguem ao local. Neste caso, a instalação deve ser concluída até o dia 15 de dezembro.
Também estão ocorrendo vistorias e obras com o objetivo de atualizar o Plano de Prevenção Contra Incêndios (PPCI) da instituição. O valor total investido na obra e nos equipamentos foi de R$ 1,7 milhão. Os recursos são do Plano de Investimentos do GHC.
Sobre a situação dos pacientes internados em quartos sem ar-condicionado, o gerente garante que, em dias de calor intenso, a análise é feita caso a caso, seguindo critérios como temperatura ambiente do quarto, presença ou não de ventilação natural adequada, número de leitos e pessoas no mesmo local e setor do hospital em que se localiza o quarto:
— No último final de semana, liberamos ventiladores em diversos pontos do hospital, principalmente os mais antigos. A instituição não está insensível às questões climáticas que afetam os pacientes. Por isso, está sendo investido esse valor na adequação. A solução não é tão rápida pois temos que fazer a reforma com o atendimento andando, não tem como parar, mas está sendo feita.