Pacientes que realizam sessões de quimioterapia no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Canoas, relatam atrasos no tratamento devido à falta de medicamentos. É o caso da dona de casa Nelci Oliveira, 59 anos. Enfrentando um câncer de mama, ela fez a primeira quimioterapia em dezembro de 2018. A segunda quimio ocorreu um mês depois. Desde então, Nelci vem enfrentando a inconstância no tratamento em função do problema.
– Já era para estar operada, recuperada, mas não consegui nem terminar as quimioterapias. O que mata não é o câncer, é a espera – decreta.
Na semana passada, mais uma vez, a dona de casa foi avisada de que não poderia ir ao hospital porque não havia a medicação disponível. O mesmo aconteceu com a artesã Marilia Brizola, 37 anos. Há um ano, ela está em tratamento devido a um câncer de mama, que se espalhou, atingindo o fígado e ossos. As quimioterapias são semanais e, segundo a paciente, até o ano passado ocorriam sem grandes transtornos. No entanto, neste ano a situação se agravou.
– Simplesmente está horrível, não tive uma semana de tratamento consecutivo – explicou.
Marilia, então, se propôs a comprar o medicamento, mas não teve autorização:
– Eu não sou rica, mas daria um jeito de comprar o remédio, venderia alguma coisa, não sei. Nós, pacientes oncológicos, deveríamos ter prioridade no tratamento.
Uma lei federal (12.732/2012) estabelece um prazo máximo de 60 dias para que pessoas com câncer iniciem o tratamento pelo SUS. Nesse período, que conta a partir da confirmação do diagnóstico e da inclusão dessas informações no prontuário médico, os pacientes devem passar por cirurgia ou iniciar as sessões de quimio ou radioterapia, conforme a indicação de cada caso.
Apesar das dificuldades enfrentadas, é unânime entre os pacientes entrevistados pelo Diário Gaúcho a visão de que os profissionais são extremamente capacitados, gentis e atenciosos. Mesmo quando as sessões de quimioterapia são canceladas, os pacientes são avisados por telefone, com antecedência, e também comunicados quando o tratamento está liberado.
– O atendimento é o excepcional, não tenho do que reclamar nesse sentido – relata Marilia, que a cada sessão fica de duas horas e meia a três horas no hospital.
O Hospital Nossa Senhora das Graças está sob nova gestão desde o fim de fevereiro. A instituição agora está sob responsabilidade da Associação Beneficente São Miguel (ABSM). A mantenedora já detém a gestão do hospital Beneficência Portuguesa, em Porto Alegre.
A autônoma Thais Sortica, 31 anos, trata, desde o ano passado, um câncer de colo de útero. Fez cirurgia para retirada dos linfonodos e já havia começado a radioterapia no Hospital Santa Rita, em Porto Alegre.
Nesta semana, deveria ter começado a quimioterapia no Nossa Senhora das Graças, mas no agendamento já foi avisada de que não conseguiria. Segundo ela, o hospital não teria o medicamento à disposição.
– Não sei como faço agora, se interrompo a rádio ou sigo, porque eu deveria fazer paralelamente – disse.
Para alguns estágios do câncer de colo do útero, o tratamento principal é a radioterapia e a quimioterapia administradas em conjunto. A quimioterapia potencializa a radioterapia.
Hospital promete resolver situação
A prefeitura de Canoas informou que a Associação Beneficente Canoas (ABC) anunciou, em 18 de fevereiro, sua saída da administração do Hospital Nossa Senhora das Graças. Na mesma data, a Associação Beneficente São Miguel assumiu a gestão da unidade. O processo para a troca de gestão foi solicitado pela atual administração municipal, diante de inúmeros problemas apresentados por parte de ABC na gerência do hospital. A mudança foi acompanhada pelo Ministério Público Estadual.
Houve um período de transição entre as duas associações. No dia 11 de março, técnicos da São Miguel assumiram os postos de gestão e verificaram as principais necessidades da instituição. Dentre elas, a falta de medicamentos para realização de quimioterapia. Nos dias 13 e 15, foi realizada a compra dos medicamentos. A carga deve chegar nesta terça-feira (19). A partir disso, o hospital promete colocar em dia todos procedimentos de quimioterapia cancelados durante cinco dias úteis.