Em meio a promessas não cumpridas, falta de recursos e em uma estrutura praticamente pronta, o Hospital de Guaíba resume-se a corredores vazios, poeira, aparelhos encaixotados e cheiro de salas fechadas. O Diário Gaúcho acompanha a situação do local desde julho de 2015. A mais recente promessa, feita em julho do ano passado, era de que pelos menos a maternidade seria aberta no primeiro semestre de 2018. Não foi. Agora, a prefeitura admite: não há previsão para que o hospital abra as portas.
O prédio tem capacidade de 72 leitos hospitalares, bloco cirúrgico e ala de internação. Atualmente, o setor de radiologia, na área frontal, é o único em funcionamento.
Assim, os moradores de Guaíba e região seguem sem um hospital que seja 100% SUS, e as gestantes precisam percorrer mais de 30 quilômetros até alguma maternidade em Porto Alegre para terem os seus filhos pelo sistema público. A população conta com dez postos de saúde e uma unidade de Pronto-Atendimento. A prefeitura explica que o pronto-atendimento recebe também pacientes das cidades da redondeza, por isso há uma urgência para a abertura do hospital.
Falta de recursos
Para, pelo menos, a maternidade abrir, é necessária uma reforma do prédio, com exigências feitas pela Vigilância Sanitária, ainda em 2015. Na época, foram 58 modificações identificadas, como colocação de torneiras automáticas nos sanitários e reconstrução da área de esgoto. As reformas custariam em torno de R$ 3 milhões. O valor já investido pela prefeitura e Estado para a construção da estrutura soma R$ 5,1 milhões.
O secretário da saúde de Guaíba, Jocir Panazzolo, enfatiza que a prefeitura não tem como custear os gastos. Nem para as adequações, tampouco para manter o hospital depois de aberto.
– A prefeitura não tem recursos próprios. Estamos em tratativa com o Estado para fazer uma contratualização, para que assumam parte dos custos – diz Jocir.
Para manter a maternidade aberta precisariam ser desembolsados R$ 400 mil mensais. Já para hospital completo, a necessidade seria de mais de R$ 1,6 milhão mensais.
Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) afirmou que ocorreram duas reuniões com a gestão de Guaíba, na qual ficou combinado que o município enviará um plano operativo com o perfil do estabelecimento e procedimentos que serão oferecidos ao SUS. A SES aguarda o retorno da documentação.
Maternidade faz falta
Guaíba não tem uma maternidade que atenda pelo sistema público desde 2009, quando a Justiça fechou a única que havia na cidade, no Nossa Senhora do Livramento. Cruzar a ponte para dar à luz em Porto Alegre é a realidade das mulheres que são atendidas pelo SUS. A maternidade do Hospital de Guaíba seria um alívio.
A demora para a marcação das consultas do pré-natal pelo SUS fez Tamyris Silveira de Souza, 23 anos, optar por fazer o acompanhamento pelo sistema privado. Porém, vai ganhar a filha pelo sistema público, ou seja, precisará ir até Porto Alegre. A previsão é de que Helena nasça em outubro.
– Corro o risco de ter minha filha na metade do caminho. Ou, de ter as contrações, chegar lá, a bebê não nascer e me mandarem de volta para casa, e eu ficar em um vai e vem – aponta Tamyris.
Uma adolescente de 15 anos precisou percorrer os mais de 30km até Porto Alegre em meio à greve dos caminhoneiros, em maio.
– Faltou gasolina e tivemos que ficar duas horas na fila do posto de gasolina para abastecer. Cheguei no hospital já ganhando meu filho – recorda.