Na noite de quinta-feira (11), o bombeiro voluntário Matheus Cardoso recebeu uma ligação pelo 193 de uma mãe que, chorando, pedia ajuda para seu bebê recém-nascido, que estava sem respirar. O bebê de 12 dias estava sendo amamentado quando se afogou com o refluxo. Pelo telefone, Matheus passou instruções para a mãe da criança de como proceder. Alguns minutos depois, o bebê voltou a respirar. O caso aconteceu no município de Teutônia, no Vale do Taquari, a 125 quilômetros de Porto Alegre.
Matheus agiu conforme ensinam os passos da corporação. Acalmou a mãe, pediu o endereço de onde ela estava, mandou a ambulância. Enquanto isso, perguntou as características do bebê – idade e se havia alguma alteração na cor da pele – e instruiu a mãe sobre como ajudar a criança. Mesmo sabendo que o bebê já não estava mais engasgado, a ambulância se deslocou até o local:
— Por telefone mesmo ela já tinha me relatado que o bebê tinha voltado a respirar. Mas mandamos uma ambulância mesmo assim, até para ter certeza de que ele não precisaria ir ao hospital — disse Matheus.
Benjamin Roitman, médico pediatra e membro da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, afirma que casos assim são bem raros de acontecer .
— Nesse caso de engasgo por refluxo, é extremamente raro que a criança morra. As crianças nascem com um mecanismo para se proteger, elas tossem e voltam a respirar normalmente. Claro, às vezes isso falha, como foi o caso de Teutônia.
Embora haja prevenção para outras situações de perigo citadas pelo médico, como a morte súbita do lactente, associada a posição de bruços – por isso se indica que a criança durma de barriga pra cima –, o afogamento pelo vômito é difícil de evitar:
— A criança estava sendo amamentada, a mãe estava dando o melhor alimento pro filho, não há nada de errado para apontar nessa história. É um evento fortuito, raro de acontecer. O mais comum é se engasgar com alimentos sólidos — alerta Benjamin.
No entanto, o médico frisa que vômitos são extremamente comuns e não devem ser alvo de constante preocupação.
— Menos de 10% das crianças têm problemas sérios com vômito, que precisam ser tratados — afirma o pediatra. — A grande maioria dos casos se resolvem apenas com os mecanismos de defesa próprio do corpo.
Quem é o bombeiro
Matheus Cardoso conta que trabalha há quatro anos como bombeiro voluntário em Teutônia. Ele entrou leigo na corporação e todo o preparo que tem – mais de 300 horas de treinamentos e cursos – foram feitos no município:
— Já faz quatro anos que eu sou voluntário. Atuei por três meses como comandante operacional da corporação. Apesar de já totalizar mais de 300 horas de cursos e treinamentos, eu entrei leigo na corporação. Não tinha noção nenhuma de atendimento. Foi em Teutônia que recebi os treinamentos. Junto com a vontade de fazer acontecer, a gente consegue desenvolver um trabalho bom — conta Matheus.
Quem primeiro atendeu a ligação foi um colega de Matheus, que repassou o caso para ele devido a sua experiência. O bombeiro voluntário relata outro momento em que o atendimento por telefone foi essencial para salvar uma vida:
— Uma vez atendi uma situação parecida, mas era de afogamento em uma piscina. Uma criança caiu nela e se afogou. O pai ligou para nós e passamos as informações para ajudar o filho até a ambulância chegar. E também deu tudo certo, a criança sobreviveu sem nenhuma sequela — relata.
Para casos semelhantes, Matheus dá algumas dicas de como agir:
— Nesse caso de recém-nascido, a orientação é ter cuidado na coloração do bebê. Quando começa a ficar azulado ou roxo, é sinal de que ele não está respirando, que está com alguma obstrução nas vias aéreas. O que se deve fazer, em caso de engasgo, é a manobra de Heimlich: virar a criança de bruços, colocar os dedos indicador e médio no queixo da criança para liberar as vias e dar tapinhas, não muito fortes, nas costas até a criança voltar a respirar ou chorar — explica.