O Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) lançou a maior análise de dados já feita no mundo sobre os benefícios do aleitamento materno. O primeiro artigo de uma série com base em 1,3 mil estudos e índices de 153 países foi publicado nesta sexta-feira (29) na revista cientifica The Lancet, na Inglaterra. Segundo os cientistas, a amamentação pode evitar mais de 800 mil mortes infantis, o equivalente a 13% de todas as mortes das crianças menores de dois anos, além de 20 mil mortes por câncer de mama em mulheres.
A pesquisa revela que apenas uma em cada cinco crianças é amamentada até os 12 meses de idade em países de renda alta, e uma em cada três recebe amamentação exclusiva até os seis meses em países de renda baixa e média. De acordo com o pesquisador Cesar Victora, a análise desconstrói a ideia de que o aleitamento materno reduz infecções e mortalidade apenas em famílias em vulnerabilidade social. “Nosso trabalho mostra claramente que a amamentação salva vidas e reduz gastos financeiros em todos os países, ricos e pobres”, afirma Victora.
O índice é alarmante também na economia global: a falta da amamentação causa prejuízos de US$ 302 bilhões por ano aos governos com o tratamento de doenças comuns na infância, como diarreia e asma. Só o Brasil poderia economizar R$ 24 milhões com o aumento da prática.
Uma barreira mundial para o tema é a promoção agressiva dos substitutos do leite materno. As análises da UFPel mostram a interferência da indústria global do leite em pó - as vendas desses produtos passaram de US$ 2 bilhões em 1987 para US$ 40 bilhões em 2014.
Mas os cientistas dão a boa notícia: o aleitamento materno pode ser alavancado por meio de políticas públicas, como em casos comprovados. No Brasil, a duração da amamentação saltou de 2,5 meses, em 1974, para 14 meses em, 2006, a partir de uma combinação de iniciativas. Em Bangladesh, por exemplo, as taxas de aleitamento materno exclusivo aumentaram em 13%, como resultado de uma série de intervenções-chave, incluindo licença de maternidade de seis meses e formação de profissionais de saúde.