As primeiras 30 famílias vindas de abrigos serão conduzidas ao Centro Humanitário de Acolhimento Recomeço, situado nas imediações da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, na Região Metropolitana, nesta quinta-feira (4). Às 9h, haverá uma cerimônia de abertura do espaço com a presença do governador Eduardo Leite. A partir das 14h, os desabrigados da enchente de maio começam a ser instalados nas 126 unidades habitacionais de emergência. Até 15 de julho, 630 pessoas estarão vivendo no local.
— Isto aqui é uma estrutura que o Rio Grande do Sul nunca teve. Vamos tirar as pessoas de uma condição de abrigamento provisório, como uma quadra de esportes ou uma sala de aula, e restabelecer suas condições de vida em família — afirma o secretário executivo de Projetos Especiais do Gabinete do Vice-governador, Clovis Magalhães.
Trata-se do primeiro centro de acolhimento para vítimas da enchente no Estado. Outros dois estão em processo de construção. Um será no Centro Olímpico Municipal, também em Canoas, enquanto o terceiro ficará no Centro Vida, localizado na zona norte de Porto Alegre.
Nesta quarta-feira (3), a reportagem de Zero Hora circulou pela área particular que foi alugada pela prefeitura de Canoas para servir como centro de acolhimento. Antes, havia uma planta industrial desativada no espaço de cerca de 3 mil metros quadrados. A montagem da estrutura levou 31 dias. As primeiras famílias acolhidas passaram por critérios de escolha (confira, mais abaixo, quais são).
Cedidas pela Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e utilizadas em diversos países do mundo em situação de vulnerabilidade social, as unidades são padronizadas e podem abrigar cinco pessoas. A construção é feita de polietileno com revestimento de tinta mais resistente aos efeitos do sol. Não há energia elétrica dentro delas. A iluminação será fotovoltaica. Os espaços estão com camas de solteiro, casal, beliches e cobertores à espera dos moradores temporários.
— Trabalho há algum tempo com respostas emergenciais. A Organização Internacional para as Migrações (OIM, responsável pela gestão do espaço) tem em seu DNA a vocação para apoiar — compartilha o coordenador operacional da OIM, Eugênio Guimarães, que veio em 14 de maio do Recife para auxiliar os flagelados gaúchos.
As famílias terão três refeições diárias no refeitório coletivo com capacidade para 450 pessoas. Fornecida pela OIM, a alimentação não será feita na cozinha, apenas abrigada nela. Os banheiros são coletivos, mas há divisões por gênero e para Pessoas com Deficiência (PCD). Também há sanitários e vestiários. Foram instalados 48 chuveiros.
Em um dos espaços fica o lactário/fraldário, onde as mães poderão amamentar os bebês, colocá-los para dormir em berços, trocar as fraldas deles em mesas já montadas e esquentar as mamadeiras em dois microondas. Também há bebedouros de água e poltronas para o ato de amamentação.
Em frente ao lactário pode ser visto o espaço das crianças, com brinquedos que ajudam no desenvolvimento motor dos pequenos, além de livros e materiais escolares. Os serviços oferecidos incluem acompanhamento psicopedagógico especializado, apoio de psicólogos para lidar com estresse pós-traumático e acompanhamento de pediatras especializados em desenvolvimento infantil. Um cartaz contendo mensagens de solidariedade, cartinhas e desenhos foi colocado na sala. Trata-se de uma iniciativa feita por crianças do Paraná. Este espaço foi financiado e montado pela empresa Cordeiro Kids, de Curitiba.
Há lavanderia com 16 máquinas, sendo oito para lavar e outras oito para secar as roupas. As doações vieram da Brastemp e da Consul. Espaços de convivência, multiuso (com televisão e computadores), almoxarifado e para pets foram instalados no centro. Em relação aos animais de estimação, ainda está sendo preparada uma área externa de passeio.
Parte das unidades fica localizada perto do refeitório e dentro de um espaço coberto. Outra está montada ao ar livre, sendo que foi preciso fazer terraplanagem no piso em um dos cantos do terreno. Há sinal de Wi-Fi fornecido pela Oi e tomadas para carregamento de celular em diversos pontos. No pavimento superior ficam salas para os administradores do espaço. Apenas da OIM serão 34 pessoas trabalhando para auxiliar as famílias.
Um ônibus da Brigada Militar e agentes da Guarda Municipal serão responsáveis pela segurança das famílias durante a estadia delas. Serão oferecidos ainda atendimento odontológico e psicossocial para os acolhidos. A Fecomércio RS financiou a estrutura e o pagamento da gestão do centro.
Critérios adotados para adesão das famílias
- Se a família é monoparental (se possui filhos e apenas um dos pais)
- Se há idosos na família
- Se há Pessoa com Deficiência (PCD)
- Se há gestantes na família
- Se há pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) na família
- Número de membros da família
- Especificidades de cada família, a fim de assegurar o acolhimento adequado àquelas mais vulneráveis.