Um dos símbolos de Porto Alegre, a Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes está entre os incontáveis bens atingidos pela inundação de maio. Ainda coberta de lama em parte de seus ambientes, a paróquia aguarda apoio da comunidade e do poder público para restaurar seus espaços e reabrir as portas. Mutirão de limpeza ocorrerá a partir da manhã deste sábado (8).
— Superação é a palavra mais forte neste momento. Vai levar tempo, mas vamos superar esta situação. Não podemos desanimar. O primeiro passo é alimentar o sentimento de esperança nas pessoas — define o padre Remi Maldaner.
Aos 82 anos, o pároco trabalha na restauração de seu local de trabalho há uma semana. Carrega os sapatos e o chapéu nas mãos, enquanto se desloca de botas pelo lamaçal, que reveste todo o pátio da edificação inaugurada em 1913.
A casa da padroeira de Porto Alegre — para quem a devoção é celebrada em todo 2 de fevereiro — havia sido originalmente inaugurada em 1875. Um incêndio, ocorrido em 1910, destruiu o prédio.
A fé resistiu ao fogo. A igreja foi reconstruída. Mais de um século depois, volta a ser desafiada por forças elementares.
— A água voltou a ocupar o espaço que o homem lhe tomou. De agora em diante, precisaremos estar preparados. Esta é a grade lição — aponta o líder religioso.
Enchente chegou em 2 de maio
Padre Remi conta que foi convencido a deixar a igreja na noite de 2 de maio. A decisão foi providencial. Naquela madrugada, a cheia atingiu o local. No dia seguinte, assim como outros endereços históricos da cidade, o lugar ficou isolado pela água fétida que elevou-se pela vazão do Guaíba e pelo transbordamento de esgotos.
Os danos foram diversos. A casa paroquial, um solar erguido em 1946, teve o primeiro pavimento alagado. Móveis, documentos, fotos e utensílios foram devastados. Dois salões, os quais juntos acolhem até 300 pessoas em jantares e outros eventos, tiveram todos os equipamentos de cozinha e serviço de alimentação inutilizados.
O primeiro passo é alimentar o sentimento de esperança nas pessoas.
REMI MALDANER
Padre
Dependências acessórias, como salas de estudos e atividades comunitárias, perderam toda sua estrutura interna. A água, diante da fachada da igreja, chegou a quase dois metros. A nave teve cheia parcial, que chegou próxima aos assentos de seus grandes bancos de madeira.
Até a tarde desta quinta-feira (6), parte destas áreas havia sido limpa. Porém, as calçadas e o jardim frontais e laterais ainda estão atolados em lama. Uma grande pilha de pedaços de móveis estragados e outros descartes obstruía o caminho entre os ambientes. Há muito material a ser removido e consertado.
Em meio ao cenário incomum ao lugar que é uma referência para Porto Alegre, um alento:
— A imagem da Santa foi preservada. A fé, que traz fiéis de todas as partes para missas, procissões e festas, trará força e ajuda neste mutirão para recuperarmos a igreja da nossa padroeira — pontua o padre.
DMLU diz que vai auxiliar mutirão
"A respeito do pedido de apoio feito pela Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, por meio do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), informa que as equipes do Setor Norte irão apoiar o mutirão de limpeza programado para este sábado, nos arredores da igreja", diz a nota encaminhada a GZH.
O órgão da prefeitura da Capital afirma que serviços na região já foram executados e, nesta semana, estão sendo feitas passagens para a retirada dos resíduos pós-enchente. Até esta sexta-feira (7), conforme o DMLU, foram recolhidas mais de 41 mil toneladas de resíduos.