Na zona sul de Porto Alegre, a Vila dos Sargentos vive uma das situações mais críticas do bairro Serraria. A localidade está praticamente isolada e o acesso só é possível através de barcos e caminhões do Exército. A reportagem acompanhou a situação da comunidade local nesta sexta-feira (17).
Entre os atingidos, está o morador Vitor Martins e sua família. Há cerca de três meses, para trazer maior conforto e lazer aos filhos, ele se mudou com a esposa para uma casa com quintal, que ficava próxima à beira do Guaíba. Com a enchente, restou somente a estrutura do lar.
— Perdi tudo. Tínhamos levantado os móveis em cima de bancos, mas eles também acabaram quebrando pela força da água — contou Vitor.
O relato foi feito à reportagem enquanto ele conduzia um dos barcos que serve de transporte aos moradores. Revelou ainda que não foi a primeira vez em que foi afetado. No ano passado, em setembro, também viu sua antiga casa ser invadida pela água.
Mesmo vivendo uma situação difícil, ele auxilia outros moradores a se deslocarem pela água. Martins realiza o trabalho com o companheiro de embarcação, Valdecir Trindade. Apesar de não ter sido afetado diretamente pela enchente, este ajuda a população a se deslocar pelas ruas alagadas. O trabalho é complementar ao do Exército, que presta o serviço de transporte por meio de seus caminhões.
"A vida nunca foi fácil e não seria agora", desabafa morador
Com as calças dobradas até o joelho, Jair da Silva trabalhava na água para ajudar a montar uma passagem de madeira para que os moradores pudessem acessar um mercadinho do bairro.
Ele foi mais um da região que viu a água invadir a sua casa. Sua lojinha, que fica na Rua Leodoro Pereira da Silva, foi o pouco que sobrou. Mesmo diante do cenário e das dificuldades, desistir não é uma opção.
— A vida nunca foi fácil e não seria agora. Mas o povo gaúcho é forte.
Moradores mobilizados
Outros problemas relatados pela comunidade local à reportagem dizem respeito ao acúmulo de lixo e à falta de luz. Com o recuo da água foi possível observar diversos sacos boiando. Além disso, a maioria das pessoas está sem energia elétrica há 15 dias.
Como em diversas regiões afetadas pela enchente histórica, a solidariedade e a união estão fazendo a diferença para garantir o mínimo de bem-estar para as pessoas. A escola Wlanir Porto virou um ponto de referência no auxílio aos mais atingidos. O trabalho é comandado pelo líder comunitário Diego Martins.
Através de doações, o trabalho em equipe procura oferecer quatro refeições a quem está fora de casa. Em média, são fornecidas mais de 500 marmitas por dia. Apesar da ajuda oferecida pelo Exército no transporte, o líder comunitário diz sentir falta de ajuda do poder público.
— Todas as doações que estão chegando são de pessoas físicas, não veio nada do poder público aqui para dentro — disse Diego Martins.
Zero Hora apurou junto à integrantes da prefeitura de Porto Alegre que o ponto de referência para moradores da Vila dos Sargentos fica no CTG Roda de Chimarrão, também na região da Serraria. Desde 5 de maio, o local abriga pessoas e é um ponto esporádico de distribuição de doações, isto é, o foco é no atendimento de quem está no local. Os itens são destinados para o público externo quando há excedentes.
Antes de ser estruturado no CTG, o abrigo ficava na escola Custódio de Mello, na própria Vila dos Sargentos. Contudo, a prefeitura argumenta que o ponto ficou isolado em função dos alagamentos e não tinha mais energia elétrica, fatores que motivaram a mudança.
Pedidos devem ser feitos por canais oficiais
A Prefeitura de Porto Alegre informou que a escola Wlanir Porto é uma organização da sociedade civil, parceira do município no atendimento da Educação Infantil naquela comunidade. Segundo o comunicado, o abrigo de pessoas no local é uma iniciativa de voluntários e não possui gestão pública. Para receberem suporte humanitário, representantes desta iniciativa precisam comunicar suas demandas pelos canais oficiais do poder público.
"As demandas de triagem da rede de acolhimento temporária devem ser registradas por meio do sistema 156. No telefone, basta digitar a opção 0 (zero). Já no WhatsApp (51 3433-0156), é preciso acessar a opção 1. O encaminhamento acontece das 8h às 18h", indica a nota da prefeitura.