Representantes de nove religiões e lideranças da sociedade civil gaúcha promoveram, nesta segunda-feira (23), uma ação intitulada "Ato pela paz e contra o terrorismo", no Theatro São Pedro, em Porto Alegre. O evento contou com as presenças do governador Eduardo Leite, do vice Gabriel Souza e do prefeito Sebastião Melo.
O cerimonial foi conduzido pelo jornalista Tulio Milman, que iniciou sua fala às 19h30min, lendo um manifesto elaborado pelo Grupo de Diálogo Inter-Religioso.
No texto, o grupo lamenta pelas vidas perdidas no conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas e afirma reconhecer que "israelenses e palestinos enfrentam desafios e preocupações legítimas." Contudo, pondera que "a violência e o terrorismo só perpetuam o ciclo de dor, prejudicando famílias, comunidades e, acima de tudo, o objetivo fundamental de alcançar a paz."
Três pedidos do manifesto
O manifesto também faz um apelo à comunidade internacional pedindo para:
- Condenar todos os atos de terrorismo e violência e buscar soluções pacíficas para os conflitos.
- Trabalhar em prol de uma solução de dois Estados, com fronteiras internacionalmente reconhecidas, onde Israel e Palestina possam coexistir de maneira segura e independente, com respeito e reconhecimento mútuo.
- Exigir a libertação imediata e incondicional dos reféns mantidos pelos terroristas do Hamas, bem como o acesso imediato da ajuda humanitária à população na região em conflito.
Um vídeo com cenas de ataques terroristas foi exibido no telão. Cinco meninos subiram ao palco carregando, lado a lado, as bandeiras de Israel e da Palestina. Na sequência, músicos convidados executaram a canção Imagine, de John Lennon, considerada um hino universal pela paz.
Os nove líderes religiosos foram chamados ao palco para apresentar mensagens pedindo o fim da guerra e da violência. Eles convidaram os presentes no São Pedro a fazer uma prece silenciosa, cada um de acordo com a sua fé.
O grupo
Reconhecido pela Lei Municipal 10.372, de 25/1/2008, o Grupo de Diálogo Inter-Religioso de Porto Alegre reúne as religiões umbanda e cultos afro-brasileiros, fé bahái, cristãs (católica, anglicana e luterana no Brasil), islâmica, judaica, espírita, budista tibetana e budista zen.
Guershon Kwasniewski, coordenador do Grupo de Diálogo Inter-Religioso de Porto Alegre e rabino da Sociedade Israelita Brasileira de Cultura e Beneficência (Sibra), destacou que a luta contra o terrorismo não é restrita a um povo, mas uma meta global.
— Hoje, esse terrorismo tem nome e sobrenome, é o Hamas, que está atacando uma população civil. Existe um conflito com vítimas, existe um conflito com pessoas sequestradas, crianças, idosos, jovens, que desejam voltar para os seus lares. Aqui não se trata de um problema apenas entre Israel e palestinos, aqui se trata de um problema da humanidade — salientou.
Além do rabino, estiveram presentes Minou Vahdat Steiger e Renato Vahdat Steiger (Fé Bahá'í); Tito de Xangô e Mauro de Ogum (Umbanda); Maria da Graça Malagueta (Federação Espírita do RS); Álvaro Pires (Igreja Católica); Reverendo Jerry Andrei dos Santos (Igreja Episcopal Anglicana do Brasil).
Autoridades políticas se manifestam
Em sua fala, o vice-prefeito Ricardo Gomes citou o ex-primeiro ministro do Reino Unido Winston Churchill e sua defesa da "vitória a qualquer custo".
— Não haverá paz, enquanto houver Hamas — afirmou Gomes, que foi muito aplaudido.
O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, ressaltou o pluralismo da Capital e frisou que a causa do conflito no Oriente Médio é a intolerância.
— O mundo levou três séculos para encontrar um caminho de tolerância e de convivência, pois esse momento está sendo quebrado agora, ele precisa ser repudiado. O terrorismo não é o caminho, a paz é o caminho — disse Melo.
O governador Eduardo Leite ressaltou que, embora o conflito ocorra no Oriente Médio, ele fere toda a humanidade. Ele também frisou a importância da construção de uma rede de solidariedade em defesa da paz.
— Essa formação de uma corrente de solidariedade, de manifestação clara, de desejo pela paz, de condenação ao terror, ela de alguma forma ajuda a resgatar ou a proteger o que a humanidade precisa que seja protegido, que é o amor, a sensibilidade, se importar com o outro — disse Leite.
Marcio Chachamovich, presidente da Federação Israelita do RS, diz que a entidade vê o conflito com muita preocupação e rechaça pessoas que “acabam apoiando o terrorismo de alguma forma, descontextualizando, relativizando o que aconteceu lá”.
— Não basta termos apenas a paz, nós temos que repudiar o terror, temos que condenar o terror, não podemos aceitar o que aconteceu em Israel, porque 1,4 mil pessoas foram assassinadas. Nós não podemos simplesmente passar a mão. O que aconteceu foi gravíssimo e o mundo tem que entender isso — disse.
Kalil Sehbe Neto, presidente da Sociedade Libanesa do RS, enfatizou que a luta pela paz deve ser baseada no respeito.
— Acho que a coisa mais importante é tudo pela paz. E quando se diz tudo pela paz, tem que se respeitar. E não tem que ter espaço para violência. E não tendo espaço para violência, a gente tem que conviver. E que o Brasil seja de um espelho para a sociedade. Eu acho que nós estamos no caminho certo, nós não temos que ter lados, o lado é o amor no coração e a paz. E que Deus proteja todos e que podemos ter um mundo melhor.
Ao final, todos os organizadores do ato subiram ao palco segurando velas e entoaram, juntos, o Hino Rio-Grandense, que foi conduzido pelo músico Ernesto Fagundes.