Com atrações como praias, trilhas ecológicas e uma diversificada fauna e flora, o Parque Estadual de Itapuã completa 50 anos nesta sexta-feira (14). Localizado em Viamão, na Região Metropolitana, e distante 57 quilômetros do centro de Porto Alegre, o local é uma Unidade de Conservação de Proteção Integral do Rio Grande do Sul e possui área de quase 5,57 mil hectares.
O Farol de Itapuã, que demarca o encontro das águas da foz do Guaíba com a Lagoa dos Patos, fica dentro de seus limites. Apesar de não ser aberto à visitação, é um dos símbolos mais importantes dali.
Em atividade desde 1º de março de 1860, a construção possui 13 metros de altura e 12 milhas de alcance luminoso. Marinheiros são responsáveis pela manutenção do farol, que garante a segurança dos navegadores. Antigamente, onde hoje se localiza a estrutura, havia uma fortificação dos farrapos.
— O Parque de Itapuã é único no sentido de ter uma biodiversidade bem peculiar e característica daqui. Está em um ambiente de transição entre Mata Atlântica e Pampa — afirma a bióloga Dayse Rocha, gestora do parque e vinculada à Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema).
Além da variedade do ecossistema, o Parque Estadual de Itapuã abriga ainda elementos históricos de episódios relacionados à Revolução Farroupilha (1835-1845) no Morro da Fortaleza, na Ilha do Junco e na Ferraria dos Farrapos.
— O Parque de Itapuã é um ambiente riquíssimo, com uma biodiversidade escandalosa de tantos animais e flora. É uma coisa extraordinária, porque a pessoa encontra tudo o que tem no RS aqui dentro — prossegue a bióloga.
Quem se aventurar pelos meandros, pelas dunas e pelos morros do parque terá encontros com a natureza em seu aspecto mais rústico.
— O visitante pode escolher entre duas praias que estão disponíveis ou agendar uma das quatro trilhas — cita a gestora, que é natural de Sergipe, em relação às atividades mais procuradas.
Ainda é possível conhecer o Centro de Visitantes, o minimuseu e acompanhar uma palestra ou assistir a um vídeo.
Percurso até virar unidade protegida teve capítulos difíceis
Antes de se tornar um verdadeiro paraíso preservado, houve um extenso processo de desapropriação, já que casas e fazendas estavam em seus limites. O primeiro decreto que foi publicado pelo governo do Estado para a criação do parque é de 14 de julho de 1973 — há exatos 50 anos.
Problemas com caçadores e pescadores ilegais, além da ação de pedreiras — que exploravam o granito rosa, deixando como rastro crateras nos morros —, eram situações comuns. A unidade de conservação sofreu com acampamentos feitos por turistas e, ainda, com as queimadas no passado. Apenas a Praia de Fora, por exemplo, chegou a abrigar 1,2 mil casas construídas ilegalmente por posseiros.
Com a inclusão da Lagoa Negra, a área do parque aumentou em 1991. O mesmo se repetiu dois anos mais tarde, quando foram anexadas as ilhas das Pombas, do Junco e da Ponta Escura. O objetivo para a criação da unidade era proteger os últimos resquícios de Mata Atlântica e de vegetação lacustre na Região Metropolitana.
Fechado desde 1991, para a recuperação dos ecossistemas e da estrutura administrativa, o parque foi reaberto em abril de 2002. Nesse período sem receber público, as casas de invasores e de proprietários de áreas dentro da unidade deram lugar a espaços com churrasqueiras, para lazer e estacionamento.
Praias da Pedreira e das Pombas estão abertas ao público
Atualmente, duas praias estão abertas a visitação: as da Pedreira e das Pombas. Cerca de 50 churrasqueiras, mais mesas e bancos de pedra estão distribuídas por cada uma delas, assim como banheiros com vestiário e chuveiros, além de lixeiras. Os locais possuem vigilância 24 horas por dia e há estacionamento. Já a Praia de Fora está fechada em função de problemas de falta de água.
A Praia da Pedreira, que tem cerca de 700 metros de orla, é muito procurada por famílias com crianças pela tranquilidade de suas águas. É possível ver o Farol de Itapuã a uma distância de 3,1 quilômetros, o que leva os visitantes a escolherem esse espaço do parque. Também possui um trapiche de madeira interditado e exibe um barco apreendido nas águas da unidade com pesca irregular.
No último dia 5, quando a reportagem de GZH esteve em Itapuã, havia restos de vegetais na orla da Praia da Pedreira. Foram trazidos pelo ciclone extratropical que atingiu o RS na segunda quinzena de junho. A praia tem capacidade de receber 200 pessoas por dia.
Com extensa arborização na região da orla, a Praia das Pombas, com 800 metros de extensão, é a mais próxima do Centro de Visitantes (1,5 quilômetro de distância), local que abriga o minimuseu, um auditório com 50 lugares e onde fica a recepção do parque.
De sua orla é possível vislumbrar, à esquerda, o morro onde é realizada a Trilha da Onça. Também permite enxergar, à direita, a Ilha das Pombas. A capacidade é para 350 visitantes diários.
O Parque de Itapuã — palavra de origem indígena guarani que significa "ponta de pedra", ou ainda, pedra levantada ou pedra redonda — oferece quatro trilhas interpretativas, que necessitam ser agendadas previamente com condutores autônomos credenciados. Tratam-se das trilhas da Visão, Onça, Fortaleza e Araçá. Nenhuma delas apresenta elevado grau de dificuldade.
— A Trilha da Visão é a mais procurada por todos, porque oferece uma vista linda de parte do Guaíba e da Lagoa dos Patos — diz Dayse.
Durante as trilhas, o visitante poderá descobrir mais sobre a fauna e flora, além de conhecer a história dos sítios arqueológicos da tradição tupi-guarani e umbu, da Revolução Farroupilha e da implementação da Unidade de Conservação. Nenhuma das trilhas conduz até o Farol de Itapuã.
Espécies da fauna ameaçadas ou não de extinção habitam o lugar, como o bugio-ruivo, o jacaré-de-papo-amarelo, a lontra e a capivara. Há registros feitos em 2018, por câmeras noturnas, da passagem por suas matas até de uma onça-parda, conhecida também como puma. Trata-se do segundo maior felino do continente, atrás da onça-pintada.
Em razão de tantos animais, existe uma intensa vigilância para afastar caçadores e pescadores da unidade.
Formações vegetais características dos morros graníticos, casos da figueira, da corticeira-do-banhado, do gerivá, das orquídeas e das bromélias também se espraiam pelos hectares do lugar.
— Fazemos patrulha por terra e por água — esclarece o guarda-parque Júlio Cirne, dizendo que fatos como invasões e caças acontecem geralmente à noite.
O grande pulmão da Região Metropolitana está aqui no Parque de Itapuã.
DAYSE ROCHA
Gestora do parque
Pesquisas científicas são desenvolvidas envolvendo o ecossistema local. Escolas, assim como universidades e Centros de Referência de Assistência Social (Cras), agendam visitas para os alunos poderem percorrer alguma das trilhas oferecidas.
Também há duas estações de monitoramento meteorológico dentro do Parque de Itapuã. Uma fica situada na Praia da Pedreira e outra às margens da Lagoa Negra, a única com águas escuras do RS.
Mas o visitante precisa estar atento ao que é permitido ou não fazer no parque (leia mais abaixo). Além disso, se a pessoa pretende realizar piquenique ou churrasco, por exemplo, precisa levar o que for comer, beber, além de itens como pratos, copos, talheres, gelo e carvão. Não existe lancheria ou comércio dentro da unidade. Também não é oferecido passeio de barco aos turistas. De resto, é aproveitar o parque que fica aberto durante o ano inteiro.
— O grande pulmão da Região Metropolitana está aqui no Parque de Itapuã — conclui a gestora.
Ambientalistas descrevem características do ecossistema existente
O diretor do Instituto do Meio Ambiente da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Nelson Fontoura, compartilha o que considera importante em relação ao Parque de Itapuã.
— Trata-se de uma área realmente muito significativa, que pega o bioma Mata Atlântica, que sofreu o maior impacto de devastação na América do Sul — observa.
Para Fontoura, o parque é o que chama de "mosaico de fisionomias".
— Na região dos morros, temos floresta estacional semidecidual, que é um tipo de vegetação daqui — ensina, citando ainda o Pontal das Desertas e a região de restingas perto da Lagoa Negra.
— Esse complexo de vegetações diferentes é o que traz uma riqueza muito grande ao parque — salienta.
Conforme o diretor, entre o Morro da Fortaleza e a Ilha do Junco existe uma área de 46 metros de profundidade na água. Os pescadores de Itapuã costumavam procurar na região o bagre-branco, atualmente proibido de ser pescado.
— Em um levantamento que fizemos há alguns anos, o local onde tinha a maior concentração de bagres era na região mais sul do Guaíba, justamente junto ao Parque de Itapuã — revela.
O geólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Rualdo Menegat, responsável pelo Atlas Ambiental de Porto Alegre, também reflete sobre as funções de Itapuã.
— Ali há um peculiar encontro de paisagens na interface entre a mais extensa e larga planície litorânea brasileira, onde situam-se grandes e pequenas lagoas, e os morros graníticos do Planalto Sul-Rio-Grandense — explana.
Segundo detalha, no topo desses morros, se percebe a imensidão de grandes espelhos de água doce — da Lagoa do Casamento (a leste) e do Guaíba (a oeste), que se conectam com a Lagoa dos Patos (para o sudoeste).
— As margens dessas lagoas são desenhadas caprichosamente por enseadas e esporões arenosos — menciona.
Na avaliação de Menegat, de fato, o parque é um oásis.
— Há tanta variedade de recantos florísticos, faunísticos, geológicos, geomorfológicos, paisagísticos, que o conjunto é um verdadeiro jardim natural da nossa Terra — ressalta.
— Toda essa natureza prístina guarda a memória e o DNA da maravilhosa paisagem da região metropolitana de Porto Alegre e Viamão. Um prêmio para nós e para as gerações futuras que devemos zelar como se fosse um santuário de nossas origens — acrescenta.
Presidente da Fundação Gaia, Lara Lutzenberger lembra do engajamento do pai (José Lutzenberger) em defesa do parque.
— Ao perceber a ameaça brutal da exploração mineral incipiente em Itapuã, no início dos anos 1970, meu pai se engajou fortemente por sua preservação, alertando a sociedade de que, caso isso não fosse cessado, "restaria uma paisagem desfigurada, que atestaria para toda posteridade nossa degradante insensibilidade" — afirma.
A bióloga comenta sobre a necessidade de se conectar mais a unidade junto ao público.
— Passados 50 anos, felizmente, Itapuã resta preservada, mas carece de vinculação com a sociedade para despertar nesta a mesma paixão que moveu o meu pai. Precisamos todos frequentar delicada e respeitosamente esse lugar que, além de lindo, nos permite compreender a paisagem original sobre a qual se estabelece Porto Alegre — reflete.
SERVIÇO
Parque Estadual de Itapuã
- Onde fica: Rua Dona Maria Leopoldina de Fraga Cirne, s/n°, em Itapuã, Viamão
- Visitação: de quarta-feira a domingo (independentemente de feriados), das 9h às 19h
- Ingressos: R$ 21,65 (integral) e R$ 10,83 (meia-entrada). Os ingressos são vendidos apenas no parque, das 9h às 17h (com intervalo ao meio-dia). Só é aceito dinheiro (não se aceitam cartões nem Pix). Em razão do aniversário, o ingresso no parque nesta sexta-feira, sábado e domingo será um quilo de alimento não perecível. No domingo, das 9h às 12h, haverá a realização de passeio ciclístico com guia pelas praias das Pombas, Pedreira e de Fora. Esta atividade será paga. Informações sobre o passeio podem ser obtidas no WhatsApp (51) 99978-6515.
Quem tem direito à meia-entrada mediante comprovação:
- Estudantes com carteirinha
- Idosos a partir de 60 anos
- Doadores de sangue com comprovante
- Crianças de 2 aos 12 anos
- Pessoas com deficiência
- Obs: crianças até 2 anos não pagam.
Praias abertas à visitação:
- Praia da Pedreira (capacidade até 200 pessoas)
- Praia das Pombas (capacidade até 350 pessoas)
O que não é permitido:
- Circular com bicicletas nas praias
- Entrada de animais domésticos
- Tirar fotos para uso comercial
- Boias (exceto as de braço)
- Som alto
- Caça e pesca
- Barracas de camping
- Prática de esportes com bola ou raquetes
- Uso de barcos ou jet skis
- Uso de churrasqueiras portáteis ou fogareiros
- Alimentar os animais do parque
- Coletar qualquer tipo de vegetação
- Circular e ultrapassar as pedras e trapiche
- Ultrapassar as áreas demarcadas
- Pendurar objetos nas árvores
- Ultrapassar o limite de velocidade (30 km/h).
Contato: informação sobre visitações por meio do e-mail cv-itapua@sema.rs.gov.br ou (51) 3494-8083
Para agendamento de alguma trilha: condutoresitapua@gmail.com ou @condutoresitapua
Outras informações: acesse aqui.