Fazia mais de uma década que a técnica em enfermagem Fabíola Peixoto, 44 anos, não colocava os pés nas águas da Praia de Fora, no Parque de Itapuã. Apaixonada pelo cenário, ela ficou sabendo que as cancelas foram reabertas e não quis esperar. Convocou o marido, Emerson Almeida Oliveira, 43 anos, e o filho Bryan, 10 anos, separaram a carne para o churrasco e partiram de Vila Nova, zona sul da Capital, rumo à localidade de Viamão.
— Vi que abriu e disse: já tô lá. A praia de Itapuã que a gente mais gosta é essa, tem a areia limpinha e, por o acesso ser mais difícil (tem sete quilômetros), não vem tanta gente.
A família ganhou a companhia de um lagarto durante o almoço.
— A preservação está ótima — diz Emerson.
Pela primeira vez em mais de 10 anos, desde o dia 15, a unidade de conservação está abrindo simultaneamente as praias com potencial para serem usufruídas — outras cinco têm sempre o acesso restrito em razão da preservação da área. A única banhada pela Lagoa dos Patos, a Praia de Fora foi a que ficou mais tempo fechada, especialmente em razão de um problema de abastecimento de água.
Localizadas ainda no Guaíba, a da Pedreira não recebia gente desde o começo de 2016, por causa das condições da estrada de chão, enquanto a das Pombas já era a única aberta nesta temporada.
De quarta a sexta-feira, os visitantes chegam ao parque e podem escolher qualquer uma das três. Como ainda faltam funcionários para o pleno funcionamento, aos finais de semana, estão sendo liberadas apenas duas praias — ainda sem definição de quais serão. As praias de Fora e da Pedreira foram as opções deste final de semana para o povo matar a saudade.
— É bem gostoso aqui, o contato com a natureza é maravilhoso — afirmou, deitada nas águas mornas da Pedreira, a agente de saúde Lisiane Correa Ramos Alves, 42 anos.
Ela veio da Zona Leste de Porto Alegre com amigos e familiares. Levaria quase o mesmo tempo para ir até alguma praia do Litoral Norte, mas prefere o Guaíba, nessa região em que ainda é limpo.
— A energia da água doce é diferente, é mais tranquilo, tem mais árvores... Aqui tu relaxas bem mais. E é melhor para as crianças também — observa, enquanto a filha Mariana, de dois anos, brinca com uma boneca de sereia dentro da água.
Restrições
Pouco mudou no parque desde dezembro, quando não havia ainda perspectiva de abrir praias além da das Pombas. À reportagem, a falta de funcionários foi elencada pelo governo estadual como o principal empecilho. Foram contratados, para a temporada, dois vigilantes, número que não é o suficiente para que o parque receba a quantidade de visitantes que tem potencial.
Por isso, o acesso segue limitado: no sábado, foi permitida a entrada de 110 pessoas na Praia da Pedreira, que tem potencial para 320 pessoas. Lotou ainda pela manhã. Da Praia de Fora, foram retirados apenas cerca de 160 de 300 ingressos postos à disposição, mas a capacidade do balneário é de até 700 pessoas. Seguem fechados os restaurantes e lancherias do parque. A gestão de Eduardo Leite estuda conceder toda a parte pública do parque, por meio de parceria público-privada ou outro instrumento jurídico.
Para reabrir as duas praias, foram adquiridas algumas privadas que faltavam aos banheiros e foi feita manutenção básica neles. Também foi colocado saibro no acesso à Praia da Pedreira. O governo pretende pavimentá-lo até o próximo verão.
Bióloga e gestora do parque, Dayse Rocha, afirma que, mesmo com equipes ainda reduzidas, quis reabrir as outras praias por se tratar de um pedido antigo dos visitantes. A equipe tem recolhido avaliações e sugestões nesse período de testes.
— Nossas decisões vão ser baseadas no movimento deste final de semana, estamos ouvindo as pessoas — afirma.
Os visitantes são alertados, desde a entrada, de que a prioridade do parque é a proteção de espécies que residem ali, e pede-se que dirigiam com cautela para não atropelar os animais — seguindo o carro de Dayse, a reportagem parou duas vezes no caminho para que uma aranha armadeira e uma capivara passassem.
Existe ainda, na Praia da Pedreira, um alerta com relação a enxame de abelhas em dois pontos, um de cada lado do estacionamento. Eles estão isolados por fitas amarelas. A direção do parque já está em contato com apicultores para fazer a remoção.
Os balneários
Praia das Pombas
A Praia das Pombas tem águas calmas e duas particularidades na paisagem, um trapiche — que está interditado pelo estado de degradação — e a vista para a Ilha das Pombas. Os visitantes costumam se abrigar à sombra das árvores, perto da água. A capacidade é de 350 pessoas.
Praia da Pedreira
Leva esse nome porque, antigamente, ocorria ali extração de minérios. Também tem um trapiche, em estado degradado, e uma lancheria fechada. É desta praia que é possível observar, ao longe, o Farol de Itapuã. Tem uma baía menor do que as outras duas, aconchegante.Teria capacidade de receber 350 pessoas.
Praia de Fora
Diferente das outras duas, essa praia, mais ao sul, já é banhada pela Lagoa dos Patos. É mais extensa do que as anteriores, e é necessário passar por dunas para chegar até ela. Costuma ter mais incidência de ventos, então as águas são um pouco mais movimentadas. Além dos banheiros, essa praia tem uma estrutura de restaurante, desativada. O acesso é pavimentado.
Horário de funcionamento
O horário de permanência é das 9h às 20h no verão, de quarta a domingo.
Ingresso
O ingresso precisa ser adquirido no local, das 9h às 12h e das 13h30min às 17h, ao valor de R$ 17,75 por pessoa (valor definido na Lei das Taxas). Estudantes (com apenas a carteira da UNE - União dos estudantes), maiores de 60 anos, crianças a partir de 2 anos a 12 anos, pessoas com deficiência física e quem possui a carteira de doador de sangue pagam meio ingresso.
Infraestrutura
Há banheiros com vestiário e chuveiros, estacionamento e churrasqueiras, utilizadas por ordem de chegada. O parque também oferece um centro de visitantes com um pequeno museu e espaço de exposição.
O que levar
Como não há lancheria ou restaurante na área, é importante levar comida e bebida. Quem quiser fazer churrasco precisa levar carvão. É proibido usar qualquer material do parque, como lenha ou gravetos.
O que fazer
O banho na Praia das Pombas é permitido, mas a administração veta aparatos como boias circulares (apenas de braço), motos aquáticas, pranchas e assemelhados. Também não é permitido pular dos trapiches, ouvir som alto, usar churrasqueiras portáteis, alimentar animais ou entrar com animais de estimação.
Trilhas
É preciso fazer agendamento prévio pelo e-mail condutoresitapua@gmail.com e usar calçado fechado. Os condutores autorizados cobram uma taxa à parte. Há três opções de passeio:
- Trilha da Onça: sai da Praia das Pombas, costeando o Guaíba pela mata ciliar, chegando à Praia da Onça. Nível de dificuldade fácil e extensão de 1.640 metros, com duração aproximada de duas horas e meia.
- Trilha da Visão: sobe o Morro do Campista até a Pedra da Visão, com vista da Praia de Fora, Lagoa Negra, Morro da Grota e Lagoa dos Patos. Idade mínima de 15 anos, nível de dificuldade média e extensão de 1.470 metros, com duração aproximada de duas horas e meia.
- Trilha da Fortaleza: inicia na Praia da Pedreira, com pontos históricos como a Vila dos Pescadores e as trincheiras da Revolução Farroupilha. Nível de dificuldade médio a moderado, com distância de 6.400 metros (circular), mais cinco quilômetros de deslocamento a pé até o início da trilha. Duração de cinco horas.
Outras informações no site do parque
Sobre o Parque
A 57 quilômetros de Porto Alegre, o Parque Estadual de Itapuã é uma Unidade de Conservação de Proteção Integral e abriga uma das últimas amostras dos ambientes originais da Região Metropolitana da capital gaúcha, com um conjunto de morros, praias, dunas, lagoas e banhados. O Parque foi reaberto em abril de 2002, após ter ficado fechado por mais de dez anos para a recuperação de seus ecossistemas e sua estruturação administrativa.
Com 5,5 mil hectares, junto ao Parque do Itapuã ocorre o encontro das águas do Guaíba e da Lagoa dos Patos, especificamente no Farol de Itapuã, de 1860. Dentre as espécies da fauna preservada pelo Parque salienta-se o bugio-ruivo (Aloutatta guariba), ameaçado de extinção, a lontra (Lontra longicaudis), o gato-maracajá (Leopardus wiedii), bem como aves migratórias como o maçarico-acanelado (Tryngites subruficollis) e o suiriri (Tyrannus melancholicus).