A história de Tigrão, um pitbull malhado resgatado há 10 anos, desafia a crença popular de que apenas felinos têm mais de uma vida. Depois de ser brutalmente atacado pelo seu antigo dono e ser salvo pelo reciclador Jorge Fagundes, 53 anos, o cãozinho ganhou uma nova vida. A amizade entre os dois acabou salvando não só Tigrão, mas também Jorge, que encontrou na companhia do animal uma força para superar a depressão.
Após Tigrão causar um acidente na empresa em que era guardião, em Porto Alegre, o seu então dono, possuído por raiva, o golpeou com barras de ferro na cabeça, quase o levando à morte. Todo ensanguentado e ferido, o animal foi colocado na traseira de uma caminhonete e levado até a Vila Santo André, no bairro Humaitá, na Capital, para ser abandonado e morrer.
– Um homem chegou na minha reciclagem oferecendo R$ 500 para eu terminar de matar o Tigrão e depois me desfazer do corpo. Eu disse que não faria aquilo. Nos olhos dele (do Tigrão), eu via amor e carinho. Não podia fazer aquilo, então resolvi cuidar dele e tentar salvá-lo – relembra Jorge.
Foram oito meses de recuperação, com muitos remédios e cuidados para que o animal sobrevivesse. Jorge, por vezes, atrasava as contas de casa para conseguir custear o tratamento do mascote, mesmo quando os médicos veterinários acreditavam que Tigrão não sobreviveria.
Durante os primeiros meses, o animal tinha sangramento nos olhos, orelhas, nariz e boca. A cabeça, que havia dobrado de tamanho por conta do inchaço, ficou deformada. E, além disso, o cachorro já não confiava nas pessoas, então não comia ou bebia o que era oferecido.
Cura
– Demorou, mas o Tigrão melhorou. Ele começou a se alimentar na minha mão, confiar nas pessoas e se tornou outro cachorro. Ele passou a me acompanhar no trabalho, cuidar do meu depósito, passear comigo, brincar com os meus netos, fazer parte da família – diz Jorge.
Com o tempo, o novo tutor foi conseguindo curar as feridas externas e internas do animal. Durante esse processo, foi também salvo por essa amizade. Algum tempo depois de encontrar Tigrão, um incêndio residencial levou a óbito três dos seus netos, uma de suas noras e causou queimaduras severas em um de seus filhos. O luto e a tristeza foram muito pesadas para o reciclador, que acabou entrando em uma depressão profunda.
Com o apoio emocional da família e do seu fiel amigo, Jorge foi se reerguendo e encontrando um novo propósito de vida.
– Quando eu estava triste, parecia que o Tigrão sabia. Ele me olhava, queria brincar, puxava uma corda, queria passear. Parecia até que queria me agradar, me fazer ficar feliz de novo. E aquilo foi me fazendo bem – diz.
A interação diária com a família e o pet possibilitou ao reciclador superar a depressão. Ele parou de tomar remédios e passou a ter mais ânimo.
– Muitas vezes, aqui no depósito, pensei em tirar a minha vida. Mas, olhando para o rostinho dele (Tigrão), sempre desisti. Ele me deu amor, carinho, cuidado, e eu não poderia abandoná-lo, porque ele precisa de mim e eu dele – afirma Jorge.
O reciclador acredita que Tigrão, do seu jeito, retribuiu todo o seu empenho para salvá-lo.
– Acho que nós dois nos encontramos para conseguirmos ganhar uma nova vida e aprender a sermos felizes de novo. Eu salvei ele e ele também me salvou. E a nossa amizade é assim: um recomeço para nós dois e uma nova chance de viver e ser feliz – finaliza Jorge.
Produção: Júlia Ozorio