Moradores de Alvorada seguem enfrentando falta de água desde segunda-feira (20). Na tarde de quarta (22), o número de localidades atingidas no município chegou a 41.
Na manhã desta quinta-feira (23), foram registradas reclamações na região da parada 43. No bairro Bela Vista, pessoas mostraram à reportagem torneiras secas ou com poucas gotas de água. O clima é de revolta, porque o site da Corsan informava que a situação estava normalizada na cidade.
A corretora de imóveis Neusa Terezinha Feijó Garcia, 59 anos, diz que está cansada das promessas de retorno.
— A gente tem reservatório, mas já está terminando. Minha mãe é idosa, tem 81 anos, daí tem a questão de higiene, então é uma função. A gente se sente enganada. A palavra é indignada — reclama.
O motivo apontado para a falta de água, conforme a Corsan, é a redução na captação após a identificação de alterações na cor da água e aumento de matéria orgânica no Rio Gravataí. Os órgãos ambientais já foram comunicados (leia a nota abaixo).
A professora aposentada Liane Teresinha da Silva Rezende, 70, afirma estar "exausta" com a situação.
— Eu cheguei da praia na segunda e a água já estava só um fiozinho. Minha filha disse que no domingo à tarde já estava assim. Nessa madrugada, levantei para usar as gotinhas que caíam. Num calor desses, tu não ter água, é um descaso total — lamenta.
Perto dali, o barbeiro Noé Ávila de Farias, 69, mostra o banheiro do estabelecimento, sem poder dar descarga.
— Fica ruim para o cliente que quer usar. Fico trazendo água do balde que pego de uma bica — comenta.
O problema também atinge a área da educação. No Instituto Estadual de Educação Júlio César Ribeiro de Souza, cerca 1,5 mil alunos estão encerrando as atividades mais cedo pela falta de água. A escola já estava com problemas na semana passada por uma situação específica de pressão, mas havia tido o abastecimento normalizado na segunda-feira (20).
No entanto, com a questão do Rio Gravataí, o local voltou a ficar sem condições de atender os estudantes e funcionários de forma adequada. Um caminhão-pipa chegou a ser disponibilizado pela direção na quarta-feira, mas não foi o suficiente. Nas portões, cartazes informam que as aulas estão terminando antes devido à ausência de água.
— Não podem usar banheiro, as refeições não estão conseguindo fazer, só o lanche. Os alunos moram muito longe e alguns não estão vindo por não terem água para fazer sua higiene — resume a diretora Letícia Rosseto.
GZH entrou em contato e aguarda retorno da prefeitura de Alvorada para verificar se há alguma medida sendo tomada para amenizar a situação.
O que diz a Corsan
Em nota, nesta manhã, a companhia afirmou que a situação em relação ao Rio Gravataí ainda não está solucionada e que segue empenhando todos os esforços para garantir o abastecimento, porém a qualidade do rio se mantém ruim. A Corsan também ressaltou que os moradores ainda vão notar intermitências no abastecimento e não deu previsão de normalização.
"A menor captação de água ocasiona diminuição de pressão no sistema. Portanto, os bairros mais altos são os que podem ser mais afetados pela intermitência ou baixa pressão no abastecimento de água. O restabelecimento pleno do sistema depende da normalização da qualidade da água do rio Gravataí", disse a companhia, em resposta à reportagem.
Confira a nota completa da Corsan
"A situação em relação ao rio Gravataí ainda não está solucionada. A Corsan está empenhando todos os esforços para garantir o abastecimento, porém a qualidade do rio se mantém ruim. Os moradores ainda vão notar intermitências no abastecimento de água. Estamos atuando junto aos órgãos competentes.
Abaixo, a nota emitida ontem:
Em relação às intermitências e faltas de água em bairros dos municípios de Alvorada, Gravataí e Viamão, a Corsan esclarece que a companhia reduziu a captação após identificar alterações na água do Rio Gravataí, como alteração na cor e aumento de matéria orgânica.
Os órgão ambientais (Fepam e Patram) já foram comunicados e estão atuando para verificar os possíveis motivos da alteração.
A Corsan reforça que essa alteração na água captada não impacta na qualidade da água distribuída aos usuários, uma vez que passa por rigoroso tratamento.
A companhia realiza o monitoramento conforme estabelecido pela Portaria de Potabilidade do Ministério da Saúde (Anexo XX da Portaria de Consolidação nº 05/2017 do Ministério da Saúde alterado pelas Portarias GM/MS nº 888/2021 e 2472/2021). Também é realizado monitoramento horário na Estação de Tratamento de Água durante todas as etapas de tratamento.
Salientamos que estamos empenhados na busca da regularização do serviço nestes sistemas. Para contatar a Corsan, acesse os canais de relacionamento da companhia: site corsan.com.br (na Unidade de Atendimento Virtual), app e telefone 0800-646-6444."
O que diz a Fepam
"Com relação à alteração na água do Rio Gravataí relatada pela Corsan, a Fepam informa que vem atuando, desde o dia 19, no monitoramento e fiscalizações na região com o objetivo de encontrar as possíveis causas da alteração da cor e aumento de matéria orgânica no curso hídrico.
As Equipes da Fepam, Patram e Defesa Civil irão realizar uma ação conjunta nesta quinta-feira (23) com coleta de água, sobrevoo de helicóptero e uma inspeção com a utilização de uma embarcação.
Analisando o histórico de ocorrências do Rio Gravataí (2019 a 2022) e com base nas ações realizadas, é possível observar que a alteração de coloração e aumento de matéria orgânica são recorrentes em períodos de escassez hídrica seguida de precipitação."