Pias cheias, roupas acumuladas e banhos no improviso. Esse é o cenário vivido há três meses pelos moradores das ruas Tereza Alexandre Souza, Jeferson Cabral Duarte, José Luís Konzen e Alberto Rodrigues de Oliveira, na Vila União, bairro Olaria, em Canoas. A comunidade sofre desde agosto com a falta de água durante o dia.
É nas madrugadas que o líquido surge, aos filetes. Por isso, as quase 20 famílias que vivem lá precisam adaptar suas rotinas: muitos não descansam, mesmo após um dia cansativo de trabalho, para tomar banho, realizar tarefas domésticas e armazenar água para o dia seguinte.
– Só tem água da meia-noite às 7h e, mesmo assim, vem fraca. Não podemos ligar duas torneiras ao mesmo tempo, e, às vezes, precisamos pedir para o vizinho fechar a torneira para conseguir usar a água em casa – pontua Vitor Farias, 59 anos, presidente da Associação Independente União do Bairro Olaria e morador da área há 32 anos.
Noiva se arrumou de madrugada
Toda noiva sonha em ter um casamento perfeito, sem contratempos, e em estar bonita e cheirosa durante esse dia especial. Esse também era o sonho de Caren Farias Costa, 39 anos, que se casou no dia 4 de novembro com o seu companheiro, Gilson dos Santos Soares, 40 anos, profissional autônomo.
No entanto, para ficar pronta para o casório, precisou passar a madrugada em claro, tomando banho, lavando o cabelo e realizando outros cuidados pessoais no único momento que teria água, mesmo que fraca, em casa.
– Já viu uma noiva casar sem banho? Ou tomando banho de canequinha na madrugada do seu casamento? Isso é o que estamos enfrentando aqui na Olaria – afirma a moça, decepcionada.
Banhos adaptados se tornaram ainda mais difíceis
Isabel Cristina dos Santos, 45 anos, bombeira civil, conta que os últimos três meses se tornaram um desafio para a família. Além de trabalhar e passar as madrugadas em claro para encher baldes e lavar roupas e louças, Isabel ainda ajuda o pai, Anildo dos Santos, 70 anos, caminhoneiro aposentado, com os banhos adaptados.
Ele fraturou o fêmur após enfrentar um câncer na coxa esquerda. Por isso, depende de uma cadeira de rodas para se locomover e de outra, higiênica, própria para banho em idosos e acamados.
– De madrugada, não quero incomodar o descanso dele enchendo baldes, então encho aqui em casa mesmo. Todo dia desço as escadas com vários baldes de água até lá embaixo para ajudar nos banhos dele – resume.
Situação parecida é enfrentada pela vizinha, Nilce de Almeida, 57 anos, confeiteira aposentada. Ela mora nos fundos da casa da irmã, Lisete Almeida de Freitas, 71 anos, que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) no ano passado e ficou sem movimentos. Nilce enche diversos galões de água de noite para usar no dia seguinte nos cuidados com a irmã.
– Com água já era difícil, agora, sem água durante o dia, é pior ainda. Além de carregá-la (Lisete) até o chuveiro, precisamos carregar galões de água pesados pela casa. Isso vai cansando a gente – desabafa a aposentada.
Corsan foi questionada diversas vezes
Depois de alguns dias sem água, moradores da Vila União se mobilizaram e fizeram um mutirão de ligações e reclamações online para a Corsan. Foram gerados diversos protocolos de atendimento, e a situação foi registrada junto à companhia. Isso fez com que a Corsan realizasse uma vistoria no local em setembro, sem sucesso, porque o problema persistiu.
Uma segunda visita foi feita depois que Vitor e mais uma moradora do bairro foram presencialmente a uma reunião com a companhia em outubro. Esforço que também não adiantou. Mais recentemente, os moradores abriram os protocolos 2022144175000 e 2022147144378, ambos sem resultado.
Companhia de água diz que busca motivo
Em resposta à reportagem, a Corsan afirmou que “está trabalhando para identificar o motivo de oscilações e baixa pressão no abastecimento de água que vêm ocorrendo na Vila União”. A suspeita da companhia é de que possa haver um vazamento oculto na canalização. Por isso, diz que “mobilizou equipes de Canoas e Cachoeirinha para verificar as causas do problema, com funcionários especializados em identificar e corrigir vazamentos”.
A Corsan alega que não pode prever um prazo de normalização da situação, já que as equipes estão trabalhando no local, realizando pesquisas para encontrar o vazamento e fazer o conserto da canalização de água.
Produção: Júlia Ozorio