Dez dias depois de ser sepultada viva, socorrida e submetida a uma série de tratamentos, a vira-lata Hope finalmente encontrou um lar. A cachorrinha deixou, no início da tarde desta sexta-feira (23), o Hospital Veterinário da Ulbra, em Canoas, nos braços do mesmo policial militar que a encontrou enterrada no terreno do antigo tutor, que chegou a ser preso em flagrante.
— Estamos muito ansiosos. Já compramos caminha, sachê de comida, um monte de coisas — conta o soldado Lucas Camara Goldani, que ficará com Hope enquanto corre o processo na Justiça.
O brigadiano ficará com a tutela temporária, mas já disse que pretende adotá-la assim que for encerrado o caso no Judiciário. Em casa, Hope terá companhia de outra mascote resgatada, formando “uma dupla de terroristas”, brinca o policial.
Animal quase morreu
No último dia 13, Goldani e o sargento Rodibeldo Ohlweiler foram acionados para verificar uma ocorrência no bairro Guajuviras. A suspeita era de tráfico de drogas, pois o relato era de que um homem estava fechando um buraco com algo escondido. Depois de questionar a família, os policiais do 15º BPM cavaram e encontraram o bichinho, respirando com dificuldade.
— Abri o buraco e vi a cachorrinha ainda se mexendo. Não tem como não se comover ao lembrar da cena — recordou o soldado no dia seguinte ao resgate, quando voltou ao hospital veterinário para um reencontro.
A pet chegou ao hospital com baixa temperatura, suja pela lama da cova em que ficou enterrada e com ferimentos no corpo. No pescoço, havia uma marca profunda e uma corda amarrada com força. Rapidamente, ela voltou a andar e a comer, mas teve de tratar resquícios de quando viveu sob maus-tratos.
No período hospitalizada, Hope passou por complicações devido a sintomas de tétano, infecção tratada com antibióticos e soro antitetânico.
— Bota guerreira essa cachorrinha — define o soldado Goldani.
Nas salas do hospital, a cachorrinha — que tem, estimam as médicas veterinárias, entre oito meses e um ano — virou atração. Conquistou as equipes e passou por uma saudável disputa.
— Me apaixonei. Mas aí o policial fez contato comigo e disse que também queria adotar — lamentou a veterinária Marthyna Schuch.
O antigo tutor da cachorrinha ficou quatro dias na cadeia. Obteve dispensa da fiança e ganhou liberdade sem pagar nada.
A delegada Tatiana Bastos, da 4ª Delegacia de Polícia de Canoas, prevê finalizar o inquérito entre a próxima semana e o início de outubro, com indiciamento por crueldade contra animais, na forma qualificada. O homem disse aos policiais ter sepultado a mascote porque ela parecia estar morta.
A lei 14.064, de 2020, sobre maus-tratos a cães e gatos, trouxe ampliação das penas por estes delitos, que agora ficam entre dois e cinco anos de reclusão, bem como a possibilidade de conversão dos flagrantes em prisão preventiva.
Denúncias podem ser feitas pelo telefone 190.