As bancas de antiquários dividiram o Brique da Redenção com raridades de quatro rodas neste domingo (22), algumas sem preço. Quinze Miuras foram enfileiradas na Avenida José Bonifácio em uma exposição que marcou os 45 anos do carro esportivo gaúcho.
Fabricado entre 1977 e 1992, usando fibra de vidro, o Miura foi um dos maiores sucessos da indústria automotiva nacional. O carro que o presidente do Clube do Miura Genuíno Pesente levou para a Redenção custava cerca de 60 mil dólares ao sair da fábrica, segundo ele. Quem tinha Miura era o Renato Portaluppi, a Xuxa, "só os grandes".
Para o Gino dos Miuras, como pede para ser chamado, a paixão pelo veículo é moldada no bairrismo: o carro era fabricado na Avenida Sertório, na zona norte de Porto Alegre. Tem nove exemplares do carro em casa. Mas não precisou decidir: levou o Top Sport ano 1989/90 por um motivo determinante.
— É o único que está andando — ri.
Achar peças para o veículo nem sempre é fácil, tem muita coisa que não se fabrica mais, conta o arquiteto Marcos Gomes Júnior, 68 anos. Muitas são fabricadas artesanalmente, brincadeira que pode não sair barata. O restauro "de cabo a rabo" de um veículo desses pode sair mais de R$ 30 mil, segundo os colecionadores.
Para vir tranquilo de Curitiba a Porto Alegre, nesse final de semana, o contador aposentado Claudio Bruel, 69 anos, ainda gastou R$ 1,7 mil em revisão. Não se arrepende:
— Eu ando sorrindo, pareço um bobinho.
Nesta edição, a exposição trouxe gente do Paraná, de Santa Catarina, da Serra Gaúcha, além da Região Metropolitana. Mas não vieram só de Miura: o evento é aberto a todas as marcas de veículos antigos. Quem atraía o maior número de curiosos, inclusive, era um pomposo MP Lafer, réplica brasileira do roadster inglês MG TD.
Um dos interessados era o teólogo Douglas Andre Martins, 35 anos. Ele conheceu os carros expostos pelo tato, passando a mão pelo painel, capô, pelas rodas e outras peças do carro. Douglas é cego desde os oito anos de idade, mas sempre frequentou salões de carros e fez passeios com os dois irmãos. Analisando as lanternas traseiras de um Bianco S 1978, observou:
— Essa lanterna é rara de conseguir.
Interrompida durante a pandemia, a exposição é anual e marca o Dia do Colecionador de Miura e de Carros Antigos. A data existe desde 2016 no calendário oficial de Porto Alegre.