A casa de eventos Just 4D, local do desabamento do mezanino na noite de sábado (4) que feriu duas pessoas, passou por perícia na manhã desta segunda-feira (6). Uma equipe composta por três peritos do Instituto-Geral de Perícias (IGP) começou a investigar as circunstâncias físicas que fizeram a estrutura ceder, e devem entregar suas conclusões em laudo à Polícia Civil na primeira quinzena de janeiro de 2022.
Foram coletados vestígios do acidente, materiais e medidas da estrutura de metal e madeira que despencou parcialmente por volta das 22h40min do sábado. Informações preliminares da Polícia Civil indicam que no momento do acidente havia cerca de 60 pessoas na festa, e testemunhas afirmam que a maioria dos frequentadores estava na estrutura que cedeu.
Segundo os relatos das testemunhas, uma festa acontecia no imóvel, que fica na Avenida São Paulo, bairro São Geraldo, e tem alvará apenas para “venda de bebidas sem entretenimento”. O material de divulgação do evento nas redes sociais, que prometia distribuição de “coquetel gin tônica para mulheres entre 21h e 22h30min”, foi apagado das páginas da casa de festas após o acidente.
O empresário Omar Luz Mobayed, proprietário do estabelecimento, foi preso em flagrante e solto depois de pagamento de fiança, ainda no sábado. A defesa dele alega que o estabelecimento opera como um café e bar com música ao vivo.
As duas pessoas que ficaram feridas no sábado, uma estudante de 21 anos que comemorava a entrega do trabalho de conclusão do curso, e um homem de 35, seguem internados no Hospital de Pronto Socorro (HPS). Ela, em situação estável, sem necessidade de UTI, aguarda cirurgias; ele, em situação mais grave, segue precisando de acompanhamento de cuidados intensivos.
Duas amigas da estudante que segue internada conversam com GZH. As identidades são preservadas para não expor a situação da jovem ferida.
— Tinha show de uma banda e nosso grupo de quatro amigas estava embaixo do mezanino, onde tinha mesas, esperando a chegada de uma quinta amiga. O mezanino bateu em nós, ficamos com muita dor, mas fizemos raio X e estava tudo certo. Nos medicaram para dor no HPS e apenas ela ficou internada. Ainda está sendo um susto gigante para nós, porque fomos lá para comemorar um momento bonito — comentou, reforçando:
— Na semana anterior também fomos lá e os seguranças nos pediram para não dançar ou pular enquanto estivéssemos em cima do mezanino, pois segundo eles poderia cair. Mas nunca acreditamos que isso aconteceria de fato.
Ambas registraram boletim de ocorrência junto à Polícia Civil de Porto Alegre nesta segunda-feira.
— Acompanhei a perícia na parte da manhã. A casa não tem câmeras de segurança interna. Era um mezanino que foi construído dentro da casa. Já estão sendo ouvidas pessoas, pois havia sido contratado um espaço particular por uma academia para a festa. Havia de 50 a 60 pessoas no local, não estava superlotado. As pessoas que estavam em cima do mezanino se aglomeraram em um canto, e o mezanino caiu. Tinha estrutura tubular de ferro na frente, atrás era chumbado na parede através de parafusos que entram na parede. Agora, a perícia vai determinar se foi construído certo, qual foi a causa da queda — afirma o delegado Daniel Ordahi, titular da 17ª DP.
O chefe da Divisão de Engenharia Legal do IGP, Álvaro Ferrary Bitencourt, destaca que a inspeção realizada na tarde desta segunda-feira é apenas a primeira etapa da verificação.
— O trabalho é dividido em três fases. Neste primeiro momento, fizemos uma análise minuciosa de todos os elementos, como tipo de material e o tipo de problema que pode ter acontecido. Examinamos a questão estrutural do mezanino e quais foram os pontos de rompimento. No segundo momento, vamos confrontar dos dados coletados com as normas de engenharia, se existente um projeto. A terceira fase é onde tudo é consignado no laudo, quando o perito faz essa análise — explica
Álvaro pontua que houve uma possível sobrecarga da estrutura, mas frisa que só será possível confirmar essa informação a partir da análise do projeto para verificar se está de acordo com as normas técnicas. O laudo final deve ser divulgado em até 30 dias.
A casa de eventos
Nas redes sociais, o perfil do estabelecimento divulga fotos e vídeos dos eventos realizados. Com temática urbana e pinturas grafiti na decoração, as publicações — algumas com trilha sonora embalada por funk, trap e música eletrônica — mostram pessoas dançando, venda e consumo de bebidas alcoólicas e Dj's operando sistemas de som.
O alvará do estabelecimento é para operação de café ou bar com venda de bebida alcoólica sem entretenimento. Em setembro, o Just 4D foi interditado por aglomeração e desrespeitos às regras de prevenção da covid-19.
O que diz a defesa
O advogado Gelson Fassina, que defende o empresário Omar Luz Mobayed, contesta que “o ocorrido em relação à preocupação dos seguranças era referente a algumas pessoas que, na semana anterior ao acidente, estariam próximas ao guarda-corpo do mezanino estando visivelmente alteradas pelo uso de bebida alcoólica, sendo esse o motivo do aviso da equipe, nada relacionado a uma preocupação com questões estruturais, como estão relatando”.
Fassina afirma ainda que "o bar nunca promoveu festas. O alvará também autorizava o funcionamento do estabelecimento na categoria "bar", não apenas "café". As autoridades que realizaram fiscalizações em praticamente todos os finais de semana no local aferiram que os documentos estavam em dia, bem como em nenhum momento notaram no ambiente situação classificável como festa, o que certamente promoveria o fechamento do local. De qualquer forma, não havia superlotação, vez que o alvará de funcionamento é para 80 pessoas, e havia cerca de 60 pessoas na noite do acidente. Dentre essas pessoas, a maioria fazia parte do encontro programado por uma empresa, a qual reservou uma parte do bar para reunião de fechamento do ano. Quanto a venda de bebidas alcoólicas, logicamente, por se encaixar na categoria "bar", havia autorização para comercialização."
Por fim, explica que desde sábado não houve contato do empresário com nenhuma das vítimas "por orientação de seus defensores. Quem está fazendo o contato com os familiares dos acidentados é o gerente do Sr. Omar, prestando todo o apoio possível."