Via de regra, o prédio do Sine de Porto Alegre, no Centro Histórico, é cercado por filas que começam ainda na madrugada. Sem emprego e sem dinheiro para o básico, muitas pessoas saem de casa em busca de uma vaga de trabalho, sem qualquer refeição. O assessor técnico do Sine, Rodrigo Reis, flagrou pessoas sem força para se manterem em pé.
— Já vi gente desmaiando de fome na fila. Estavam há muito tempo sem comer nada — afirma.
Com o intuito de amenizar essa situação, um grupo serve pão caseiro e café preto na fila.
Associados da Associação Nacional de Aposentados e Pensionistas da Previdência Social (Anapps) reúnem farinha, sal, açúcar e fermento, e produzem os pães na sede da entidade (Avenida Borges de Medeiros, 410, terceiro andar, Centro Histórico de Porto Alegre).
— Comove a gente, ver essa fila desde cedo. As pessoas saem sem dinheiro e com fome. É muito gratificante ver elas recebendo esse alimento — afirma o presidente da Anapps, Nilton Belsarena, 63 anos.
Mãe e filha, Anelise Fay, 43 anos, e Caroline Fay, 26 anos, deixaram Alvorada antes das 5h. Ambas vivem de aluguel, e não tem ocupação atualmente. A última parcela do seguro-desemprego de Caroline mantém a casa. Por volta das 6h estavam na fila aguardando para serem atendidas.
— Decidi a começar a procurar porque tá bem difícil — afirma a jovem, que foi auxiliar de produção na última empresa em que atuou.
Anelise está há dois anos em busca de uma oportunidade. Trabalhou em uma companhia de vigilância, na área de portaria.
As duas receberam as doações com um sorriso, de quem saiu cedo demais da cidade vizinha para garantir o primeiro atendimento no órgão público.
A entrega dos alimentos ocorre de duas a três vezes por semana. Na manhã desta terça-feira (8), duas mil unidades do pão tipo massinha foram levados para a sede do Sine — às 7h30min, quando a porta da unidade foi aberta, havia cerca de 50 pessoas na fila. Muitos comeram mais de um pãozinho, e o que sobra, é distribuído no Centro de Saúde Santa Marta — posto que fica no mesmo quarteirão —, ou a quem vive em situação de rua.
Vilmar Silva da Silva, 60 anos, busca um último contrato na carteira de trabalho antes de se aposentar por idade. Não é selecionado desde 2019. Mostrou para a reportagem de GZH o copo de café preto, sorridente.
— A solidariedade sempre vem bem — comenta.
O comentário suscitou uma resposta da diretora social da associação, Sandra Ramalho, 63 anos.
— Quem não quer uma comida boa? Esse vírus veio para mostrar que precisamos nos doar mais — defende.
A unidade do Sine atende, em média, 320 pessoas por dia, de acordo com a direção. Destas, 260 procuram uma vaga e as demais querem encaminhar o seguro-desemprego.