Miriam Josefina, 53 anos, deixou Ciudad Bolívar, na Venezuela em meados de 2019. Como a maior parte dos venezuelanos que acabam no Brasil, cruzou a fronteira a pé por Pacaraima, em Roraima, e caminhou com marido e filha até Boa Vista. Buscavam, no Brasil, a chance de tratamento médico para um tumor no cérebro do marido.
Apesar de ter conseguido atendimento, ele não resistiu. Faleceu no dia em que a filha completou 15 anos, há cinco meses. O que trouxe Miriam e a adolescente a Porto Alegre há cerca de um mês foi mais uma vez a saúde: desejava encontrar no Sul uma escola que acolha a filha, que tem um pequeno de déficit de aprendizagem e um problema de locomoção no quadril.
— Lá em Boa Vista nos acolheram bem. Mas todo o resto é muito complicado. As escolas, os hospitais, tudo — conta Miriam.
Desde segunda-feira (25), imigrantes como ela ganharam um lugar ao qual recorrer no bairro Menino Deus, em Porto Alegre. Mantido pelo Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR), o Centro de Atendimento para Migrantes e Refugiados na Rua Caldwell oferece uma porta de entrada importante para a adaptação ao novo país.
— Algumas vezes são atendimentos muito simples. Uma pessoa que nos procura para saber onde pode achar um médico, porque não sabe que ela, mesmo sendo estrangeira, pode ser atendida em uma Unidade Básica de Saúde. Mas aí já indicamos qual é a mais perto de onde ela vive — exemplifica o assistente social e coordenador do SJMR Porto Alegre, Lucas do Nascimento.
As respostas, mesmo que simples, dependem de haver um local de referência de portas sempre abertas. Por isso, o centro decidiu manter os atendimentos presenciais mesmo em meio à pandemia. Miriam, por exemplo, também buscava um atendimento médico para o quadril da filha. Porém, já foi cadastrada para poder ser indicada a vagas de emprego.
Entre os serviços oferecidos estão apoio à documentação e à regularização migratória, assessoria jurídica, inserção laboral, acompanhamento sociofamiliar e psicológico, cursos de idiomas e cultura brasileira entre outros, sempre oferecidos de forma gratuita e a quaisquer estrangeiros. Além de venezuelanos, o Estado também se tornou um destino almejado por haitianos e senegaleses na década passada.
Conforme a Operação Acolhida, do Exército Brasileiro, que apoia os imigrantes em Roraima e executa a interiorização a outros Estados, o Rio Grande do Sul já é o terceiro Estado mais popular em acolhimento. O Brasil já recebeu mais de 260 mil venezuelanos. Mesmo com a fronteira fechada entre os países em razão da pandemia, o fluxo migratório ainda ocorre por vias alternativas.
Além do centro recém inaugurado em Porto Alegre, o SJMR mantém outras quatro unidades em Belo Horizonte (MG), Boa Vista (RR) e Manaus (AM). A iniciativa conta com parceria do Escritório do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) e da Fundação Panamericana para o Desenvolvimento (Fupad).
Serviço
- SJMR Porto Alegre – Centro de Atendimento para Migrantes e Refugiados
- Endereço: Rua General Caldwell, 651 – bairro Menino Deus
- Telefone: (51) 3254-0140
- WhatsApp: (51) 99995-5573
- E-mail: atendimentopoa@sjmrbrasil.org
- Horário de funcionamento: de segunda a quinta-feira, das 9h às 17h