Consórcios privados responsáveis pelo transporte público em Porto Alegre demitiram 601 motoristas e cobradores desde 2016, quando o novo edital começou a valer. Levantamento realizado pelo Sindicato das Empresas de Ônibus de Porto Alegre (Seopa) reúne números até o ano passado. Os dados do Sindicato não envolvem a Carris. A reportagem buscou um levantamento semelhante junto à companhia municipal, mas não obteve retorno.
O consórcio MOB, que engloba as empresas Nortran, Sopal e Navegantes, foi o que mais realizou desligamentos no período: 223, sendo 110 motoristas e 113 cobradores. De acordo com o Seopa, o número de cobradores demitidos é maior em quase todos os casos por questões contratuais e horas de trabalho.
Para o Seopa, as demissões são consequência da falta de passageiros. A baixa procura provoca a redução no número de viagens e a extinção de horários das linhas. Nos últimos quatro anos, houve queda de 15,26% nas viagens realizadas pelas linhas de ônibus da Capital.
- As pessoas estão preferindo utilizar o transporte por aplicativo por conta dos valores. É uma competição injusta em termos de cobranças tarifárias - afirma o assessor jurídico do Seopa, Alceu Machado.
A Empresa Público de Transporte e Circulação (EPTC) efetuou, de 2016 a 2019, 34 alterações em linhas de ônibus de Porto Alegre, sendo 22 na zona sul de Porto Alegre. De acordo com o órgão, as mudanças envolvem unificação, substituição, extinção e criação de linhas. Algumas delas passaram até por mais de uma alteração nos últimos anos. De maneira geral, oito linhas tiveram unificação de itinerários, a maioria delas ocorrendo no final de semana, cinco linhas foram extintas, outras cinco foram substituídas e 10 foram criadas a partir de itinerários já existentes.
Entre os exemplos dessas alterações estão as linhas Icaraí (Alto Taquari) e Icaraí/ Barra que, nos finais de semana, foram incluídas no itinerário da Icaraí, na zona sul da Capital.
Os itinerários das linhas Bela Vista/Anita, Bela Vista/Anita Via Carazinho/Ijuí e Carlos Gomes foram divididos e passaram a ser atendidos pelo prolongamento da linha Rio Branco/Anita/ Iguatemi e pela criação da linha Carlos Gomes/Petrópolis.
De acordo com o Seopa, as alterações não modificaram o tempo de viagem, mas sim o tempo de espera nas paradas, que sofre variações de acordo com cada linha. A EPTC afirma que todas as alterações realizadas até o momento envolveram linhas que faziam as chamadas rotas curtas, aquelas que circulam por poucos bairros e próximas a área central da cidade. Os ônibus que realizam grande percursos não tiveram alteração de itinerário ou extinção de horários.
O Sindicato dos Rodoviários confirma que a extinção de horários e as mudanças nas linhas são consequência da falta de passageiros. O vice-presidente da entidade, Sandro Abadde, coloca a competição com os aplicativos e o grande número de isenções para os usuários como motivo para as demissões.
— As linhas que possuem viagens curtas estão cada vez mais com menos passageiros. É o caso daquelas que circulam em bairros como Jardim Botânico, Petrópolis e Menino Deus. Os usuários do transporte coletivo estão nos bairros mais afastados e onde os aplicativos não entram —afirma o vice-presidente.
De 2018 a 2019, a redução foi de cerca de 1% nas viagens em dias úteis,de 20.635 para 20.466. Aos sábados, a queda chegou a 2% — de 13.445 viagens para 13.190. O dia mais afetado foi o domingo, em que os horários apresentaram redução de 5% — eram 9.173 viagens, caíram para 8.757.