Berço do Carnaval de Rua em Porto Alegre, a Cidade Baixa deverá receber a folia de forma discreta em 2020. O evento, que ocorrerá aos finais de semana e no feriado de Carnaval, entre 1º de fevereiro e 8 de março, não permitirá blocos nas vias internas do bairro boêmio. A mudança foi anunciada na manhã desta quarta-feira (8), durante o lançamento do edital de licitação que vai escolher a empresa organizadora da festa, no Paço Municipal.
— O Ministério Público já tinha nos recomendado isso por escrito, e a Brigada Militar nos mostrou vídeos muito contundentes em relação à questão da segurança. O Carnaval não vai deixar a Cidade Baixa, só vai ser deslocado — disse o secretário municipal da Cultura, Luciano Alabarse.
Segundo a prefeitura, também foram levadas em conta reclamações de moradores sobre os transtornos causados pela folia no bairro. Com as mudanças, blocos que comprovarem vínculo com a Cidade Baixa terão de fazer um trajeto preestabelecido, com saída da Praça Garibaldi, pela Avenida Aureliano de Figueiredo Pinto (o ponto final deverá ser a Orla do Guaíba).
Haverá, ainda, blocos no Centro Histórico e em 12 regiões descentralizadas da cidade. A empresa vencedora da licitação ficará responsável por garantir a infraestrutura do evento, instalando e fazendo a manutenção de banheiros químicos, bloqueios de trânsito e UTIs móveis.
Outra mudança em relação ao ano passado é a criação de uma "ajuda de custo" para os participantes. O edital prevê que a empresa vencedora dê um auxílio financeiro de R$ 3 mil para cada bloco. Segundo a prefeitura, a determinação partiu de reivindicações dos grupos que participaram do evento em 2019.
Ao todo, 27 blocos manifestaram interesse em realizar saídas no Carnaval de Rua 2020. Uma comissão formada por integrantes da Secretaria da Cultura e do Escritório de Eventos irá avaliar cada inscrição, que, com base em uma série de critérios e na disponibilidade de datas, poderá ou não ser aprovada — aqueles que ficarem de fora poderão circular de forma independente em datas predeterminadas, anteriores ou posteriores ao evento.
Caso haja eventos em todos os dias disponíveis, o Carnaval de Rua deve ter 24 dias de festa em 2020. Diferentemente de 2019, quando houve saídas de blocos em apenas dois dias, haverá eventos durante todo o feriadão de Carnaval.
Bloco tradicional critica mudança
O fim da realização dos blocos nas vias internas da Cidade Baixa empurrou para o Centro Histórico um dos pioneiros do carnaval de rua na Capital. Nascido na Rua Sofia Veloso, palco das apresentações do bloco por mais de 10 anos, e onde moram parte de seus integrantes, o Maria do Bairro disse ter desistido de sair no bairro boêmio em protesto à "imposição da prefeitura".
— O bonito do carnaval de rua é que um bloco é completamente diferente do outro. Quando se começa a padronizar o percurso, a venda de cerveja, se desrespeita a lógica da cultura popular, que é de particularidades. Estamos tendo essa posição para alertar que o nosso bairro está sendo dividido mercantilmente, e sem sermos ouvidos — disse o carnavalesco Zeca Brito.
Na avaliação de Brito, o conflito entre moradores e foliões, um dos motivadores da alteração, foi tratado de forma "simplista" pelo poder público. Em 2020, o bloco pretende se concentrar na Praça da Alfândega.