O problema de desabastecimento de água, que não é novidade, se intensifica nesta época do ano, atingindo diferentes bairros da Capital. De acordo com o Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae), isso ocorre porque, neste período, "é comum que haja aumento do consumo de água, que, somado aos consertos rotineiros nas canalizações e eventuais faltas de energia que podem impactar no abastecimento regular, causam intermitência".
Para quem vive no bairro Mario Quintana, na zona norte da Capital, as dificuldades começaram mais cedo este ano. De acordo com a confeiteira Jaqueline Viegas dos Passos, 52 anos, desde meados de outubro, seu bairro e diversas comunidades vizinhas, dispostas no entorno da Avenida Protásio Alves, ficam sem água todas as noites – a partir das 18h – e só veem o retorno do abastecimento na manhã seguinte, pelas 6h.
Prejuízos
A confeiteira, que trabalha em uma cantina durante o dia e utiliza a própria residência, à noite, para produzir os doces e salgados que vende, vê seu trabalho prejudicado pelo constante desabastecimento. Com dezenas de encomendas para serem entregues na véspera de Natal, ela planejava usar o período noturno do dia 23 para começar a produção. Contudo, como já esperava, aquela foi mais uma noite de torneiras secas. Sem saída, a moradora precisou se virar, no próprio dia 24, para garantir as entregas.
– Parece que pobre não precisa tomar banho nem ter água em casa. Me sinto discriminada, pois pago caro, mas, quando preciso, não tenho. Eles acham que não tem problema cortar nossa água, mas não pensam que as pessoas estão trabalhando – desabafa Jaqueline.
Diante das dificuldades enfrentadas, relata que vários moradores – inclusive ela – já buscaram uma solução junto ao Dmae, mas não houve retorno. Caso a situação permaneça, a comunidade planeja realizar um protesto nos próximos dias, trancando o cruzamento das avenidas Protásio Alves e Manoel Elias, a fim de chamar a atenção das autoridades:
– Esse problema já vem de anos, e a prefeitura não dá bola pra nós.
Moradores temem chegada de janeiro e fevereiro
No bairro Bom Jesus, na Zona Leste, o problema começou em novembro. Lá, a falta de água tem ocorrido quase todos os dias, mas, diferentemente do Mario Quintana, não há um horário específico. Segundo o estudante Nicolas da Silva Brum, 20 anos, a situação não é novidade para a comunidade da Bonja, que enfrenta o desabastecimento todos os verões.
– Chego de madrugada do trabalho e, às vezes, não tenho condições nem de tomar um banho, e isso que recém chegou o verão – relata o estudante, que faz bicos como garçom e teme que a situação piore nos meses de janeiro e fevereiro.
O medo também é comum à aposentada Rosane Ozório, 61 anos, moradora da Vila Mapa, no bairro Lomba do Pinheiro. Quando sua residência fica desabastecida – o que, segundo ela, tem ocorrido com frequência –, Rosane busca um esclarecimento junto ao Dmae. Contudo, relata que a resposta do departamento costuma ser a mesma:
– Quando ligamos, sempre dizem que tem um serviço emergencial ou problemas no bombeamento. Mas eu moro aqui há seis anos e sempre foi assim. Aí, bate o desespero, porque não sabemos mais a quem recorrer.
Solução passa por investimentos em infraestrutura
Desde o início de novembro, o Diário Gaúcho tem recebido reclamações referentes à falta d'água nas casas de leitores de diferentes bairros da Capital. Em zonas com histórico de desabastecimento frequente nesta época do ano, o Dmae informou que o problema é anterior à atual gestão e decorre "da insuficiência dos sistemas de produção e distribuição na cidade, resultado do atraso de infraestrutura e de investimentos".
Contudo, questionado pela reportagem, o órgão não informou se tem realizado alguma ação a fim de evitar o agravamento do problema nos próximos meses.
Bairros
Entre as localidades mais citadas pelos leitores, estão Mario Quintana e Jardim Protásio Alves, na Zona Norte, e Coronel Aparício Borges, São José, Bom Jesus, Jardim Carvalho, Morro da Cruz e Lomba do Pinheiro, na Zona Leste. Quanto a esses bairros, o Dmae informou que "são locais de extremidade dos subsistemas e zonas altas, portanto, o retorno do abastecimento após alguma intervenção pode demorar mais".
Para evitar a constância do problema, o departamento solicitou que os moradores registrem as ocorrências por meio do canal Fala Porto Alegre (telefone 156), a fim de agilizar o atendimento, e que utilizem a água de forma mais racional durante o período de verão.
* Produção: Camila Bengo