A Travessa dos Venezianos foi lar de ex-escravos do século 19 e virou importante ocupação da comunidade negra em Porto Alegre. Há, inclusive, quem conte sobre a presença de Custódio Joaquim de Almeida, príncipe de Benin, país da região ocidental da África.
Segundo Suzana Gomes, museóloga em formação e organizadora de passeios guiados pela cidade, ele chegou à Capital depois de passar por Bagé e Pelotas, e foi designado para prestar auxílio espiritual a Julio de Castilhos, que tentava se curar de um câncer.
– Ele veio já com seus 70 anos. Era conhecido por ser Pai de Santo. Tinha uns nove cavalos de corrida. As festas dele eram lendárias, com aniversários que duravam três dias. Morreu com 104 anos. Contam que, no aniversário de 100, ele montou sem ajuda - diz Suzana.
Morador da Lopo Gonçalves, na vizinhança da Travessa, Custódio se tornou um dos responsáveis pelo desenvolvimento e pela disseminação no Rio Grande do Sul do batuque, ritual religioso de origem africana.
– A Cidade Baixa sempre foi esse bairro popular, com muita presença negra. Ter a figura do príncipe é superimportante – avalia Suzana.
A cultura perpetuada por ele nas redondezas ainda hoje é cultivada na Travessa dos Venezianos. Agora, por Alfredo Ferreira, 60 anos, mais conhecido como Pai Alfredo.
Um dos habitantes mais antigos da Travessa, ele mora em uma casa que é compartilhada de geração a geração – além dele, vivem ali dois dos 10 filhos e uma neta, de 12 anos.
No mesmo local, Pai Alfredo mantém ainda o Centro Africano São Miguel Arcanjo, de religião africana, onde atende clientes e realiza festas e rituais religiosos.
Quem fez
Conteúdo produzido pelos vencedores de 2019 do Primeira Pauta, programa que seleciona alunos de Jornalismo para imersão e treinamento em práticas jornalísticas na Redação de GaúchaZH. São eles:
- Camila Pellin, da Universidade de Passo Fundo (UPF)
- Darlan Fagundes Witchaki, da Universidade Federal do Pampa (Unipampa)
- Erika Dal Carobo Viana, da Universidade Federal do Pampa (Unipampa)
- Henrique Tedesco Abrahão, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos)
- Isabel Linck Gomes, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)