A origem humilde e o sentimento de quem conhece o desemprego foram o impulso para Carlos Henrique Bastos D'Ávila, o Kaká, decidir prestar assistência gratuita a pessoas que procuram trabalho. Ele auxilia a elaborar currículo, explica como agir em uma entrevista e vai até os estabelecimentos comerciais de Porto Alegre para fazer o meio-campo com quem oferece emprego. Aos 38 anos, o administrador afirma que recebe quase 500 mensagens por dia e já ajudou mais de cinco mil pessoas.
— Sei como é ruim estar desempregado, já passei muita necessidade. Comecei a trabalhar com 14 anos, vendendo sanduíche na rua. Precisava me virar, não tinha alguém que me orientasse — conta.
Aos 18 anos, Kaká começou a trabalhar em agências de emprego, como recepcionista. Depois, formou-se em Administração de Empresas, foi promovido a supervisor e chegou a atuar como gerente regional. O trabalho voluntário começou em 2009.
— Via muito currículo ruim e entrava em contato para dar umas dicas. Com o tempo, fui recebendo retornos positivos e pensei: "Por que não ir para as ruas?" — lembra.
No caminho para o trabalho na prefeitura e nos finais de semana, ele procura empresas que estejam em busca de funcionários e distribui os currículos que recebeu de acordo com a área de atuação dos candidatos:
— Sou um banco de currículos ambulante. Entro em lojas, padarias e shoppings com a minha bolsinha e vou distribuindo.
Há cerca de cinco anos, o administrador decidiu usar a tecnologia para ajudar quem busca uma oportunidade. Ele recebe as vagas ofertadas pelas agências e divulga em grupos de WhatsApp — já são quase 20 para gerenciar.
Com o passar do tempo, Kaká virou até palestrante — ele diz que chega a falar para mais de duas mil pessoas ensinando como se destacar em uma entrevista e as técnicas do bom currículo. As palestras são gratuitas e feitas em parques, praças e, acredite, até dentro do ônibus.
— Peço para o cobrador deixar meu folder. No início, as pessoas acham que vou pedir dinheiro ou vender algo. Mas explico como elaborar um bom currículo. O ônibus vai balançando e o povo ouvindo — diz, orgulhoso.
Kaká também já se aventurou pela política. Em 2016, foi candidato a vereador pelo PP, mas fez apenas 717 votos.