Um grupo de taxistas insatisfeitos com a mudança de cor dos táxis em Porto Alegre, do vermelho ibérico para o branco, está mobilizado para evitar que este item da Lei Geral dos Táxis entre em vigor. Na semana passada, eles entregaram um abaixo-assinado com 800 assinaturas ao prefeito Nelson Marchezan.
Atualmente, a nova lei está em estudos técnicos, aguardando regulamentação, e a prefeitura não informa quando entrará em vigor. Assim que passar a valer, haverá um prazo de 24 meses para a troca de cor dos veículos.
O taxista Cláudio Winter, um dos organizadores do protesto, afirma que mobilizou a categoria ao identificar que a mudança de cor é uma preocupação geral dos colegas de profissão. Entre as principais reivindicações de quem é favorável à cor atual estão a segurança e a identificação do carro na rua.
— Ninguém rouba carro dessa cor. Ou, quando roubam, logo devolvem. Para quem tem problemas de visão, principalmente os idosos, é muito mais fácil de diferenciar dos carros de passeio — explica Cláudio, taxista há 29 anos.
— Pessoas que vêm de fora já sabem a cor dos táxis de Porto Alegre, é um patrimônio da cidade. É o que nos diferencia dos demais, é nossa identidade, — destaca o taxista Francisco Martinez.
As assinaturas são correspondentes a 20% da frota de veículos cadastrados na Capital, que é de 4 mil. Entretanto, a reportagem conversou nesta semana com taxistas no ponto da Rodoviária, um dos maiores de Porto Alegre, e notou que a maioria opta pela permanência do vermelho ibérico.
Divide opiniões
Porém, o assunto ainda gera discussões. Enquanto os que têm a preferência pelo branco alegam o custo-benefício, os que são a favor da permanência do vermelho argumentam questões sobre segurança e a possível perda de corridas, também pela semelhança com carros de aplicativos.
— Com o branco, não será necessário gastar para envelopar, já vem pintado de fábrica — argumenta Wanderlei Pereira dos Santos, 59 anos.
Há também quem esteja em cima do muro.
— Pode até ser branco, mas precisaria ter algo que chamasse atenção para as pessoas que pegam na rua, não só a faixa ao lado. Para quem tem problema de visão, é difícil de identificar — esclarece Silvana Poletto, 40 anos.
Os taxistas ouvidos pela reportagem sugerem a realização de um plesbiscito questionando a mudança de cor.
Sindicato é neutro
O Sindicato dos Taxistas de Porto Alegre (Sintáxi) afirma que não tomou uma posição a respeito da mudança.
— É uma forma democrática, pois a categoria estava muito dividida — afirma Adão Ferreira de Campos, diretor administrativo do Sindicato.
O diretor afirma que há tanto pontos positivos quanto negativos para os motoristas:
— No fator financeiro, ajudaria, pois a troca de cor tem um custo e o branco já vem de fábrica. O lado negativo é a identificação na rua pela população. A alternativa seria uma faixa com uma cor que chame atenção ou o capô adesivado de vermelho. Estes detalhes estão em análise.
Em nota, a prefeitura ressalta que a Lei Geral dos Táxis segue em análise. "A redação final da Lei recebida da Câmara está em análise pelos nossos técnicos para a criação de uma regulamentação, que irá conter prazos, cronograma e como serão cobradas as alterações na legislação pela fiscalização do serviço." Em julho, os vereadores rejeitaram todos os vetos à Lei que haviam sido propostos por Marchezan — entre eles, a manutenção da cor laranja dos veículos.
Fala, taxista
Contra a mudança
Marlene Lemanski, 58 anos, há 20 taxista
Com a cor branca há um risco de perda dos passageiros pela confusão com carros de passeio. Principalmente os idosos terão dificuldades de identificar os táxis na rua. Já temos um desconto para pintar o carro de vermelho ibérico, o gasto não é tão alto. Com o branco, o seguro do carro ficará mais caro, porque é uma cor mais visada. É só tirar a faixa.
A favor da mudança
Wanderlei Pereira dos Santos, 59 anos, há 42 taxista
O branco já vem pintado de fábrica, não será preciso gastar para envelopar. Como os carros do aeroporto. Gastamos em torno de R$ 2 mil para pintar de vermelho ibérico e depois para tirar, temos que pagar também. Fora o tempo que o carro fica parado enquanto estão pintando.