Não teve frio nem vento que espantasse os jovens que levaram caixinhas de som para a orla do Guaíba, em Porto Alegre, na tarde deste sábado (25). O evento surgiu despretensiosamente no Facebook por amigos que queriam ouvir funk no espaço revitalizado. A ação ultrapassou expectativas e somou 26 mil confirmações de presença e 34 mil interessados.
A ideia partiu de Anderson Domingues, 18 anos, há cerca de dois meses. Morador de Viamão, ele leu as notícias sobre a revitalização da orla do Guaíba e percebeu quantos amigos e conhecidos ainda não tinham conferido o novo local. Viu, no funk, um instrumento para atrai-los. Pensando no logística de quem mora longe, definiu que a data para o evento levaria em consideração quem vive afastado:
— Quem mora longe precisa se organizar. Tem que pensar como vai vir, marcar com os amigos, ver se vai ter dinheiro — afirmou.
O jovem, que cursa o 2º ano do Ensino Médio, viu muita gente criticar a iniciativa. Segundo ele, o principal motivo de contrariedade foi a escolha do gênero musical.
— Este é um espaço livre para todos. As pessoas acham que, porque a gente é jovem, vai deixar lixo, vai fazer confusão. Mas isso não é questão de idade, é de educação. Pedimos diversas vezes no evento para que o pessoal cuidasse, para que se importasse com o ambiente— defendeu.
Anderson procurou ajuda para conseguir uma autorização para colocar um carro de som no dia evento, mas disse que a ação não seria possível porque a orla continua em obras. Sugeriu no grupo do Facebook que cada um levasse suas caixas de som. Foi o que aconteceu na tarde deste sábado.
Integrantes de um grupo de dança da Capital, alguns jovens ocupavam as escadinhas de concreto para curtir o som que vinha de um rádio. O sol, que se punha mais à frente, ajudava a compor o cenário enquanto eles praticavam passinhos de dança para se aquecer.
Alguns metros ao lado, outro grupo aproveita o espaço. Dos oito adolescentes, cinco afirmaram que foram ao local pela primeira vez — por causa do evento no Facebook.
— A gente é pobre, não tem caixa de som, mas veio para curtir — contou um.
Como o público se espalhou pelo trecho revitalizado, que soma 1,3 quilômetro, a organização do evento não soube precisar o número de pessoas que foram até o local para apoiar a iniciativa, mas Anderson conta que recebeu dezenas de mensagens de incentivo.
— Tem gente que veio me dar oi, que vem dizer que quer comprar os copos. Falei com muita gente por causa do evento — disse o jovem, que criou copos personalizados do evento, chamado de Funk do Gasômetro.
Procurada pela reportagem, a prefeitura de Porto Alegre disse que não recebeu nenhum pedido de autorização para a realização do evento.
Confira o texto na íntegra:
"A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SMDE) esclarece que nenhum pedido foi encaminhado para o Escritório de Eventos (EE) pelos organizadores da festa intitulada “Funk Solidário do Gasômetro”, com intuito de utilização deste espaço público na Orla do Guaíba. E se, caso os organizadores não licenciarem o acontecimento, serão autuados.
A partir da criação do Escritório de Eventos, em agosto de 2017, com o decreto 19.823/2017, este passou a ser o local para onde devem ser encaminhados todos os pedidos de utilização de espaços públicos do Município de Porto Alegre.
Uma vez recebido o pedido, ele será analisado por todas as secretarias envolvidas com seus respectivos pareceres e com as devidas considerações para a assinatura do termo de compromisso definitivo. O Escritório foi criado para que todos os eventos tenham uma análise mais transparente e organizada num único local."