Com orelhas longas de tecido e bigodes feitos com caneta colorida, nove crianças se tornaram as coelhinhas do ensaio Páscoa do Bem, idealizado pela fotógrafa Marileia Schmitt, 34 anos, de Canoas. Há quatro anos, Mari, como é conhecida, desenvolve projetos fotográficos gratuitos com adolescentes portadores da síndrome de Down, sempre enfatizando um tema. Desta vez, para marcar a celebração cristã, fotógrafa optou por registrar crianças com idades entre dez meses e cinco anos.
Depois de anunciar nas redes sociais que selecionaria dez delas para um ensaio especial, surgiram mais de 30 interessados. Uma das crianças selecionadas não compareceu no dia do ensaio. Primeira a se inscrever, a dona de casa Elisângela Rodrigues, 38 anos, queria presentear a filha, Hellen, cujo aniversário foi nesta Sexta-Feira Santa. Na inscrição, a mãe destacou a data importante e o sonho de ver a filha única entre os selecionados.
— Fiquei muito feliz em vê-la posando para as fotos. Ela gosta da câmera e adora dar sorrisos. Foi maravilhoso! —afirmou Elisângela.
Contente também ficou a mãe de Alexya Lavínia da Silva Santos, dois anos e três meses, a dona de casa Bárbara da Silva, 44 anos. No ano passado, Bárbara inscreveu a filha no projeto, mas não foi selecionada. Nesta edição, contatou a fotógrafa pelas redes sociais e se inscreveu no site.
— Neste mundo repleto de preconceito, me emociono por ter encontrado alguém que se interessa em valorizar os nossos filhos — comentou Bárbara.
Aprendizagem
Mari Schmitt sempre quis registrar crianças portadoras de síndrome de Down, autismo e outras necessidades especiais. Quando se tornou profissional da imagem, em 2012, pesquisou cursos que lhe ajudassem a se aperfeiçoar nesta área, mas não os encontrou. Dois anos depois, por conta própria, decidiu que começaria a fotografá-las gratuitamente. Para Mari, a fotografia pode se transformar numa forma de inclusão social e de combate ao preconceito contra crianças e adultos com deficiências.
Em 2016, o trabalho social desenvolvido por ela fez parte de uma reportagem na série Caminho do Bem, publicada no Diário Gaúcho, entre 2015 e 2016.
— Uso o projeto tanto para a minha aprendizagem quanto para mostrar às pessoas estas lindas crianças nas fotos. O mundo não precisa vê-las com olhos diferentes. Elas são como qualquer outro ser humano, mas com limitações — explicou.
Trabalho reconhecido
Desde que passou a se dedicar à fotografia de portadores da síndrome de Down, a fotógrafa tornou-se referência sobre o tema na cidade onde mora. A pequena Nicoly de Chaves, hoje com um ano e quatro meses, tem a vida registrada em imagens por Mari desde o nascimento — uma escolha dos pais da menina, a dona de casa Andréia Fischer de Chaves, 37 anos, e o supervisor operacional Rudinei de Chaves, 40 anos.
— Mari tem o dom de saber trabalhar com crianças que têm síndrome de Down. Nicoly ficou muito à vontade com ela — contou Andréia.
Entusiasmada com a possibilidade de ver a filha num estúdio fotográfico, a dona de casa Deise Paim, 38 anos, confessou ter chorado ao ver Laura, quatro anos, sorrindo para a câmera:
— São raras as oportunidades de vermos nossos filhos com destaque. Mari tornou a nossa Páscoa amais feliz.