Milhares de pessoas lotaram as principais ruas da Cidade Baixa, tradicional bairro boêmio de Porto Alegre, para curtir o Carnaval de rua na tarde deste sábado (3). Três blocos animaram a tarde porto-alegrense, com ritmos variados, que incluíram desde o pop de Pabllo Vittar ao soul/funk/MPB de Tim Maia, passando – claro – pelas clássicas marchinhas carnavalescas e por inesquecíveis sambas-enredo de escolas de samba do Rio de Janeiro.
Noivos mas — só — amigos
Estacionado na Rua Lima e Silva, na esquina com a Rua Sofia Veloso, o trio-elétrico do bloco Maria do Bairro Reuniu gente de todas as idades desde as 15h. Além de sambas históricos e arrebatadores como É Hoje ("Diga espelho meu, se há na avenida alguém mais feliz que eu..."), apresentado pela União da Ilha do Governador, em 1982, e Peguei um Ita no Norte, eternizado pela Acadêmicos do Salgueiro em 1993 ("Explode coração, na maior felicidade, é lindo o meu Salgueiro, contagiando, sacudindo essa cidade"), os músicos também procuraram agradar o público mais jovem, com temas como Você Partiu Meu Coração ("Você partiu meu coração, ai, mas meu amor, não tem problema), de Nego do Borel.
Aposentado de um tabelionato, Didier Laranjeira Carvalho, 74 anos, divertia-se ao mesmo tempo em que vendia chapéus — a R$ 20 cada — e esperava a chegada a esposa.
— Já vendi uns 20 chapéus — afirmou Didi, como prefere ser chamado, morador do bairro Santana. — Daqui a pouco a nega veia (esposa) tá aí — completou, com um largo sorriso no rosto.
A poucos metros dele, estavam os amigos Carlos Pagno, 32 anos, professor de escola técnica, e Carla Ody, 36, freelancer, fantasiados de noivos, como se fossem um casal. Mas tratava-se apenas de uma fantasia.
— A gente é só amigo. Todo ano, a gente vem junto para o Carnaval da Cidade Baixa — contou Pagno.
— No ano passado, vim (fantasiada) de freira e foi o maior sucesso — completou Carla. — Neste ano, o pessoal parece que está mais fantasiado. Está entrando mais na brincadeira.
Em um espaço delimitado por uma cervejaria, que oferecia aos visitantes a possibilidade de se refrescarem em um ventilador gigante, o publicitário Miltinho Talaveira, 54 anos, exibia uma vistosa fantasia de sheik árabe.
— Faço (Carnaval em) todos os blocos. Hoje (sábado), irei até o fim da noite. Amanhã (domingo), faço tudo de novo — comentou Talaveira, ao som do sucesso K.O., de Pabllo Vittar ("Seu amor me pegou, cê bateu tão forte com o teu amor, nocauteou, me tonteou"...).
Fantasia improvisada
Os amigos Leonardo Dorneles (18 anos, estudante), Talita Rangel (23, professora) e Daniele Paz dos Santos (18, estudante), decidiram na sexta-feira (2) à noite que iriam pular Carnaval com os blocos da Cidade Baixa no dia seguinte. "Sem dinheiro e sem tempo" para montar trajes mais sofisticados, segundo Talita, o trio improvisou uma fantasia de Uber – cada um, exibia uma placa com uma categoria do aplicativo de transporte de passageiros.
— A gente decidiu que ia vir ontem (sexta-feira) — contou Talita, enquanto corria para acompanhar a partida do bloco Do Jeito que Tá, Vai, que se concentrou na Rua Comendador Batista e, no fim da tarde, partiu em direção ao Largo Zumbi dos Palmares. — Várias pessoas nos pararam e pediram para tirar fotos — afirmou.
Embora tenha sido o que provavelmente arrebatou menos seguidores, o Do Jeito que Tá, Vai foi o bloco mais animado da tarde deste sábado. Com puxadores e percussionistas — muitos deles, membros de escolas de samba da Capital — caminhando em maio aos foliões, a trupe manteve a animação dos seguidores intercalando um samba próprio ("Na Cidade Baixa, o partido é alto, de chinelo ou de salto, o negócio é sambar, a minha glória é ver o morro no asfalto, no meio dessa folia, que eu vou me acabar) com sambas-enredo clássicos, como É Hoje, também entoado pelo Maria do Bairro.
Superfantástico!
Criado há sete anos por um grupo de pernambucanos radicados em Porto Alegre, o Galo de Porto foi o bloco que provavelmente arrebanhou mais seguidores neste sábado. Alternando o frevo — importado da terra de seus fundadores — com clássicos de Tim Maia (Gostava Tanto de Você, Descobridor dos Sete Mares e Você e Eu, Eu e Você) e sucessos de Lulu Santos (SOS Solidão), Cidade Negra (Sombra da Maldade) e Los Hermanos (Ana Júlia), entre outros, o bloco arrastou milhares de pessoas ao som de um trio-elétrico, acompanhado por outros dois caminhões — um deles, uma espécie de carro abre-alas, e outro, que encerrava o desfile, estimulando os últimos foliões a seguirem pela Rua Lima e Silva.
Foi ao som do Galo de Porto a maior explosão de alegria da tarde, com hit infanto-juvenil Superfantástico, lançado em 1983 pela Turma do Balão Mágico (Super fantástico! No Balão Mágico! O mundo fica bem mais divertido!) e cantado a plenos pulmões por adultos e crianças que curtiam o Carnaval na Cidade Baixa.
Segurança em alta, mas poucos banheiros
Os foliões que participaram do Carnaval de rua da Cidade Baixa neste sábado encontraram muitos agentes da Brigada Militar pelo caminho. A cada esquina, pelo menos uma dupla de PMs atuava na segurança do local. Das 18h às 21h, a reportagem de ZH não presenciou nenhuma briga, agressão ou assalto.
Os comerciantes — estes, sim — marcaram presença em grande escala. Por todos os cantos, havia vendedores de tudo o que se pode imaginar e que tivesse alguma referência com Carnaval — de bebidas e comidas a adereços como perucas e chapéus. Um latão (473ml) de cerveja, por exemplo, era vendido, em média, por R$ 8, enquanto as latas normais (350ml) custavam R$ 5.
Para quem estivesse com fome, espetinhos de churrasco eram oferecidos por R$ 8. Foliões de última hora podia adquirir pacotes de confetes por R$ 8 (ou dois saquinhos por R$ 15). Sprays de espuma custavam a partir de R$ 12.
Como já registrado em anos anteriores, um dos grandes gargalos da infraestrutura colocada à disposição dos carnavalescos foi a escassez de sanitários. Durante a tarde e o começo da noite, toda vez que precisavam dos banheiros químicos, os foliões encontravam filas imensas.