Uma receita que atravessa gerações renovou as esperanças de um casal de policiais militares, de Porto Alegre, de possibilitarem uma vida com maior conforto para o filho de sete meses, vítima de uma asfixia na hora do parto que comprometeu o seu neurodesenvolvimento. Moradores do bairro Hípica, em Porto Alegre, os soldados Fábio Rauber, 36 anos, e Darele Brum, 35 anos, estão produzindo e vendendo cucas com a intenção de arrecadar R$ 30 mil. Com o dinheiro, comprarão uma cadeira especial, uma cadeira para banho e farão adaptações na casa para o príncipe Felipe, como chamam o único filho.
A produção teve início por acaso, quando a mãe de Fábio, a agricultora aposentada Mariselma Fátima Rauber, 60 anos, mudou-se do Paraná para Porto Alegre, para ajudar a cuidar do neto mais novo. Num domingo, a avó fez uma cuca recheada de doce de leite, em formato de flor, para ser degustada entre os parentes. Fábio, orgulhoso do trabalho da mãe, publicou numa rede social a foto da cuca pronta. Em poucos minutos, surgiram pedidos de compra do doce.
– Foi tudo por acaso. As pessoas começaram a pedir e a dar, inclusive, o preço. Vi nesta produção a chance de conseguirmos fazer um fundo que nos ajudará a comprar a cadeira. Fizemos 18 num único dia, e não paramos mais – conta.
Segundo Darele, os médicos apontaram surdez e deficiência visual no menino, sequelas do parto difícil – o bebê teve também uma parada cardiorespiratória logo ao nascer. Nos primeiros quatro meses de vida, ficou internado na UTI.
– Tive uma gravidez tranquila, só esperando pelo momento de ouvir o chorinho dele e de amamentá-lo em meus braços. Isso jamais ocorreu. Foi uma mudança radical nas nossas vidas, mas não vamos desistir do nosso menino. Queremos o melhor para ele, apesar de todas as dificuldades – diz a mãe.
O bebê só deixou o hospital depois que o casal conseguiu na Justiça o direito de ter uma homecare 24 horas para a criança viver em família – o convênio havia se negado a pagar pelo serviço. Hoje, Felipe recebe cuidados diários de uma equipe de enfermagem, tem fisioterapia três vezes por dia e fonoaudiologia, além da alimentação especial por sonda, a cada três horas. Desde que levaram o filho para casa, os pais têm se dividido entre os cuidados com o menino, o trabalho como PMs – a mãe trabalha de manhã, e o pai, à tarde – e a produção de cucas.
Dedicação e uma “ajuda divina”
Fábio e a mãe dele atuam diretamente na produção matinal das cucas. Entre 6h e 11h, amassam, sovam, recheiam e enformam as cucas e pães. Por volta das 13h, a primeira fornada fica pronta. O mesmo ocorre duas horas depois. A produção é embalada para ser entregue no dia seguinte.
– O único problema é que não tenho como entregar em toda a cidade. O que faço é ir entregando no caminho para o trabalho e no próprio trabalho, pois os colegas têm nos ajudado – comenta Fábio.
Mariselma emociona-se ao falar que a receita aprendida ainda na infância com os avós poderá ajudar o neto. Ela produz, inclusive, o próprio fermento, responsável por fazer as flores saltarem nas fôrmas. Na única vez que perdeu uma fornada inteira, recebeu uma ajuda que considera “divina”. Em sonho, ouviu sugestões da mãe e da avó, ambas já falecidas, para aprimorar a receita. Na manhã seguinte, decidiu acatar os pitacos. Nunca mais houve falha na produção.
– Sou mãe de quatro filhos e avó de quatro netos. Mas o Felipinho é nosso principezinho. Tudo o que puder fazer por ele, farei – resume.
Cada cuca tem 500g e é feita a partir de cinco bolinhas recheadas – a família trabalha com diferentes sabores, escolhidos na encomenda. Todos os dias, menos sábado, Mariselma alisa com esmero cada parte do pão, antes de ele ir para a fôrma. Depois de 40 minutos no forno, flores começam a surgir. O jardim de Felipe está garantido, mais uma vez.
PARA AJUDAR
- A família pretende comprar uma cadeira que se ajusta à medida que a criança vai crescendo. Ela tem acessórios para transporte do tubo de oxigênio, além de uma cadeira para banho.
- O dinheiro arrecadado também servirá para fazer adaptações na casa, para quando Felipe estiver na cadeira.
- Encomendas via WhatsApp: (51) 99955-5300
- Há, também, uma campanha na internet no site bit.ly/anjoguerreiro