O cervo capturado na Avenida Otto Niemeyer, na zona sul de Porto Alegre, na madrugada de quarta-feira (15), deve ser transferido na manhã desta sexta (17) para o Núcleo de Conservação e Reabilitação de Animais Silvestres (Preservas), do Hospital de Clínicas Veterinárias da UFRGS. O animal passará por exames e poderá ser submetido a cirurgia em razão de um ferimento na boca, permanecendo sob cuidados até estar apto a ser encaminhado ao Mantenedor de Fauna Silvestre São Braz, em Santa Maria.
— Vamos ter de avaliá-lo. É um animal extremamente estressável, que pode ir a óbito com a anestesia. Exige muito cuidado — afirma o coordenador do Preservas, professor Marcelo Meller Alievi.
Desde quarta-feira, o mamífero está no abrigo de animais da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), no bairro Lami. Isolado em uma baia, o cervo é medicado e demonstra bons sinais de saúde, sem problemas para se alimentar.
Segundo a médica veterinária Thais Michel, chefe do setor de fauna da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), a permanência do cervo na UFRGS dependerá das patologias que ele apresentar e da velocidade de sua recuperação.
— A lesão é bem feia. Temos que fazer uma boa limpeza para reconstruir a pele, que descolou da gengiva. A viagem a Santa Maria é longa, e esse tipo de animal não está acostumado a isso. Ainda vamos decidir a melhor forma de fazer o manejo — explica Thais, que examinou o animal na tarde de quinta, no abrigo da EPTC, no Lami.
Originário de países asiáticos como Índia, Sri Lanka, Nepal, Bangladesh e Butão, o cervo-axis é exótico na fauna brasileira. Como o animal não é arredio, chegando a aceitar alimento da mão de tratadores, suspeita-se que tenha sido criado em cativeiro.
— Ele é muito calmo. Está acostumado a comer ração no coxo e aceita a aproximação de humanos. Nada disso é característica de um cervídeo — avalia Thais.
Em razão da dificuldade de investigar o caso, a Sema aguarda receber alguma denúncia que indique como o mamífero foi parar na zona sul de Porto Alegre. Para a titular da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (Dema), Marina Goltz, não há crime configurado, em princípio.
— É possível fazer uma importação legal de um animal exótico, tanto que algumas pessoas têm em casa pítons, iguanas ou canários belgas. Se a secretaria identificar indícios de irregularidades, vai nos informar e iniciaremos o processo investigativo — afirma a delegada.
A chefe do setor de fauna da Sema pondera, no entanto, que uma portaria da secretaria de 2013 classifica o cervo-axis como parte de um grupo de "espécies que têm proibido seu transporte, criação, soltura ou translocação, cultivo, propagação (por qualquer forma de reprodução), comércio, doação ou aquisição intencional". Ele está na mesma categoria dos javalis.
O cervo foi avistado pela primeira vez na terça-feira, em uma propriedade à beira do Guaíba, no bairro Tristeza. Uma equipe das secretarias municipal e estadual de Meio Ambiente foi enviada ao local, mas o animal fugiu para o Clube dos Jangadeiros, onde se refugiou dentro de uma tubulação que dá acesso ao Guaíba e não foi mais localizado. Por volta das 2h30min de quarta, foi avistado na Otto Niemeyer e, desta vez, recolhido por agentes da EPTC.